Em uma espécie de profecia autorrealizável da série “Réu Confesso”, do PT Nacional, Jair Bolsonaro vem conferindo novas dimensões ao próprio golpismo enquanto tenta forjar narrativas que possam livrá-lo de sua iminente prisão.
Sob o falso argumento de que jamais atentou contra a democracia brasileira, o ex-presidente concedeu uma entrevista à Folha de S. Paulo, publicada neste sábado (29), na qual tenta salvar sua pele ao mesmo tempo em que não hesita em atirar aliados ao mar. Em ato de desespero político, Bolsonaro admitiu explicitamente que procurou membros das Forças Armadas para discutir “alternativas” como estado de sítio, estado de defesa e intervenção federal. A intenção era clara: subverter o processo democrático após sua derrota nas eleições de 2022, barrando a posse de Lula em janeiro de 2023.
“Eu conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas, que vocês estão cansados de ouvir, o que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, [estado de] sítio, [estado de] defesa, [artigo] 142, intervenção…”, elencou o golpista, na entrevista.
A confissão não só expôs os crimes do extremista de direita, como também demonstrou mais uma vez sua irrefreável disposição de golpear instituições democráticas na busca por permanecer no poder. O patético argumento de Bolsonaro? Segundo ele, as “alternativas” discutidas com integrantes das Forças Armadas estariam respaldadas na Constituição e, por isso, não caracterizariam uma ruptura do Estado Democrático de Direito. Como se a formalidade do texto constitucional pudesse legitimar ações que abertamente visavam subverter o processo democrático. “Golpe não tem Constituição. Um golpe, a história nos mostra, você não resolve em meses. Anos”, tentou justificar.
Para o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), não resta dúvidas de que a entrevista é uma confissão de culpa, ao invés de uma linha de defesa para se contrapor à versão de militares que relataram o verdadeiro conteúdo das reuniões com o ex-presidente em 2022.
“O réu Jair Bolsonaro, com essa entrevista à Folha, pretendia criar uma vacina contra os depoimentos dos comandantes militares que narraram reuniões em que ele apresentava a minuta do golpe com anulação das eleições e prisão do ministro do STF Alexandre de Moraes”, denunciou Lindbergh. “O tiro saiu pela culatra. A entrevista é uma confissão de culpa”, reiterou o deputado.
Para o líder petista, colocar em questão as “alternativas” Estado de Sítio e de Defesa configuram claramente uma tentativa de golpe. “Estado de Defesa e Estado de Sítio estão previstos na Constituição para manter a ordem pública e a paz social e não anular uma eleição”, argumentou o petista.
Minuta do golpe
O presidente do PT e senador Humberto Costa (PE) voltou a classificar o extremista de direita como um mentiroso compulsivo. Pelo X, neste domingo (30), Humberto exibiu dois prints de notícias relacionadas à chamada minuta do golpe, que chegou a ser revisada por Bolsonaro, de acordo com delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Em uma delas, da revista Veja, Bolsonaro diz que “nunca chegou a mim nenhuma minuta de golpe”. Em outra, da CNN, que repercutiu a entrevista dada pelo extremista no Senado, no dia em que virou réu (26), o golpista admite que imprimiu o documento “porque queria saber o que era”.
“Bolsonaro é uma fábrica de fake news ambulante: sem fraudar a verdade, ele não existe”, resumiu o senador.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência (SRI), Gleisi Hoffmann, também repercutiu a reveladora e “estranha” entrevista de Bolsonaro. “É espantoso admitir que tentou sim impor estado de sítio, estado de defesa, aplicação indevida do artigo 142, intervenção militar e outras “alternativas” para não entregar o poder ao presidente eleito”, observou a ministra, também pelo X.
Para Gleisi, salta aos olhos o fato de que Bolsonaro jamais aceitou o resultado das eleições. Ela considera ainda grave a confissão de Bolsonaro e que deverá agravar sua situação do ponto de vista penal. “A entrevista é uma confissão de culpa que deveria ser tomada como agravante em seu julgamento”, destacou.
Da Redação da Agência PT