“Lula tem uma capacidade enorme de conexão com a juventude”, diz Luna – a futura vereadora de SP

Foto: Elineudo Meira

História na militância

Primeiro quero agradecer está entrevista, é muito importante falar para o PT e os simpatizantes. Eu comecei minha trajetória na militância do movimento estudantil na escola, depois me somei ao movimento estudantil na universidade, e de lá para cá, a gente fez diversas batalhas e lutas em relação às pautas de educação. Eu me formei na USP em Ciências Sociais e ali, a gente teve no movimento estudantil, um grande papel na adoção de cotas raciais e sociais na universidade, que permitiu que os estudantes mais pobres oriundos das periferias pudessem também acessar uma universidade pública e ela pudesse, de fato, ser pública.

Esse tipo de discussão e demanda, como tantas outras que o movimento estudantil trouxe, foram me formando politicamente, mas eu sempre tive muita referência no Partido dos Trabalhadores. Expor, entender a história do PT, um partido que vem de baixo, vem das lutas sociais de diversos setores da sociedade e que a história do PT, se confunde com a história do Brasil na resistência, na luta contra a desigualdade. Então, desde a minha graduação, eu era filiada ao PT.

Eu me filiei há 10 anos, por mais que eu seja jovem, minha filiação já é de algum tempo. Eu tive muito essa (questão de) consciência política, tanto pela minha filiação: o movimento estudantil, mas também porque eu tinha dentro da minha casa, aliás pelo meu avó, que lutou muito contra a ditadura militar, foi um combatente torturado, exilado político, fez parte da história do PT: o Ricardo Zarattini. É algo que eu orgulho muito de fazer parte de uma pessoa que me ensinou muita coisa.

 

O Golpe e a Eleição de Jair Bolsonaro

A partir dessa (minha) trajetória no movimento estudantil, entendi que não adianta ficar, apenas nos muros das universidades, que é preciso fazer uma luta mais ampla, ainda mais que tivemos um retrocesso gigantesco, que foi o golpe em 2016. O fruto do golpe foi a eleição do Jair Bolsonaro. Uma derrota para todos, muito porque houve a prisão do nosso agora presidente Lula. Agora a gente começou a mobilizar também a construção de cursinhos populares na periferia, criamos a rede de cursinhos populares Elsa Soares, que tem estudantes de escolas públicas, de periferia, estudantes pretos, pretas, que estão buscando, não só a entrada no vestibular, mas também essa transformação social.

A gente costuma falar que quando se coloca um jovem periférico dentro da universidade, não é só esse jovem que muda. Não é só a vida desse jovem, é a vida da sociedade inteira, porque ele vai estar no mercado de trabalho, em espaços de poder de diálogo, que vão também seguir esta transformação. Foi muito por conta desse movimento, de consegui entender que a luta política, de periferia, se dá nas universidades, nas escolas, na cultura, no movimento de mulheres, de combate ao racismo, das pautas LGBTQIa+, ambientalistas, em fim, que a cidade está conectada.

Candidatura, posse e transição parlamentar

Foi muito por essa construção que a gente foi tendo ao longo do tempo que a gente chegou a ideia de que era possível ocupar os espaços de poder. Se a gente quer mudar a política, a gente precisa entrar na política. Foi neste sentido que a gente tomou uma decisão de ter uma candidatura em 2020 e eu fui representante dessa candidatura. Tivemos uma votação muito expressiva, principalmente na periferia.

Dos quase 18 mil votos que eu tive na eleição de 2020, a grande maioria foi oriunda da periferia, de movimentos sociais, de pessoas que estavam indignadas com uma São Paulo muito desigual. A gente teve uma votação muito boa, fui a segunda mulher mais votada do PT, depois da Juliana Cardoso, que é uma companheira muito de luta, que agora estará na Câmara Federal representando as mulheres. Eu fui uma das parlamentares mais jovens a ser eleita, e agora, depois de dois anos, tivemos essa transição de vereadores que foram eleitos para deputado estadual e federal e agora vão assumi em 2023.

 Diálogo e representação periférica

As pessoas têm uma visão muito errada, como se as periferias estivessem paradas. Na verdade, as periferias têm muito movimento cultural, têm muita ação e sujeitos políticos que estão atuando diariamente, mas o que acontece é que as esquerdas e os partidos progressistas têm que, de fato, articular e estar presente nestas lutas. O nosso coletivo foi se somando nessas lutas, seja por moradia, educação, seja por uma UBS, por médicos nos bairros por questões de infraestrutura. Essa relação de tornar as pessoas parte da política é uma questão, que não só a militância política tem que fazer, mas quem de fato nos representa.

Um dos papéis de quem está nos representando é fazer com que a política chegue às pessoas, não esperar que as pessoas cheguem à política. Acho que uma parte (do motivo que me levou a eleição) foi por conta dos cursinhos, outra por esse envolvimento nas lutas sociais, nos movimentos populares, que a gente foi somando como verdadeiras pessoas que estão fazendo essas lutas. Então, sinto-me não apenas representante, sinto-me parte de um coletivo de pessoas; são lutadores que têm essa trajetória de se indignar com as coisas que estão acontecendo. É neste sentido que a gente ocupa esse espaço na Câmara, que não é só um espaço de produção de leis de fiscalização, é também um espaço de debater a cidade, os problemas do povo que sofreu muito desde o golpe, com o governo Bolsonaro, com a fome, o desemprego, a miséria. Neste sentido, que gente precisa articular essas lutas com o poder público, é assim que eu pretendo fazer uma representação participativa.

Atuação coletiva

Atualmente eu morro na região central, mas nosso coletivo está espalhado por todos os lugares, desde o extremo da zona sul, até o extremo da zona norte, da zona leste, zona oeste que tem várias comunidades. A gente está presente no Grajaú, Parelheiros, Brasilândia, São Mateus, Rio Pequeno, em fim, uma série de lugares onde a gente está organizando luta popular. Luta de massas mesmo.

Início na política

Quando entrei (na política), entrei participando de algumas coisas, e uma coisa engraçada é que a minha primeira eleição não foi em 2020, minha primeira eleição foi no Conselho Participativo Municipal da cidade de São Paulo, que foi uma política pública implementada pelo governo Haddad, em 2013.  Foi muito interessante, uma experiência que articulava o poder público com as subprefeituras e na verdade com a sociedade civil, na verdade foi um trabalho voluntário, mas que a gente tinha que ser eleito, foi uma eleição mesmo, teve até uma urna eletrônica, eu tive essa experiência como uma militante do PT.

Na juventude do PT, participei muito da juventude municipal, depois eu participei do diretório estadual, hoje sou membra do diretório nacional. Pude acompanhar uma série de discussões a nível nacional e estadual, acho que participar do PT foi algo, que com certeza, tornou minha militância muito mais qualitativa, muito mais conectada com a realidade, porque o PT tem essa relação muito forte com a base, com uma história de resistência. Neste sentido, eu fui participando dessas instâncias do PT.

Na verdade é isso, eu não comecei agora, mas a questão de ser vereadora não é algo que foi planejado, desde o início, eu acho que a gente acaba aceitando os desafios que vão surgindo. Acho que é muito importante ter uma renovação política na Câmara dos Vereadores, a gente sabe o quanto é fundamental que mais mulheres e jovens participem da política, e como que a gente pode fazer isso, é também se colocando, dando a cara tapa. Este processo foi muito mais de entender o quanto era necessário também ocupar para a gente poder transformar e ter mais figuras nos espaços de poder.

Desafios para cidade de São Paulo

A gente está numa prefeitura que é representada por um cara da direta, que é o Ricardo Nunes (MDB) e que vem tendo diversas questões, primeiro de má gestão. Não consegue organizar os recursos da cidade, não tem grandes projetos, não resolve as demandas da população, é uma cidade, uma São Paulo abandonada. E a gente vai ter outro desafio, que é enfrentar um governo de São Paulo na mão do Tarcísio Freitas (Republicanos), em contra posição, a gente vai ter o governo Lula, que será fundamental para avançarmos nas nossas lutas.

Eu sinto que acidade de São Paulo é extremamente desigual, porque recursos tem, tem infraestrutura, é a maior cidade da América Latina. O que falta é a gente entender que o problema central, não é a modernização, é o combate à desigualdade. Neste sentido, do guarda chuva da desigualdade, a gente vai ter uma série de questões que precisam ser tratadas: a questão da moradia, situação de rua, da saúde, dos direitos humanos, das pautas das mulheres, da luta antirracista, do meio ambiente. São várias pautas que são transversais na questão das desigualdades sociais, não tem como a gente encarar os problemas, se a gente não colocar no centro essas questões.

Aqui em São Paulo as pessoas tiveram que escolher na pandemia, se elas pagavam aluguel ou se comiam, e eram famílias de trabalhadores indo para as ruas porque não tinham como pagar o aluguel. Não tem como não considerar essas questões.

O resultado dessas eleições foi muito positivo para a esquerda. Se você acompanhar desde 2018, como isso foi apresentado nos resultados da eleição para prefeito, governador e tudo mais, a gente vai vendo que a cidade de São Paulo e as periferias têm um comportamento de negar políticos à direita e extrema direita, Bolsonaro perdeu na cidade de São Paulo e o Tarcísio também, em outros cenários, Dória perdeu para Márcio França na capital. Então, significa que existe uma visão crítica dos moradores da cidade de São Paulo. Isso abre um leque grande para construir a resistência e a mobilização popular.

Uma coisa que eu aprendi com o movimento de moradia é que governo funciona que nem panela de pressão: tem que botar fogo, tem que produzir uma mobilização muito grande para a gente consegui produzir essas pautas, o resultado que a gente tem muitas pessoas dispostas. Agora o que vamos construir com esse resultado? É esse desafio: como aproximar as pessoas para o campo da esquerda? Como ocupar os espaços participativos da cidade? Como buscar o projeto de cidade que queremos? Está tendo revisão do Plano Diretor, debate de orçamento na Câmara (Municipal de SP).

Vamos enfrentar daqui dois anos uma nova eleição na cidade, existiu uma mudança muito grande dos atores políticos nestes últimos 4 anos. Nomes surgindo à extrema direita também se fortaleceram no Senado, na Câmara dos Deputados. Vamos precisar fazer esse embate para que a Câmara dos Vereadores esteja ao lado do povo e das pautas do povo, mas mais do que isso, que a gente consiga fazer essa grande mobilização social para garantir que a gente vença nos projetos contra as desigualdades em um país mais justo, mais igual. Esses são grandes desafios.

Redes sociais

Acho que uma coisa que a gente subestimou muito foram as redes sociais. Na campanha de 2020, a gente enfrentou um desafio muito grande que foi a pandemia. Nós iniciamos a campanha, veio à pandemia, com isso, precisamos muito inovar na ocupação das redes sociais neste período. A gente participou de lives, chamamos artistas para estarem junto. Fizemos uma campanha de solidariedade para arrecadar alimentos, materiais de higiene. Chamamos os artistas para se somarem, isso foi muito importante também pra essa vitória de agora, para eu assumir essa vereança, mas é algo que ficou. Algo que temos que observar, e que a gente viu que a extrema direita tem feito um trabalho nas redes sociais, principalmente no Whats App.

Acho que esse é um desafio grande: consegui articular as ruas com as redes. As redes sociais é um espaço que não é só virtual, é um espaço que as pessoas também acabam debatendo política, a vida delas, e isso é importante para a gente debater na política, nos próximos momentos. De alguma forma, sou atuante nas redes sociais, já tive um canal de YouTube chamava Chutando a Porta. Nele, a gente chegava e chutava a porta, a Juventude tem essa questão, os espaços não são dados, são conquistados, é um canal que a gente discutia política. Essa questão do reels, do tik tok, de ocupação dessas redes, eu acho que é fundamental.

Expectativa do governo Lula

Foi muito aliviante, a vitória do Lula é algo que foi fruto de muita luta. É a primeira vez que eu votei e pude votar no Lula, é uma emoção muito grande. É primeira vez que votei no Lula, espero votar mais vezes. Lula significa muito para os jovens também. Ele tem uma capacidade enorme de conexão com a juventude, ele abre a capacidade da juventude poder sonhar.

Vivemos tantos retrocessos, tantas retiradas de direitos, tantos ataques à população mais pobre, às minorias políticas, foram tantos sucessivos ataques. Houve uma desesperança muito grande, a palavra esperança apareceu muitas vezes na campanha e não é à toa, porque a gente viveu um governo autoritário, fascista. Um governo contra a população mais pobre, de extrema direita, que colocou o Brasil no mapa da fome, matou milhões de brasileiros na pandemia, tirou o Brasil da circulação nacional.

Então, acho que hoje o Lula é um resumo de esperança, de podermos reconstruir o Brasil. Acho que é uma questão de reconstrução novamente, de tomarmos o rumo novamente do nosso país, na questão do crescimento econômico, do combate às desigualdades, colocar o Brasil de novo na potência que era e que vamos reconstruir. O sonho precisa de algo real pra existir, então eu acho que o Lula abre as portas pra gente poder reconstruir o Brasil.

Bolsonaro e movimentos golpistas

O Bolsonaro trabalha muito na despolitização e descrédito da política, ele se coloca como um ator que não é político, como alguém que está fora do sistema político, como alguém que está sendo perseguido, alguém que está tentando mudar as coisas e está sendo eternamente transparente. Ele construiu essa imagem de uma pessoa fora da política. Quando ele trabalha com isso, ele também estimula, mais ainda, o descrédito da política, eu acho que as pessoas tiveram um processo de desacreditar na política.

A política tem muito a ver com a realização de projetos e programas, propostas e políticas públicas, mas também tem muito a ver com mexer com corações e mentes. É a gente mexer com as pessoas, e elas entenderem que fazem parte daquilo, que a política pode mudar a vida das pessoas. Então, eu acho que o Bolsonaro trabalhou neste descrédito e despolitização, nesta anti-política. Agora a gente vai precisar mostrar, que o que ele fez, foi política, mas uma política que tinha um lado, que é o lado da antipolítica, e não o lado dos mais pobres. Se a conseguirmos mostrar para as pessoas que elas podem fazer parte da política, e que ela é um caminho de transformação. Aí eu acho, que conseguimos reverter essa situação, porque o Bolsonaro é essa imagem, e ele conquistou as pessoas assim, então esse movimento que está acontecendo agora.

Esses últimos atos, dos caminhoneiros, nada tem de espontâneo, de populares, foi algo combinado, articulado pelo Bolsonaro numa tentativa de desestabilizar o governo desde as pautas mobilizadoras do questionamento das urnas eletrônicas, da relação obscura com as forças armadas, das questões de costume, das pautas liberais que ele tem, todas essas pautas são mobilizadoras. Ele mobilizou as pessoas afirmando também como anti-política, eu acho que isso é uma barreira que precisamos quebrar, vamos ter que voltar a dialogar com essas pessoas. O pior erro é botarmos essas pessoas numa caixinha, como se elas pensassem iguais e não conseguissem sair desse discurso que o Bolsonaro implantou. Esse debate das fake news não é algo que é novo, é algo que ele vem construindo há muito tempo, é algo que precisa ser combatido no diálogo, na mobilização, em trazer as pessoas para esses espaços. Acho que realmente vamos precisar reconquistar as pessoas na política.

Diane Costa da Redação do PT São Paulo

Fotos e vídeos: Elineudo Meira 

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