Por Roberto Casseb
Imagens dramáticas da desfiguração do estádio do Pacaembu. Confira vídeo da convocatória do ato contra privatização. Manifestação ocorrerá no dia 29 de janeiro, em frente ao estádio, na Praça Charles Miller
O Estádio Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Pacaembu, foi inaugurado em 27 de abril de 1940. Sua construção em Estilo Art Déco o colocou, na época, como o Estádio mais moderno da América do Sul. Além do campo, tinha um complexo esportivo com piscina, quadra de Tênis e Ginásio Poliesportivo aberto gratuitamente ao público. O que teoricamente acontece até hoje. Pertencia à Prefeitura e era gerido pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer. Embaixo das arquibancadas havia um conjunto de alojamentos para atletas que vinham competir em São Paulo. Hoje é um equipamento privatizado comprado pela bagatela de R$ 111 milhões (o setor imobiliário avalia que esse valor representa 20 % do que deveria ser vendido).
Foi um dos palcos da Copa do Mundo de 1950 e abrigou milhares de jogos de todas as equipes do país. O Corinthians jogou cerca de 1700 partidas e o Palmeiras conquistou 26 títulos em seu gramado. Por lá desfilaram craques conhecidos mundialmente como Pelé, Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha, Ivair e tantos outros.
Em 1970 o Prefeito Paulo Salim Maluf construiu o Tobogã para aumentar a Capacidade para um público de 39 mil pessoas. No lugar havia a Concha Acústica.
Desde 1994 a privatização do Pacaembu circulava no noticiário. A Federação Paulista de Futebol, na gestão de José Farah, queria arrendá-lo e o Corinthians também tentou esse caminho antes da construção de sua Arena.
Entretanto, esse patrimônio artístico e histórico da cidade e do país teve sua privatização concretizada em setembro de 2019 pelo então prefeito Bruno Covas. Foi uma agressão à história da maior capital do País, ao Futebol e a tudo que representou para todas as gerações que ali acompanharam partidas e lances históricos. A Associação Viva Pacaembu entrou com um pedido de anulação da venda no MP, mas não obteve sucesso. Vale lembrar que o terreno do complexo era do Estado e a construção da Prefeitura. Somente uma ação conjunta do governador João Doria e do prefeito Bruno Covas permitiu essa privatização.
Apesar de todos os grandes clubes de São Paulo terem suas arenas, o Pacaembu estava sediando dezenas de partidas do Futebol Feminino e abrigaria no próximo dia 25 de janeiro a Final da Copinha (Copa São Paulo de Futebol Júnior), em sua 52ª edição.
O desmonte começou pelo Tobogã que terá em seu lugar um prédio de escritórios. No projeto prevê-se a construção de shopping e outros acessórios distantes das tradições de um espaço esportivo que encantou gerações.
O vencedor e novo gestor do Pacaembu é o “Consórcio Patrimônio SP”, responsável por essa descaracterização e agressão autorizada em nome do “moderno e do futuro”. E o que parecia ruim e triste ficou muito pior. Os vândalos privatistas destruíram o gramado e asfaltaram o espaço mais simbólico do esporte mais popular e paixão dos brasileiros.
Considero o asfalto no campo de ídolos da história do Futebol como um crime inafiançável. Pior do que o asfalto colocado no Vale do Anhangabaú. Foi uma provocação que precisa de resposta imediata. As principais torcidas precisam se unir e organizar uma grande manifestação na Praça Charles Muller com o tema “O Pacaembu é Nosso” e forçar um debate e ações que impeçam o desmonte de um dos principais símbolos do Futebol Brasileiro.
A Pandemia não permitiu que acontecesse uma reação organizada da população em apoio ao Viva Pacaembu e contra a autorização do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico) que permitiu essas alterações.
Essa politica de privatizar espaços históricos é um crime contra a memória da cidade e do povo que nela vive. A tática é sempre a mesma. O Estado abandona e deixa a destruição acontecer dia a dia até o momento que a única “salvação” é privatizar. Típico dos governos liberais que privilegiam o capital em detrimento da maioria do povo. É o enfraquecimento do Estado.
Lutar pelo Pacaembu pode significar o início da resistência contra outras privatizações que estão a caminho como é o caso do Conjunto Constâncio Vaz Guimarães, o Ginásio do Ibirapuera . É o momento de politizar esse debate e transformar o “O Pacaembu é Nosso” como trincheira de luta.
Roberto Casseb é jornalista, palmeirense e Coordenador Estadual do Setorial de Esporte e Lazer do Partido dos Trabalhadores (PT). Foi Coordenador do Programa de Governo de Marta Suplicy e Fernando Haddad na temática Esporte e Lazer.