Apoio de reacionários a Serra está causando mal-estar

  1. Nunca imaginei que o Serra pudesse reunir em torno de sua candidatura tantas forças reacionárias” (Ricardo Carneiro, economista e professor da Unicamp à Carta Maior)

Se alguns continuam a apostar na proficiência do gestor tucano dentro da academia, avulta nos últimos dias um mal-estar crescente provocado pelos indícios sucessivos de que a candidatura Serra foi empalmada, com aquiescência do candidato, pelo que há de mais obscurantista e reacionário na sociedade brasileira.

O tucano José Serra tem amigos na academia. O professor Ricardo Carneiro é um desses críticos, à esquerda. Dilma, é sabido, opõe-se igualmente à condução da política monetária, mas por razões de coesão governamental prefere atuar internamente.

Conceição classifica Serra como ‘um desenvolvimentista de boca’. Seu vínculo com essa corrente do pensamento brasileiro, no entender da economista, seria de recorte conservador. Serra é um adversário das causas sociais; um inimigo assumido dos sindicatos.

A ênfase na recomposição dos salários, como se sabe, e a disseminação dos programas sociais –que Serra e o PSDB desdenhavam até as eleições– tiveram papel central na resistência na sustentação do crescimento brasileiro na crise mundial. O salário mínimo no governo Lula acumulou um reajuste real, acima da inflação, superior a 72%. Os ganhos reais dos salários este ano ultrapassam em até 5% o INPC. A obtusidade de sua visão social –aliada ao menosprezo ideológico pelos impactos econômicos dessas políticas– levou o ‘eficiente gestor’ José Serra a cometer um escandaloso erro de avaliação no início da crise, quando pontificou previsões apocalípticas para o país, ao contrário do que fez o Presidente da República [veja o vídeo com os vaticínios do tucano na excelente coluna de Marco Aurélio Weissheimer em Carta Maior].

Mas se alguns continuam a apostar na proficiência do gestor tucano dentro da academia, avulta nos últimos dias um mal-estar crescente provocado pelos indícios sucessivos de que a candidatura Serra foi empalmada, com aquiescência do candidato, pelo que há de mais obscurantista e reacionário na sociedade brasileira.

A manifestação do economista Ricardo Carneiro, professor da Unicamp, onde Serra tem amigos, é uma tradução política, — “estritamente política, não pessoal”, observa o professor a Carta Maior– desse mal-estar latejante, que já rompeu a fronteira das manifestações de corredor.
A análise dos resultados do 1º turno evidenciou que as duas iniciativas não refletiam um ponto fora da curva, mas , sim, uma endogamia induziada e indigesta entre política conservadora, calúnia e regressividade religiosa. Cultuivada na superfície pela candidatura Marina –sem o ingrediente da calúnia– esse coquetel tornou-se o passaporte consciente de Serra para chegar ao 2º turno.

O que se assiste agora é a radicalização dessa sombra a demarcar claramente o campo da coalizão que impulsiona o ex-governador de SP em busca do voto do medo. Objetivamente, hoje, Serra é o estuário do que há de mais regressivo e ameaçador no leque de interesses econômicos e políticos da sociedade brasileira.

Fonte: Carta Maior

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