Simão Zygband: A guerra suja virtual (e de mídia) contra a campanha de Lula

Site do PT Nacional

Os dois candidatos à presidência da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), os jornalistas Cristina Serra e Otávio Costa externaram preocupações importantes com o peso da comunicação e da divulgação de fake news nas eleições de outubro de 2022, cujas pesquisas apontam o ex-presidente Luiz Inácio Lulas da Silva como favorito. O tema também foi motivo de pauta da matéria publicada recentemente pelo colunista da Folha de S.Paulo, Ricardo Kotscho.

Lula apresentava até então ampla vantagem sobre o seu concorrente, o (sic) presidente do desgoverno, o capitão genocida Bolsonaro. Mas bastou uma oscilação dentro da margem de erro, de redução de intenção de votos do ex para o atual (sic) mandatário para se acender um sinal amarelo de atenção dentro da campanha petista.

Kotscho alertou para a oscilação na pesquisa, mesmo sem um motivo aparente.  Em matéria intitulada “Milícias digitais podem definir novo cenário para Lula e Bolsonaro”, ele faz as seguintes análises: “Sem nenhum fato novo na política ou na economia, a pesquisa PoderData, do site jornalístico Poder 360, mostrou esta semana as primeiras oscilações na ponta da tabela, ainda dentro da margem de erro.

Lula continua liderando em todos os cenários de primeiro e segundo turno, mas a diferença para Bolsonaro recuou 5 pontos, em relação à pesquisa anterior, de um mês atrás. A vantagem de Lula é agora de apenas 9 pontos (40 X 31). No mesmo período, o índice de rejeição de Lula subiu 5 pontos e foi para 43%, enquanto o de Bolsonaro caiu 6 pontos, estando agora em 54%.

É preciso agora aguardar as próximas pesquisas, para ver se essa tendência se confirma, mas uma coisa é certa: só a intensa mobilização das milícias digitais bolsonaristas, que voltaram a todo vapor nas redes sociais, pode explicar esta dança dos números O jogo é pesado, sujo, violento, um vale tudo para se manter no poder a qualquer custo neste país destruído, inerme, anestesiado, diante de tantas desgraças”

Rede de terroristas

A jornalista Cristina Serra mostra preocupações com o aplicativo Telegran e justifica a ida de Bolsonaro à Rússia para conversar sobre esta arma de comunicação: “Reportagem de Marcelo Rocha mostra que o aplicativo de mensagens Telegram tem representante legal no Brasil, desde 2015. O empresário russo Palev Durov, um dos fundadores da plataforma, contratou o escritório Araripe & Associados, do Rio de Janeiro, para representá-lo junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, órgão do governo federal que faz o registro de marcas no país.

O Telegram está no centro da discussão sobre ferramentas digitais de uso planetário que atuam à margem das autoridades e das leis dos países. O aplicativo não tem bons antecedentes. É a rede preferida dos terroristas do Estado Islâmico. Presta-se aos crimes de pedofilia, tráfico de drogas e de armas. Tornou-se a fossa digital da extrema direita mundial. Aqui, tudo indica que será o substituto, piorado, do que foi o WhatsApp em 2018”.

“Não é mera coincidência que Bolsonaro tenha viajado à Rússia, país de origem do aplicativo, e à Dubai, sede atual do Telegram. Enquanto isso, o que faz a Câmara? O chamado projeto das fake news tramita a passos de cágado, sob a indulgência cúmplice de Arthur Lira e a pressão bolsonarista para evitar punições como suspensão, bloqueio ou banimento de plataformas que ajam acima da lei”.

Grande imprensa namora Bolsonaro

Já o jornalista Otávio Costa faz uma análise sobre a mudança de rumo da imprensa privada em apoio ao genocida que exerce a presidência da República. Com o título “Grande imprensa namora Bolsonaro”, ele mostra como os empresários de mídia já aceitam a ideia de apoiar o militar de extrema direita.

“Com os candidatos de terceira via empacados, os jornalões atacam os planos de Lula e jogam confetes para o Capitão Corona. Por coincidência, também no domingo, o colunista Lauro Jardim, em O Globo, informou que os responsáveis pela campanha de Bolsonaro preveem ultrapassar Lula em junho. Por mais que a informação seja surpreendente, ele explicou que, a partir de números mais recentes de pesquisas encomendadas pelo governo, acendeu o otimismo no Palácio do Planalto”.

Nesta quarta-feira foi a vez de Vera Magalhães lançar em O Globo dúvidas sobre a eleição de Lula. Segundo ela, sob orientação do Centrão, houve mudança de rota na campanha de Bolsonaro, que deixou de vociferar contra a vacinação. E, graças à influência do Centrão, o Congresso liberou recursos para auxílio às camadas mais necessitadas da população, sem as quais o Capitão Corona não tem a menor chance de reeleição (metade do eleitorado tem renda familiar de até dois salários mínimos). A nova tática, diz Vera, está dando certo. “Bolsonaro apresenta recuperação de até quatro pontos nos dois primeiros meses do ano nas intenções de votos espontâneas de várias pesquisas.” A colunista afirma que é ingenuidade acreditar que “Bolsonaro é cachorro morto, mesmo com a caneta e o talão de cheques na mão”.

“Desculpem-me pela reprodução de textos favoráveis a Bolsonaro. Mas é necessário para mostrar os concretos sinais de apoio da grande imprensa ao mandatário tresloucado que destruiu as conquistas sociais das últimas décadas. Acontece que Lula, ao expor projetos de seu governo, desagradou às elites. Suas críticas à reforma trabalhista e ao processo criminoso de privatizações causaram dor e ranger de dentes entre empresários e demais donos do poder. Também caiu como uma bomba a menção à necessidade de democratizar os meios de comunicação. Em editorial, O Globo afirmou que essa “é uma questão pacificada há décadas na sociedade brasileira” e destacou que o Congresso “é o melhor freio às intenções de Lula sobre a mídia”.

A Folha de S.Paulo também vai abrindo espaço a ministros do atual governo e aos filhos do presidente. Na terça-feira, publicou artigo de Flávio Bolsonaro sob o título “Moro soltou Lula”, que trouxe um conjunto de mentiras com origem possivelmente no “gabinete do ódio” do Planalto. A manchete desta quarta faz jogo de cena ao revelar que Flávio acionou a Receita Federal em sua defesa no caso das rachadinhas. Mas a verdade é que a Folha tem sido generosa ao abrir espaço aos projetos do governo que podem gerar votos. No online, a manchete é “novo saque do FGTS pode beneficiar 40 milhões de trabalhadores e liberar R$ 20 bilhões”. A ideia de Paulo Guedes é liberar saques do FGTS para a quitação de dívidas. Vale tudo na caça de votos para Bolsonaro”.

Simão Zygband

Simão Zygband é jornalista com passagem pelas TVs, jornais, rádios e assessorias de imprensa parlamentar e de administrações públicas. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em fevereiro de 2020, lançou o livro “Queimadas da Amazônia – uma aventura na selva”. É conselheiro titular do Plano Municipal do Livro, Literatura, Leitura e Bibliotecas de São Paulo (PMLLLB)

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