Há 20 anos, um grupo de mulheres lésbicas e bissexuais ocupavam as ruas pela
primeira vez em São Paulo para produzir visibilidade social e política às mulheres
lésbicas e bissexuais, protestar por seus direitos específicos, demarcar suas pautas e
celebrar o amor entre mulheres. A I Caminhada foi organizada pelos grupos Umas &
Outras, e o Mo.Le.CA – movimento lésbico de Campinas em articulação com a
organização do V SENALE, Seminário Nacional de Lésbicas (atualmente SENALESBI –
para incluir as mulheres bissexuais) que naquele ano ocorreu em São Paulo.
A continuidade ininterrupta da organização da Caminhada, que esse ano chega em sua
21º edição e ocorre sempre no sábado anterior à Parada do Orgulho LGBT, mostra
também a permanência dessa disposição de auto-organização do movimento de
lésbicas e bissexuais em ocupar as ruas com uma Manifestação por visibilidade e
direitos.
Apesar de alguns dos avanços obtidos em direitos pela população LGBTQIA+, mulheres
lésbicas e bissexuais não têm políticas que atendam suas necessidades em saúde,
programas de inserção no mercado de trabalho ou ainda, de combate à violência. Os
últimos anos foram ainda mais difíceis por conta da pandemia e do profundo retrocesso
em direitos sociais para nós, mulheres lésbicas e bissexuais, cis e trans. Perdemos
nossos empregos, muitas de nós voltamos para as casas de nossos familiares, muitas
das vezes lares que nos expulsaram ou marcaram nossas existências com a não
aceitação em razão da nossa sexualidade ou identidade de gênero.
A XXI Caminhada será na Avenida Paulista, no Masp, a partir das 15 horas, onde
ocorrerá a concentração do ato e sua saída está prevista para as 16 horas. A caminhada
seguirá até o final da Rua Augusta com a Rua João Guimarães Rosa, onde será
realizado o ato de encerramento. Na ocasião, será lido o Manifesto da XXI Caminhada
de Mulheres Lésbicas e Bissexuais, Cis e Trans, de São Paulo (ver abaixo).
Manifesto da XXI Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais, Cis e Trans, de
São Paulo
20 ANOS NAS RUAS COM ORGULHO, RESISTÊNCIA E LUTAS POR DIREITOS
No dia 10 de junho de 2023, a XXI Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de
São Paulo completa 20 anos nas Ruas e nas Lutas, com Orgulho da nossa Resistência
e por Direitos! A caminhada surgiu em 2003, a partir da realização do V SENALE –
Seminário Nacional de Lésbicas, (posteriormente SENALESBI – para incluir as mulheres
bissexuais na sigla), que naquele ano ocorreu em São Paulo para dar voz aos nossos
corpos lésbicos e bissexuais tão marcados pela invisibilidade.
Como parte do caminho trilhado nestes 20 anos, queremos referenciar a nossa história
e dar visibilidade as que construíram e vieram antes de nós, a I Caminhada foi
organizada pelos grupos Umas & Outras, e o Mo.Le.CA – movimento lésbico de
Campinas em articulação com organizações e ativistas de todo país que participaram
do V SENALE, sendo a caminhada de São Paulo, a primeira do gênero no Brasil.
Nestes 20 anos, ininterruptamente ocupamos as ruas para lutar por dignidade, saúde,
educação, emprego, moradia, visibilidade e, em especial, pelo direito à existência, mas
também para denunciar as violências de gênero, étnicas e raciais que vivenciamos,
incluindo a violência intrafamiliar, doméstica e de outras pessoas LGBTQIA+ que muitas
vezes resulta na invisibilidade de nossas vozes.
Ocupar as ruas é posicionar-se para afirmar e reafirmar nossa luta contra um sistema
de opressões, capitalista, patriarcal, racista, lesbofóbico, bifóbico e transfóbico que
reproduz e reforça as desigualdades de gênero, raça, etnia e classe na sociedade.
Ocupar as ruas é existir, é resistir. Por isso, ocupamos as ruas para produzir o bom
debate, mas também o bom combate, para lutar por melhores condições de vida e de
trabalho, pelo direito de sermos reconhecidas, ouvidas, respeitadas e contra toda e
qualquer invisibilidade: nós não nos calaremos.
Nestes 20 anos, é necessário ainda lutar pelo direito ao amor e aos desejos, é
necessário lutar contra o abandono das mulheres lésbicas e bissexuais, negras, trans e
gordas que tem sistematicamente negado o direito às relações e aos afetos.
Nossa caminhada tem história, e por ela resistimos e referenciamos as memórias de
tantas companheiras, que caminharam largos passos para conquistar espaços, direitos
e é pela memória das que já se foram, é pela memória das Roselys, Vanges, Lurdinhas,
Marylucias, Marielles, Luanas, Anas, Gercianes, Klaus, Virgínias e tantas outras que
ficaram pelo caminho vitimadas pela violência, exclusão, lesbofobia, bifobia, transfobia
e o racismo, por isso que estamos nas ruas mais uma vez para afirmar nossas lutas e
gritar que nossa memória jamais será apagada!
Estamos nas ruas nomeando a cada uma de nós, lésbicas e bissexuais, somos muitas
e diversas, somos pretas, indígenas, de quebrada, do centro, trabalhadoras periféricas,
estudantes e não nos cabe mais o medo, não nos cabe a vergonha. Ocupamos as ruas
por entender, que a rua é revolucionária, que só a luta coletiva muda as estruturas
violentas, ocuparemos as ruas com alegria e afeto, e não daremos um passo atrás, por
orgulho da nossa existência.
Companheiras, os últimos anos não foram fáceis, vivemos um governo de retrocessos
profundos aos direitos humanos e a democracia, e da promoção da política do ódio,
vivemos uma pandemia, entramos em uma recessão econômica grave que
potencializou o aumento sistêmico da violência, mas apesar de tudo, sobrevivemos,
mas apesar deles, vencemos!
Viva as mulheres lésbicas e bissexuais, cis e trans! Seguiremos em marcha e na luta!
Organizativa da XXI Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo, 2023!
Por Comunicação XXI Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo, 2023