Eu tinha apenas 5 anos de idade quando no dia 31 de março de 1964, tanques sob as ordens do general Olympio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, deixaram Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro com o intuito de prender o presidente João Goulart. Este episódio marcou o início do golpe militar, que se estendeu por tenebrosos 21 anos.
Nesta terça-feira, um militar reformado, levado ao poder por incautos brasileiros, comete uma demonstração questionável de força, obrigando a Marinha a colocar tanques e lançadores de mísseis nas ruas de Brasília, numa “tanqueata”, para intimidar o Congresso Nacional que neste dia também vai analisar a adoção do voto impresso nas eleições de 2022, tese defendida pelo governo fascista.
Na verdade, o presidente se assemelha com uma atitude irresponsável e ameaçadora, ao líder fascista italiano, Benito Mussolini, que também não primava pelo brilhantismo de pensamento e que abria mão de expedientes pouco refletidos para a sua ação política. Era realmente um bufão, um piadista de mau gosto, tal qual o personagem que se inspira nele aqui no Brasil.
Bem. O capitão reformado não tem cacife para bancar a aventura golpista. As condições atuais não se assemelham às de 1964, quando os militares estavam imbuídos da ideia de combate ao Comunismo, bastante difundido no seio das Forças Armadas da época.
Hoje, as técnicas de persuasão do governo genocida são bastante diferentes. O militar reformado utiliza técnicas de cooptação que aprendeu durante os 33 anos de mandato no baixo clero da Câmara Federal, onde o toma lá dá cá vigora com vigor (desculpem o trocadilho).
O presidente no poder, de fato, cooptou os militares e mais de 6 mil deles ocupam cargos no governo. Outros tantos são ocupados pelos filhos deles com polpudos vencimentos. Destaque para os generais da reserva, que estão também no primeiro escalão do Planalto, e que chegam a receber, por mês, um salário líquido de mais de R$ 100 mil, conforme apontou o colunista Guilherme Amado.
Há também graves denúncias de que alguns deles estejam envolvidos em negociatas nas compras de vacinas e até chegaram a abrir empresas fantasmas no exterior para legitimar as transações.
O maior vencimento dos generais no atual governo é do ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, que recebeu, em junho, R$ 111 mil. Em seguida, estão o vice-presidente Hamilton Mourão, que ganhou R$ 108 mil, e Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, que recebeu R$ 107 mil. O ministro da Casa Civil, Braga Netto, recebeu, em junho, uma quantia de R$ 106 mil.
De acordo com o colunista, os valores foram altos porque esses generais receberam extra parcela do 13º salário e pagamentos retroativos desde abril, quando o governo liberou remuneração acima do teto salarial, hoje de R$ 39,2 mil.
Todos os generais ganham mais que o presidente, que recebe cerca de R$ 32 mil.
O inominável presidente prestará contas do desfile de mamatas que ele realiza com os oficiais e seus filhos em seu governo?
Simão Zygband é jornalista com passagem pelas TVs, jornais, rádios e assessorias de imprensa parlamentar e de administrações públicas. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em fevereiro de 2020, lançou o livro “Queimadas da Amazônia – uma aventura na selva”. É conselheiro eleito do Plano Municipal do Livro, Literatura, Leitura e Bibliotecas de São Paulo (PMLLLB)