Simão Zygband: A absurda destruição do Pacaembu

Imagem: Reprodução/Instagram

Nunca fui fanático por futebol. Talvez tenha herdado de berço, pois meu pai, judeu comunista e ateu, não sabia nem que a bola era redonda.
Mas, como bom brasileiro, acompanho as peripécias clubísticas, já que finalmente o meu time, o Palmeiras, depois de muitos anos de amargura, se posiciona desta vez entre os melhores times brasileiros, Queiram ou não, é o vice-campeão mundial, que se não é o ideal, ao menos representa um estágio elevado da prática do esporte bretão.
Mesmo não sendo um fanático, assisti várias partidas no estádio do Pacaembu. Cheguei a ver até o Pelé jogar lá. Vi também jogo da seleção brasileira que aconteceu naquele estádio e eu estava presente. Portanto, apesar de não ser fervoroso, era uma delícia assistir jogo lá, um programa familiar e tanto.
Pode parecer incrível, mas o juramento à bandeira na época do meu alistamento militar, quando fiz 18 anos (e olha que faz tempo) foi feito nas arquibancadas do estádio. Por sorte me livrei do Exército, pois não queria servi-lo em plena ditadura militar.
Não poderia portanto, como paulistano da gema, não me pronunciar sobre a absurda destruição de um patrimônio histórico da cidade, o Pacaembu, desfigurado por uma obra estúpida  realizada em decorrência de sua entrega para a iniciativa privada.
No dia 29 de janeiro, as torcidas organizadas dos principais times da capital organizaram um protesto em frente ao estádio, contra a destruição do Pacaembu. Estiveram lá alguns guerreiros do Coletivo Democracia Corintiana (CDC), – Corinthians, Porcomunas (Palmeiras) e Bloco Tricolor Antifa (São Paulo). O ato reuniu pouca gente, é verdade, mas gente de fibra e foi realizado no meio da pandemia, sem nenhum apoio da imprensa esportiva (nota triste) e apenas o centroavante Casagrande fez uma menção ao problema, muito sutil, durante a transmissão de uma partida na Globo. Parece que poucos se sensibilizaram com a destruição do estádio.
Negociata
Em janeiro deste ano, dias antes do ato das torcidas, escrevi para o Construir Resistência uma matéria intitulada “Empresa quer reduzir 71% do valor pago pelo Pacaembu e ainda ganhar de brinde a praça Charles Muller”. E enunciava no olho (início) do texto “O governador João Doria e o finado prefeito Bruno Covas (ambos do PSDB) deram de mãos beijadas o complexo esportivo, com valor de apenas 10% do mercado aos empresários, que ainda querem redução do preço”.

E relatava na matéria: “Não resta a menor dúvida: a maneira como foi concessionado o estádio do Pacaembu, patrimônio do povo paulista, foi um negócio de pai para filho. A empresa Allegra, que ganhou a concorrência em plena pandemia, quando a sociedade não teve a oportunidade sequer de se manifestar contra a negociata, quer agora reduzir 71% do valor que terão que pagar à Prefeitura. E quer ainda ganhar de brinde a praça Charles Muller, outro bem da cidade”.

“A Allegra pagou R$ 111 milhões por um conjunto esportivo avaliado em cerca de R$ 900 milhões e nem este valor quer pagar agora. Alega prejuízos com o negócio por causa da pandemia. Em janeiro de 2020, ela assumiu o complexo, que inclui o estádio municipal Paulo Machado de Carvalho e um ginásio esportivo. A Praça Charles Miller e o Museu do Futebol ficaram fora da concessão”.

Roubo, esculacho e destruição

Veja o que escreveu o colaborador do Construir Resistência, o Walter Falceta, um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana (CDC)., que tem como título a mensagem acima:

“O canalha João Doria sucateou para justificar a entrega do patrimônio a sua gangue de bandidos predadores. Entregou tudo por uma bagatela. Agora, os mafiosos tentam pagar ainda menos do que o acertado no leilão da pilhagem. E ainda exigem a posse da Praça Charles Miller. Todos os compromissos assumidos com as instâncias de preservação do patrimônio histórico foram atirados na lata do lixo. A promessa de só derrubar o tobogã ficou na história. O campo já se foi. Agora, caem também as arquibancadas, produzindo um dano estrutural a toda área da encosta do vale.

E ninguém diz nada. Os promotores procuradores de fama não produzem powerpoints nem cogitam de montar uma força-tarefa para defender o patrimônio público e o interesse da coletividade. Se não são uns bananas, estão mancomunados com os quadrilheiros que devoram a cidade, a memória e o sonho”.

Enfim, a destruição de um patrimônio histórico, ao estilo de Jair Bolsonaro, João Dória, o finado Bruno Covas e o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, que sempre beneficiam os empresário milionários em detrimento dos interesses da população é uma mentalidade que deveremos derrotar nas urnas com Luiz Inácio Lula da Silva, no Planalto e Fernando Haddad no governo de São Paulo.

Um basta na entrega de patrimônio público e histórico em todos os níveis.

Fotos do facebook 

 

Abaixo, o vídeo, realizado por Paulo Rapoport (Popó) em janeiro, por ocasião do início da destruição do Pacaembu

Texto e narração: Chico Malfitani

Simão Zygband é jornalista com passagem pelas TVs, jornais, rádios e assessorias de imprensa parlamentar e de administrações públicas. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em fevereiro de 2020, lançou o livro “Queimadas da Amazônia – uma aventura na selva”. É conselheiro titular do Plano Municipal do Livro, Literatura, Leitura e Bibliotecas de São Paulo (PMLLLB)

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