Nunca fui fanático por futebol. Talvez tenha herdado de berço, pois meu pai, judeu comunista e ateu, não sabia nem que a bola era redonda.
Mas, como bom brasileiro, acompanho as peripécias clubísticas, já que finalmente o meu time, o Palmeiras, depois de muitos anos de amargura, se posiciona desta vez entre os melhores times brasileiros, Queiram ou não, é o vice-campeão mundial, que se não é o ideal, ao menos representa um estágio elevado da prática do esporte bretão.
Mesmo não sendo um fanático, assisti várias partidas no estádio do Pacaembu. Cheguei a ver até o Pelé jogar lá. Vi também jogo da seleção brasileira que aconteceu naquele estádio e eu estava presente. Portanto, apesar de não ser fervoroso, era uma delícia assistir jogo lá, um programa familiar e tanto.
Pode parecer incrível, mas o juramento à bandeira na época do meu alistamento militar, quando fiz 18 anos (e olha que faz tempo) foi feito nas arquibancadas do estádio. Por sorte me livrei do Exército, pois não queria servi-lo em plena ditadura militar.
Não poderia portanto, como paulistano da gema, não me pronunciar sobre a absurda destruição de um patrimônio histórico da cidade, o Pacaembu, desfigurado por uma obra estúpida realizada em decorrência de sua entrega para a iniciativa privada.
No dia 29 de janeiro, as torcidas organizadas dos principais times da capital organizaram um protesto em frente ao estádio, contra a destruição do Pacaembu. Estiveram lá alguns guerreiros do Coletivo Democracia Corintiana (CDC), – Corinthians, Porcomunas (Palmeiras) e Bloco Tricolor Antifa (São Paulo). O ato reuniu pouca gente, é verdade, mas gente de fibra e foi realizado no meio da pandemia, sem nenhum apoio da imprensa esportiva (nota triste) e apenas o centroavante Casagrande fez uma menção ao problema, muito sutil, durante a transmissão de uma partida na Globo. Parece que poucos se sensibilizaram com a destruição do estádio.
Negociata
Abaixo, o vídeo, realizado por Paulo Rapoport (Popó) em janeiro, por ocasião do início da destruição do Pacaembu
Texto e narração: Chico Malfitani
Simão Zygband é jornalista com passagem pelas TVs, jornais, rádios e assessorias de imprensa parlamentar e de administrações públicas. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em fevereiro de 2020, lançou o livro “Queimadas da Amazônia – uma aventura na selva”. É conselheiro titular do Plano Municipal do Livro, Literatura, Leitura e Bibliotecas de São Paulo (PMLLLB)