Uma verdade inconveniente, por Charles Gentil

Na Etiópia, em Adis Abeba, durante reunião da cúpula da União Africana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou uma verdade inconveniente: associou as ações militares do Estado de Israel, na Faixa de Gaza, com o Holocausto nazista que exterminou judeus e minorias, na Segunda Guerra Mundial.

A reação de Benjamin Netanyahu, não poderia ter sido outra: fez teatro vergonhoso, infame e sensacionalista ao mostrar-se “indignado” com a justa comparação.

Mas, o premiê Benjamim Netanyahu, aliás, político de extrema direita(é bom lembrar) foi ainda além e ultrapassou a linha vermelha do bom senso ao declarar Lula, persona non grata.

Realmente, Netanyahu não suportou a verdade e ao ver-se pela comparação: desnudado, observado e exposto ao mundo, reagiu prontamente e inflamado buscou atacar Lula para,com isso, criar uma cortina de fumaça e ocultar a imagem terrível, que aquela verdade inconveniente trouxera à tona.

O fato é que: apesar de buscar teatralizar e mostrar-se indignado Benjamin Netanyahu é um carniceiro feroz, que de forma impiedosa e covarde é responsável pelo bombardeio de alvos civis como, por exemplo, hospitais e mandante do assassinato de mulheres e crianças indefesas, a pretexto de combater terroristas.

Talvez, o próprio premiê Netanyahu tenha procurado se iludir de que comete o crime humanitário em nome do combate a terroristas, mas ao ver o genocídio que patrocina contra os palestinos comparado ao genocídio dos judeus, o mal-estar advém do fato de compreender que: não é mais possível encobrir à comunidade internacional, que se executa uma verdadeira atrocidade contra os palestinos

O desespero de Netanyahu eclode pela vergonha de ver-se exposto tal qual é: um homem cruel, um tirano implacável, que não consegue mais ocultar do mundo, sua vontade de sangue valendo-se da máscara das boas intenções, a saber: defender Israel.

Ocorre que: a verdade inconveniente dita por Lula revela que mais de 120 dias de guerra; mais de 28,8 mil palestinos,incluindo,civis: mulheres e crianças mortos; ataque a alvos civis(hospitais) são dados que, em si, desnudam que na Faixa de Gaza, há,sim, um novo holocausto em curso. De modo que, negar isto é contraditório, porque quem como Netanyahu diz repudiar o genocídio dos judeus jamais deveria patrocinar o genocídio de um outro povo. Isto sim é banalizar o holocausto; banalizar a industrialização da morte; banalizar a selvageria, a pretexto de fazer-se um suposto bem coletivo maior.

Assim, para Netanyahu torna-se insuportável ver cair a máscara da farsa com que buscou iludir a si mesmo e aos demais. Então, surge o mal-estar e, em seguida, a vergonha da cínica indignação de Netanyahu.

Lembro de uma frase de um filósofo alemão, Friedrich Nietzsche: “a verdadeira questão é: quanta verdade consigo suportar”. Netanyahu não conseguiu suportar a verdade inconveniente de que ele é um criminoso de guerra.

Aliás, o filme Monsieur Verdoux, de Charles Chaplin traz em relação a guerra uma reflexão importante e poderosa: por que um homem que tira a vida de outro é considerado assassino e um governante que elimina inúmeros homens é tido por herói?

Mais uma vez,aqui,a comparação feita por Lula torna incômoda a verdade,pois,intimamente faz com que,inclusive,o opressor responda a questão embaraçosa que carrega consigo e, com isso, tome consciência de que buscando crer-se herói, Netanyahu, viu-se tal qual é: um criminoso de guerra.

Esta verdade insuportável, esta verdade inconveniente capaz de abalar convicções arraigadas e desconstruir a autoimagem confortável que um tirano quer ter de si mesmo e fazer crer que se tenha dele(porque mesmo um tirano quer se iludir que é amado até mesmo quando é temido), e é, justamente, esta verdade inconveniente que poderá, de fato, cooperar pelo cessar-fogo e pela paz, porque tem a profundidade psicológica de sugerir que cada um se pergunte a si mesmo: afinal, no fundo, sou um criminoso declarado, um omisso assassino ou um verdadeiro defensor da paz?

A repercussão com a comparação estabelecida por Lula tem menos haver com o que Lula disse, mas mais como cada um julga a si mesmo, a partir do que foi dito. E aí está a verdade inconveniente que expõe, para si mesmo e para o mundo, este ou aquele, tal qual é.

Há verdades insuportáveis

Há verdades inconvenientes

Há um novo holocausto: na Faixa de Gaza

 

*Este artigo é responsabilidade exclusiva do autor 

Por Charles gentil

Presidente do Diretório Zonal PT do Centro

 

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