Carta Contra Todas as Guerras, por Charles Gentil

E a guerra é uma forma de violência.De uma prática primitiva.Seja ela feita em nome da fé, de interesses econômicos burgueses ou mesmo em nome de um pretenso ideal superior, pouco importa a roupagem que adote, a guerra será sempre: o produto de uma profunda brutalidade,que deita raízes em nossa origem ancestral, daquele início primata cuja evolução ainda está em curso, até que um dia seja possível a nossa espécie,entender-se plenamente por: ser humano;então,instintos violentos de poder, dominação e vingança por exemplo, não irão se desafogar no outro, mas,talvez, tão somente, no refinamento e na sutileza da produção literária ou artística.

O conflito recente entre Ucrânia e Rússia é apenas mais um exemplo, entre tantos outros, daquilo que ainda há de fera no humano e de mais um triste capítulo desta animalidade socialmente herdada – e sobretudo,mais protuberante em alguns governantes – que é a marca mais visível da selvageria, que habita no interior da chamada civilização.

E, aqui, não se trata de superficialmente tomar partido a favor de uma serpente:
Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia ou do urso,Vladimir Putin, Presidente da Rússia.De um lado, tem-se: o primeiro, um desprezível neonazista declarado; do outro, um liberal autoritário defensor da economia de mercado.Em comum: o apego ao poder e a carta branca que este confere para o uso bestial da força, bem como o prestígio e influência que dele derivam.

E deste apetite selvagem de ambos pelo poder, a mesma crença fundamentalista – tida por natural – , de que o capitalismo é a medida de todas as coisas.No fundo, lutam entre si, mas apenas competem para preservar, cada um a seu modo, o mesmo sistema de exploração, isto é, o capitalismo, que é o modo pelo qual, os homens se sujeitam a agirem como primatas mais até do que bárbaros, pois, no capitalismo, os instintos perigosos herdados historicamente se amplificam e são naturalmente excitados pela lógica predadora do lucro.

E matando-se uns aos outros, em pleno século XXI, com armas e munições cada vez mais mortíferas e sofisticadas, como para que o uso da tecnologia se fizesse – apenas para ironicamente nos lembrar – que se temos um pé na civilização e outro na era das cavernas, isto expõe,justamente,o aspecto contraditório do sistema burguês, defendido tanto por Zelensky,quanto Putin.

O fato de Putin não consentir e enfrentar o imperialismo norte-americano não lhe dá salvo conduto para fazer a guerra.Da mesma forma, Zelensky não tem autoridade para também se propor matar pessoas em nome da cooperação subserviente aos interesses de domínio geopolítico estadunidense.

Portanto, nem Zelensky, nem Putin; ambos são criminosos, tanto quanto o imperialismo que aprovam ou condenam; por que, o que difere o homem anônimo que assassina um outro, do governante que elimina pessoas em massa?

Aliás, esta perspectiva é a única coerente, porque é o ângulo observado do ponto de vista da população.E deste lado, a guerra não traz benfeitorias,apenas: destruição e morte.

Desabastecimento de água e energia elétrica; sofrimento e eliminação física em virtude do aniquilamento de estabelecimentos públicos e privados; fuga, fome, separação de familiares e mais mortes.

Por isso, nem Zelensky, nem Putin, mas, o mundo precisa de paz; necessita urgentemente da construção de diálogos duradouros.

E para isto, precisa de governantes comprometidos em perseguir um ideal civilizatório, o ideal socialista; porque nenhuma civilização é verdadeiramente possível nos marcos do pântano do capitalismo, que é este híbrido monstruoso; esta fusão apavorante,contraditória, entre civilização sangrenta e selvageria tecnológica.

Assim, ser contra a guerra; ser contra os imperialismos e também ser contra Zelensky e contra Putin, que apreciam sem moderação um bom cálice de sangue é, antes de tudo, um dever cívico-patriótico,mais do que isto, é selar um compromisso internacionista de classe, porque em última instância,o mundo é a pátria da classe trabalhadora e por isto, esteja onde estiver, deve-se, enquanto trabalhador, lutar para que floresça, entre os povos, uma nova primavera de paz e prosperidade.

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro

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