Dois anos após tragédia, Jardim Pantanal ainda aguarda casas novas

Próximo da várzea do rio Tietê, o bairro cresceu durante anos de forma irregular, sem fiscalização, numa área considerada de alto risco. Após as enchentes de 2010, a prefeitura construiu um dique para evitar novas inundações. Em vão. Um ano depois, bastou as chuvas voltarem para o filme se repetir.

Por Marcelo Pellegrini – Carta Capital
Sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

 Com enchentes que elevaram o nível das águas a quase um metro, o Jardim Pantanal, na zona leste de São Paulo, frequentou as páginas do noticiário nacional durante a estação chuvosa do início de 2010. As imagens eram impactantes: casas, carros e eletrodomésticos destruídos, famílias fugindo às pressas, e crianças tentando atravessar as ruas com água até o pescoço. Saturado, o sistema de esgoto espalhou sujeira, mau cheiro, animais peçonhentos e doenças durante mais de trinta dias em que duraram as enchentes sem que a água cedesse.

Próximo da várzea do rio Tietê, o bairro cresceu durante anos de forma irregular, sem fiscalização, numa área considerada de alto risco. Após as enchentes de 2010, a prefeitura construiu um dique para evitar novas inundações. Em vão. Um ano depois, bastou as chuvas voltarem para o filme se repetir.

Agora, passados dois anos, a apreensão continua: boa parte das famílias do Jardim Pantanal ainda vive em situação de risco.

Segundo a prefeitura paulistana, 10 mil famílias da região estão cadastradas numa fila para receber uma moradia popular em área segura. Metade delas ainda vive no Jardim Pantanal e a maioria não tem prazo para ser realocada. Outras 2.500 foram temporariamente levadas para outros imóveis e recebem um auxílio moradia de 300 reais por mês.

Para tentar resolver de vez o problema das ocupações em áreas de risco, a prefeitura desapropriou, desde janeiro passado, oito áreas destinadas à construção de 3.250 unidades habitacionais que atenderão as famílias em situações mais urgentes.

No entanto, os primeiros apartamentos serão entregues apenas no final deste ano, segundo nota da Secretaria de Habitação (Sehab) da Prefeitura de São Paulo. Se tudo der certo, antes das chuvas de verão de 2013.

Azar de uns…

Como as águas não fazem distinções nessa época do ano, muita gente fora do Jardim Pantanal também sentiu os efeitos das chuvas naquele verão de 2010.

No apartamento do desembargador aposentado Celso Luiz Limonge, por exemplo, no bairro do Campo Belo, na zona Sul da capital paulista, uma violenta tempestade inundou os cômodos e apodreceu até os guarda-roupas de dois dormitórios.

Para consertar os danos em sua cobertura, ele pediu o pagamento adiantado de 150 mil reais do Tribunal de Justiça de São Paulo, corte já presidida por ele entre 2006 e 2007. Com o valor liberado, seis casas populares poderiam ser construídas – ou 500 meses de benefício para uma das famílias atingidas.

A revelação foi feita nesta semana pelo jornal O Estado de S.Paulo, e acontece em meio às suspeitas de pagamentos irregulares para magistrados paulistas – exatamente os que mais se rebelam contra as atribuições do Conselho Nacional de Justiça, órgão de fiscalização do Judiciário.

Ao menos em São Paulo, a Justiça só não tarda nem falha quando o requerente veste toga.

 

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