Teologia neoliberal e luta de classes

Se compararmos esse país, hoje, ao que ele foi, ontem, até bem recentemente, de fato, esse país se tornou, em pouco tempo, irreconhecível.


Qualquer previsão a partir do cenário de degradação econômica que, aos poucos, mas, de forma constante, está se desenvolvendo no Brasil, indica futuras perspectivas críticas ao país, justamente, em função da adoção de uma agenda econômica neoliberal e cuja orientação estrutura-se sobre uma rígida austeridade fiscal, cortando-se gastos ou melhor, investimentos sociais.


E isto, no conjunto, precariza a condição de vida da população como um todo conduzindo, mais cedo ou mais tarde, a proximidade de uma catástrofe social e, com isso, a uma repressão política brutal, quando o descontentamento se converter em mobilizações de menor ou maior envergadura, para pôr fim, então, a um regime tornado insuportável.


O que se vê agora é apenas a ponta do iceberg e uma tendência natural de bancarrota econômica, conflitos e confrontos sociais, se o itinerário de implementação desta agenda ultraconservadora no Brasil, não for urgentemente interrompido.


No campo econômico, a prática neoliberal de austeridade fiscal é tão autoritária quanto, no campo político, as práticas conservadoras ao implementarem medidas, que por não dialogarem com a população, encontram-se dela divorciada, para o real atendimento de suas demandas.


Com isso, quero dizer que extremismo econômico e extremismo político estão ligados como gêmeos univitelinos, como Bolsonaro-Trump estão unidos, bem atados; para atender aos interesses de um seletíssimo grupo de multitrilionários bem nascidos, que irão sempre auferir lucros, sempre irão ganhar, esteja o Brasil em crise ou em pujante prosperidade.


Portanto, supoem-se que a crise – segundo cálculos de uma minoria hiper restrita é: supérflua! – sendo-lhe indiferente se vai engolir magnatas, grandes empresários, a classe média toda e a ralé inteira; do alto de seu confortável panteão burguês, estarão sorrindo, contentes, até reluzentes, aguardando – entre uma taça de vinho e outra – o momento de investir e lucrar a partir dos escombros, da ruína que estava antecipada.


Estes exploradores já gerem o caos social. Administram as falências calculadas. Produzem as crises e coordenam, metodicamente, suas consequências, para atenuar eventuais efeitos previsíveis, mas indesejáveis. Com isso, amortizam a força do impacto da desordem programada instituindo, então, após o colapso criado, o controle de um novo reordenamento político-social, que é reinventado cotidianamente, por meio da mídia, redes sociais e agências publicitárias, que induzem novas formas de submissão consentida.


E por saberem que o sistema funciona mal, remuneram seus eficazes gestores, para que gerenciem a deficiência sistêmica do modo de produção capitalista, com o objetivo de que prolonguem o máximo que puderem, a existência deste sistema caduco.


O capitalismo há muito esgotou suas potências revolucionárias; e mais do que nunca, hoje, já é um estorvo ao mundo; e, claro, um obstáculo monumental ao desenvolvimento do Brasil.


Em artigo publicado em seu facebook e intitulado “Fechamento da Ford: Consequência da derrota política dos trabalhadores”, Manoel Del Rio, alerta que a luta corporativa, que é quando um segmento de trabalhadores reivindica apenas os direitos de sua categoria, não confere à classe trabalhadora como um todo a força política necessária, para fazer frente aos patrões.


Daí porque, a luta travada precisa ser mais ampla, associando-se determinadas lutas específicas de caráter eminentemente econômico outras reivindicações, para que se atue, de forma organizada, como uma classe consciente do papel histórico que deve desempenhar na luta pela conquista do poder político e não apenas pelo mero melhoramento da condição material de uma dada categoria; entende, por isso, Manoel Del Rio, que o fechamento da Ford e o contingente de desempregados que disto decorre traduz, antes, uma derrota ocorrida, pelos trabalhadores, no campo político e que também é expressa em função da desunião de classe que comporta reivindicações isoladas; a saída é, então, o abandono de seu restrito mundo para unir-se “a luta dos sem-teto, sem-terra e mulheres”.


Desta forma, penso que, neste contexto em que, há uma gestão racional da crise do sistema capitalista, bem visível, aliás, no Brasil, no uso político da pandemia e no controle social que daí advém, sobretudo, devido ao cálculo premeditado de óbitos não pelo negligência, mas pela adoção de uma política governamental declaradamente de extermínio, a única alternativa viável é fazer a transição à ofensiva e, portanto, à luta direta pelas reivindicações dos direitos usurpados e o atentado à vida perpetrado pelo governo genocida de Bolsonaro.


Daí porque, contra um governo pátrio com este perfil genocida e semeador do caos social, a alternativa mais segura, eficaz e ideologicamente correta, é, por um lado, a da unidade de classe, conforme Manoel Del Rio, bem explanou em seu artigo.


Por outro lado, em seu artigo publicado no site 360 e intitulado “Não podemos esperar até as eleições de 2022”, José Dirceu, também evoca a unidade, mas agora, dos democratas, progressistas e nacionalistas para destituir Bolsonaro.


Por isso, argumenta-se, que o receituário ortodoxo neoliberal é apresentado como solução para o Brasil que, na verdade, só cresceu, quando rompeu com esta doutrina do fundamentalismo econômico, que apregoa que “teto de gasto, regra de ouro, corte de salário e gasto” são soluções, quando sabe-se que estas palavras sagradas da teologia neoliberal são, na verdade, tão somente engodos e que não viabilizam o desenvolvimento social. Ao contrário, tem-se, com isso, “uma terra arrasada onde grassa a violência e a barbárie, que incluem o desprezo pelo meio ambiente, pela cultura e ciência, pela liberdade e democracia”, motivo pelo qual, não se pode esperar até 2022 para remover Bolsonaro do cargo de presidente devendo como tarefa central, ser removido nos marcos da legalidade, ainda em 2021.


Desta forma, penso que, quer seja, o caráter permanente, da unidade da classe trabalhadora entre si; quer seja, a unidade pontual, episódica, da classe trabalhadora com outras forças sociais, para viabilizar o surgimento de uma força política de invencível magnitude e cuja resultante é um todo integrado – ainda que momentaneamente – e cuja soma é maior, que a adição de suas partes, fato é que, sem unidade, nunca será possível chegar a lugar algum; inclusive, ao socialismo.

Toda luta exige, união.

Então, unamo-nos!!!

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro. Integrante do Democracia e Luta. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre

Foto de destaque: Lula Marques

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