São Paulo — O jurista e ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão acredita que a decisão de transferir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Curitiba para São Paulo, tenha tido o objetivo de criar um factoide e uma cortina de fumaça útil para a Operação Lava Jato. Desde o começo de junho, o ex-juiz Sergio Moro e o coordenador da força-tarefa da operação, o procurador Deltan Dallagnol, têm tido seus diálogos “fora da lei” revelados pelo The Intercept Brasil.
“Não podemos deixar de levar em conta o momento que estamos vivendo, em que a Lava Jato e seus atores estão sendo desmascarados como uma organização política-midiática, travessia de judicial-público, para perseguir pessoas escolhidas e poupar outras”, afirma Eugênio Aragão, em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual. “Eles estavam correndo…só faltou transferir o Lula no mesmo dia.”
Aragão lembra que o primeiro pedido de transferência foi feito pelo superintendente da Polícia Federal de Curitiba em janeiro deste ano. Na ocasião, a solicitação teve parecer contrário do Ministério Público Federal e foi então negada. Para o jurista, na época, como Lula é um “troféu” da Lava Jato, era interessante que ele continuasse em Curitiba.
“Curiosamente”, diz Aragão, o mesmo pedido foi repetido agora em julho e então aceito pela juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal. A determinação ignorou, inclusive, a sentença condenatória do então juiz Sergio Moro, que determina que a pena seja cumprida em sala de Estado-maior. “Ela passou por cima dessa determinação que estava na sentença condenatória, transitada em julgado, neste aspecto.
O ex-ministro da Justiça destaca que a juíza argumentou que o ex-presidente custa muito caro para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, justificativa que ele rebate: “Lula não está custando coisíssima nenhuma. Todas as despesas dele, roupa de cama, roupa, alimentação, tudo está correndo por conta dele mesmo. Ele mesmo está pagando as despesas de sua manutenção. A única coisa que a Superintendência tem que garantir é a sala, que está na sentença do juiz, e uma guarda rotativa na frente da sala. Portanto, não tem nenhuma despesa, isso é mentira.”
Somado ao interesse da Lava Jato, Eugênio Aragão vislumbra outra razão por trás da tentativa de transferir Lula para um presídio comum. Ele lembra, por exemplo, da própria promessa de campanha de Jair Bolsonaro (PSL) de que, se fosse eleito, Lula iria para um presídio qualquer. “Queriam enfiar Lula numa cela com outros condenados. Claro que é uma forma de humilhá-lo, de desgastá-lo”, critica.
por Redação RBA