Artigo: Por que o mercado não gosta do Lula? Por Emir Sader

Foto: Ricardo Stuckert

O apoio que o Bolsonaro mantinha se baseava, sobretudo, nos evangélicos e nos empresários. Nos evangélicos essa vantagem está neutralizada, talvez porque os evangélicos também comem, ou o Lula até mesmo tem alguma vantagem.

O apoio fundamental ao Bolsonaro se reduz ao apoio dos empresários. Esse apoio subiu de 37% de apoio em 27/4/2020 para 49% em 8/7/21. No período em que a deterioração do apoio ao Bolsonaro diminuiu de 33% para 24%.

Isto é, enquanto na sociedade o apoio ao Bolsonaro caia, no empresariado aumentava. O que demonstra não apenas o descompasso, mas sobretudo a distancia entre os interesses e a visão do empresariado em relação à sociedade brasileira.

Ao mesmo tempo, o chamado “mercado” se manifesta contra o Lula. Prefere o Bolsonaro ao Lula. Se manifesta contra as medidas que o Lula já anuncia que vai tomar.

Mas quem é esse “mercado”?  Quem é o empresariado brasileiro, que não gosta do Lula e que é quem está expresso no “mercado”.

A economia brasileira mudou muito, desde a adesão das elites dominantes ao neoliberalismo, coaram o Collor e com o FHC. O eixo da economia se deslocou das grandes corporações industriais, comerciais e financeiras para o setor financeiro privado. Um setor que não está diretamente associado à produção e à geração de empregos, mas à especulação financeira, onde ganha muito mais do que no investimento produtivo.

Por isso os bancos privados passaram a estar no centro da economia. Quando se fala do mercado e do empresariado, a referência é centralmente a eles.

Por que eles não gostam do Lula? O próprio Lula diz que eles ganharam muito no seu governo, porque a economia cresceu como nunca.

Porém a economia cresceu centralmente baseada no crescimento dos investimentos produtivos, na ampliação do mercado interno de consumo popular, na geração de empregos formais e na diminuição das desigualdades (sociais e regionais).

Não é esse modelo o que interessa ao capital financeiro. Os bancos privados tiveram que conviver com o Lula, embora a contragosto. E, quando puderam, sabotaram abertamente esse modelo.

Mas, principalmente, no governo Lula, a novidade não era o lucro dos capitais privados, mas a melhoria substancial da situação das classes populares. Com a geração de mais de 20 milhões de empregos formais, com o aumento do salário mínimo 70% acima da inflação, com a extensão social e regional enorme do sistema educacional e o fortalecimento do sistema publico de saúde, entre outras expansões dos direitos da massa da população.

Nos governos dos últimos 5 anos, depois da ruptura da democracia, o capital financeiro goza das melhores condições para ele. Não há mais um modelo econômico que promove o investimento produtivo, nem gera empregos formais e distribuição de renda.

Publicado no DCM

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