O ministro Paulo Guedes e o presidente Jair Bolsonaro juram que a situação vai melhorar, mas a economia brasileira e a resposta do governo na condução da pandemia, mostram um quadro alarmante, com risco de aumento da desigualdade e da pobreza no país. O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou nesta quarta-feira, 24, uma nova previsão para o PIB brasileiro. Em vez de uma queda de -5,3% da atividade econômica nacional, a previsão oficial agora é de que a economia do Brasil vai encolher -9,1% em 2020.
Ou seja, o Brasil vai voltar a ter uma economia do mesmo tamanho que tinha no início dos anos 2000, antes de Lula assumir a Presidência da República. O anúncio do FMI conflita dramaticamente com o cenário previsto pelo governo, que estimava um tombo de 4%. Outro sintoma do agravamento da crise é o fato de os investimentos diretos no Brasil terem caído 68% em maio na comparação com o mesmo mês de 2019. O número mostra um menor apetite por ativos no país em meio à crise do coronavírus.
A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, avalia que o encolhimento brutal da economia vai agravar a situação social e que, diante dos novo cenário, agora mais do que nunca é urgente que o Congresso estenda o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 pelo menos até o final de dezembro. “Os brasileiros precisam de ajuda para sobreviver”, alerta. “Dinheiro na mão do povo é o que faz a economia rodar”.
Presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann: “A tragédia esta anunciada para o Brasil. Bolsonaro não quer dar nada para o povo”. Foto: Alessandro Dantas
Gleisi diz que o presidente e Guedes não darão conta de enfrentar a crise econômica. “O país ruma para o descontrole absoluto, porque este governo é incapaz de entender que só com a retomada do Estado brasileiro o país voltará a crescer. Insistir nessa agenda neoliberal é apostar no caos e mergulhar o país no abismo”, criticou.
A bancada do PT na Câmara apresentou projeto de lei que prevê o pagamento do auxílio emergencial até um ano. “Defendemos que o benefício continue sendo pago, no mínimo, até dezembro, sem redução”, justifica. “O endividamento das famílias hoje é de quase 70%. É uma situação alarmante. E Bolsonaro quer deixar o povo ainda em situação pior ao reduzir o valor e o prazo do auxílio emergencial”.
Resposta ruim à pandemia
No relatório do FMI, a piora nas perspectivas para a economia brasileira é reforçada pelas dificuldades que países da América Latina ainda têm para controlar a pandemia de Covid-19. “Na América Latina, onde a maioria dos países ainda luta para conter as infecções, as duas maiores economias, Brasil e México, devem contrair 9,1% e 10,5%, respectivamente, em 2020”, informou a economista-chefe Gita Gopinath.
Ela disse que o aumento dos casos de Covid-19, as dificuldades em conter a pandemia e a queda maior que a esperada na economia mundial estão por trás da revisão da estimativa. “O aumento dos casos de coronavírus é, de fato, um dos fatores que fizeram o FMI reduzir as projeções em muitos países. Como outros emergentes, o Brasil tem muitos desafios”, afirmou.
Gita Maria Milesi-Ferretti, vice-diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, acrescentou que a queda da economia global também terá impacto sobre a atividade econômica brasileira. A economia global encolherá 4,9% em 2020, disse o FMI, uma revisão em baixa de 1,9 pontos percentuais em relação às suas últimas previsões em abril. Gita disse que esta é uma “crise sem precedentes”.
Durante a coletiva, Gita afirmou ainda que as previsões têm um alto grau de incerteza, especialmente porque existe o risco de uma segunda onda de Covid-19 no mundo, como já mostram os aumentos de casos em vários países que já tinham iniciado a reabertura da economia. Cerca de 75% dos países atingidos pela doença iniciaram esse processo, segundo o FMI.
Por outro lado, o fundo elevou a perspectiva de expansão do PIB do país no próximo ano de 2,9% para 3,6%. “Para as economias que ainda lutam para controlar as taxas de infecção, a necessidade de continuar com os bloqueios e o distanciamento social terá um custo adicional para as atividades”, afirma o relatório do FMI. Estima-se que a dívida pública global atinja um recorde de 101% do PIB este ano, um aumento de 19 pontos percentuais em relação ao ano anterior.
Da Redação da Agência PT