Por Simão Zygband: A difícil tarefa de combater o racismo

Eu era funcionário comissionado da Prefeitura de São Paulo quando em 2003, a ex-prefeita Marta Suplicy, então no PT, disse que iria sugerir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, fosse transformado em feriado nacional. Lógico que ele concordou. E hoje se comemora a data.

O Dia da Consciência Negra já havia sido instituído em nível municipal por decreto da própria Marta, mas não existia em outras cidades. Em São Paulo era feriado, mas na Grande São Paulo, por exemplo, tudo funcionava normalmente.

Tenho grandes divergências com a ex-prefeita Marta Suplicy, hoje no MDB, que de alguma forma colaborou com a derrubada da ex-presidenta Dilma Rousseff, se aliando ao inominável Michel Temer, o articulador do golpe de Estado, que sedimentou o caminho para a eleição do extremista Jair Bolsonaro.

Mas é inegável a contribuição de Marta para a existência do Dia da Consciência Negra e também da Parada do Orgulho LGBT, sobretudo em São Paulo. Mas a maneira como ela traiu o voto dos petistas para se eleger senadora pelo Estado, ainda não está sendo fácil de digerir, mesmo ela já tendo anunciado recentemente apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lembro-me, no entanto, como foi difícil instituir o Dia da Consciência Negra nos seus primórdios. Os empresários, na sua maioria esmagadora brancos, não queriam de forma alguma liberar os seus funcionários para o feriado, torcendo o nariz por não considerarem a data relevante (ao menos para eles). Poucos concordaram em respeitá-lo. Até mesmo trabalhadores negros pareciam não concordar com sua instituição. Coisas do Brasil.

O racismo já se manifestava de maneira aberta contra assegurar o feriado e torná-lo realidade, a ponto de todos estarem de folga neste dia e não precisar trabalhar. Mesmo na capital paulista, onde ele já estava instituído por lei municipal, grande parte do comércio e serviços funcionou normalmente. Era comum ouvir pelas ruas a resistência à data. Qualquer um sabia o motivo de tamanha aversão, apesar disso nunca ser assumido abertamente. Muitas coisas no Brasil acontecem por debaixo dos panos.

Assim como a causa LGBT, que teve muitas lutas para se travar o combate à homofobia e se realizar a Parada do Orgulho LGBT (hoje ganha outras letras pela amplitude do movimento), até haver um dia da Consciência Negra de fato, foi necessário superar muitos obstáculos, a maior parte deles existente dentro das pessoas.

Mas, mesmo assim, depois de tantas lutas, empenho de tanta gente, parte da sociedade brasileira parece não ter aprendido a lição. Combate ao racismo, homofobia, misoginia, machismo etc, deve ser realizado todo dia. Não é das tarefas mais simples, pois está secularmente incrustrado nas ações cotidianas e nas almas das pessoas. É também exercício interno de cada um.

Mas, com a eleição do governo do fascista Bolsonaro, aparentemente estes conceitos, tão fundamentais para o convívio pacífico entre os brasileiros, foram jogados por terra. Será necessário eleger de novo  um presidente como Luiz Inácio Lula da Silva, para que se retome estas questões que foram pisoteadas pelo governo de extrema-direita do militar reformado. Um dos símbolos desta luta é remontar a Secretaria de Politicas de Promoção da Igualdade Social, extinta pelo atual governante.

Que esta triste passagem da história, que devemos fazer todo o esforço para suplantar em 2022, sirva de lição para aqueles que apostaram na extrema direita como caminho para o país. O princípio de todos estes valores é que o fascismo deve ser combatido todos os dias. Nele já estará incluída também a luta por todas as demais bandeiras.

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