O mês de julho foi o pior dos últimos 12 anos para os trabalhadores nas negociações salariais com os patrões. A perda real nos salários chegou a 1,6 ponto percentual. O reajuste mediano foi de 7,6%, enquanto a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulou 9,2% em 12 meses.
Em janeiro, março e abril também houve perda, mas a de julho foi a mais alta dos últimos 12 meses. No mês, 59,3% das negociações resultaram em reajustes abaixo da inflação, com somente 27,5% em ganhos reais para os trabalhadores e míseros 13,2% repondo o INPC. É o que mostra o Boletim Salariômetro, divulgado nesta quarta-feira (25) pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
O levantamento mostra ainda que 50,5% dos acordos e convenções coletivas realizadas no país entre janeiro e julho resultaram em reajustes abaixo do INPC acumulado até a data-base. Apenas 22,9% das negociações ocorridas até julho resultaram em ganhos reais, e 26,6% dos reajustes repuseram o INPC.
Mas para não ficar atrás do posto ipiranga, Jair Bolsonaro lamentou, na manhã desta quinta-feira (26), que está difícil ser patrão no Brasil. “Como é que gera emprego com essa CLT aqui? Alguém é patrão aqui? Vocês sabem o que é dificuldade. Como que gera emprego com a CLT tão rígida dessa forma?”, perguntou a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, atacando o conjunto de normas de proteção aos trabalhadores que vem sendo desmantelado desde o golpe de 2016, com resultados evidentes.
A taxa de desemprego no Brasil, foi de 14,6% no trimestre fechado em maio (março, abril e maio), ficando praticamente estável em relação ao trimestre encerrado em fevereiro (14,4%). Na prática, são pelo menos 14,8 milhões de brasileiros buscando um trabalho no país. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dieese também observa queda
O mais recente boletim Olho na Negociação, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apresenta dados semelhantes aos do Salariômetro. O Dieese analisou 129 convenções coletivas com data-base em julho.
Conforme o relatório, em cerca de 59% das negociações realizadas no mês passado os reajustes concedidos ficaram abaixo do INPC acumulado em 12 meses. Outras 16% repuseram a inflação, e cerca de 25% resultaram em aumentos reais. A variação real média das correções salariais no mês foi negativa (-1,87%).
Ao longo de 2021, os reajustes acima do INPC representam 17,5% do total, e 32,2% empataram com a inflação. As negociações que terminaram em perdas salariais foram a maioria (50,3%). A variação real média até julho foi negativa (-0,71%).
“Com 15 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados, somados aos milhões de subocupados, a negociação salarial fica mais complicada”, diz a coordenadora de pesquisas do Dieese, Patrícia Pelatieri.
“Soma-se o aumento acelerado dos preços dos alimentos, dos combustíveis e da energia elétrica, o desmonte da legislação trabalhista e o enfraquecimento da Justiça do Trabalho, ao desemprego e ao desalento, e está construída a situação ideal para o patronal tentar retirar direitos tão duramente conquistados”, resume a pesquisadora.
O mesmo entendimento tem o diretor-técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior. “A atual política econômica do governo Bolsonaro, que resultou na volta da inflação e os ataques ao movimento sindical, se refletem nas negociações coletivas, reduzindo a renda do trabalhador”, afirmou. Segundo ele, a perda do poder de compra penaliza principalmente os trabalhadores mais pobres.
Pelatieri também menciona o fim da Política de Valorização do Salário Mínimo, adotada pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, como um dos fatores que resultaram na queda da renda dos trabalhadores. Como ao longo dos governos petistas os reajustes de diversas categorias tiveram como base o mínimo, o fim do ganho acima da inflação resultou em perdas mesmo para quem recebe salários acima do piso.
Reforma trabalhista, golpe contra poder aquisitivo
Desde o golpe contra Dilma, o usurpador Michel Temer, antes, e agora Bolsonaro desmantelam dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho. Temer chegou a alterar ou extinguir 200 pontos até passar a tarefa para Bolsonaro, que desde a posse jamais reajustou o piso nacional conforme a Política de Valorização do Salário Mínimo.
A criação de novas modalidades de contratação, com flexibilização aguda dos direitos trabalhistas, salários menores e pouca margem para negociação, foi outro foco dos governos do golpe. Para enfraquecer os sindicatos, foi preciso atacar a fonte de financiamento das entidades, gerando uma queda brutal da arrecadação dos sindicatos com o fim da contribuição obrigatória.
Para privilegiar ainda mais o patrão e o mercado em detrimento do trabalhador, as negociações salariais passaram a poder ser feitas individualmente pelo assalariado. Os resultados aparecem agora.
Deyvd Bacelar, Coordenador-Geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), afirma que a categoria consegue manter os ganhos quando age coletivamente. O último Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), com vigência de dois anos, garante a reposição salarial pela inflação a partir de 1º de setembro, data-base dos petroleiros. Os trabalhadores que fizeram acordos individuais tiveram perdas salariais, com reajustes abaixo da inflação.
“A reforma Trabalhista permitiu que esses trabalhadores fizessem acordos individuais sem a proteção sindical, e eles tiveram perdas em relação aos que buscaram se unir”, avalia Deyvid. “O reajuste pela inflação foi conquistado numa luta coletiva. Uma luta individual, com certeza, não conseguiria manter acordos e repor a inflação”, finaliza o dirigente sindical.
Da Redação da Agência PT, com Imprensa CUT