O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), exaltou as linhas privatizadas do metrô da capital paulista em coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (3). A declaração foi feita diante da greve conjunta realizada entre trabalhadores do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
“Quais são que estão em funcionamento hoje? As que foram transferidas para a iniciativa privada. Essas linhas não estão deixando o cidadão na mão”, afirmou o governador em referência às linhas 4, 5, 8 e 9.
Somente entre janeiro e abril deste ano, no entanto, apenas as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda apresentaram 16 falhas que impactaram a vida dos trabalhadores paulistas, segundo um levantamento feito pelo UOL no primeiro semestre deste ano. Os dois ramais são privatizados e operados pela ViaMobilidade.
Entre as falhas apresentadas nos ramais privatizados, houve dois descarrilamentos, nos dias 16 de janeiro e 30 de março, nas estações Julio Prestes e Lapa, respectivamente. Em contrapartida, as Linhas 7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade, ramais públicos e administrados pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), sofreram apenas cinco falhas no mesmo período.
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Ainda assim, Tarcísio de Freitas pretende privatizar todas as linhas da CPTM ainda durante seu mandato e já pediu estudo de viabilidade para os ramais 10, 11, 12 e 13. Para o governador, as linhas privatizadas em funcionamento nesta terça-feira (3) reforçam “a convicção de que estamos indo na direção certa”.
Em reação às falas do governador durante a coletiva de imprensa, Camila Lisboa, presidenta do Sindicato dos Metroviários de SP, afirmou que Tarcísio desconhece a realidade do transporte público na capital paulista. “O governador Tarcísio falou sérias mentiras sobre as linhas 8 e 9. Ele demonstrou um total desconhecimento sobre a realidade das pessoas que estão pegando essas linhas todos os dias e que estão sofrendo com descarrilamento, com velocidade reduzida, com trem andando com a porta aberta. São falhas cotidianas que estão gerando um transtorno para as pessoas”, criticou.
As linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda dos trens foram concedidas por 30 anos pelo ex-governador João Doria (PSDB) ao Consórcio ViaMobilidade, formado pelas empresas CCR e Ruas Invest Participações, em abril de 2021. Antes, a ViaMobilidade já operava a linha 5-Lilás de Metrô e a linha 17-Ouro de monotrilho de São Paulo.
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Nesta terça (3), Tarcísio de Freitas afirmou, ainda, que os problemas vêm da época em que a CPTM era pública. “Ele realmente não conhece a realidade. A linha 9 era a linha melhor avaliada da CPTM, ela tinha 83% de aprovação das pessoas que utilizavam o serviço. A linha 8 era a segunda mais bem avaliada. Foram duas linhas estruturadas para terem um serviço excelente. Agora a aprovação da linha 9 caiu para 53%”, contraria Lisboa.
Outro estudo, feito pela Rede Globo, mostra que, de janeiro de 2022 até o mesmo mês de 2023, 132 falhas foram registradas nas linhas de trens de São Paulo operadas pela ViaMobilidade. A quantidade é sete vezes maior do que o contabilizado no último ano de operação da empresa pública CPTM.
No total, no período de um ano foram 52 falhas na Linha 8-Diamante – que atende a sub-região oeste da Região Metropolitana de São Paulo, incluindo municípios de Itapevi, Jandira, Barueri, Carapicuíba e Osasco – e 80 na Linha 9-Esmeralda – que liga a região sul do município de São Paulo (distrito de Grajaú) ao município de Osasco. Enquanto isso, no último ano de operação da CPTM antes da privatização, foram registradas apenas 19 falhas: seis falhas na Linha 8-Diamante e 13 na 9-Esmeralda.
A quantidade representa uma falha a cada 2,7 dias de operação das duas linhas pela ViaMobilidade, segundo um levantamento elaborado pela Rede Globo. Entre os registros, um trabalhador foi morto após ser eletrocutado enquanto fazia a manutenção da linha 9. As falhas nos serviços geraram multas que se somadas chegam a cerca de R$ 22 milhões.
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O quadro gerou uma solicitação formal do Ministério Público de São Paulo (MPSP) à Secretaria de Transportes Metropolitanos (STM) pelo rompimento da concessão, sob o argumento de que a ViaMobilidade não está cumprindo com os acordos contratuais.
Questionado sobre a ação do MPSP, o atual governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) indicou, ainda em fevereiro, que não aceitará o rompimento da concessão. “É óbvio que a gente não está satisfeito. A questão é, nós acreditamos que os investimentos extras serão feitos. A gente está acreditando que todo esse esforço, no final das contas, a gente tem que analisar por que a gente chegou nessa situação”, disse. “O governador do estado sou eu. O Executivo está aqui. No dia que você permitir que o Ministério Público governe o estado para você, você está morto”, afirmou.
Lisboa lembra que, no final do ano passado, quando houve a eleição para o governo de São Paulo, Tarcísio afirmou que poderia rever os contratos de concessão, caso os problemas continuassem. “Só que ao longo deste ano de 2023, os problemas só aumentaram. Por exemplo, teve uma colisão de trem na plataforma na estação Júlio Prestes, que nunca aconteceu na história do Metrô e da CPTM. Ao invés do governador Tarcísio rever os contratos de concessão, o que ele fez? Ele foi brigar com o Ministério Público, porque o Ministério Público corretamente estava fazendo as investigações e viu que não havia a manutenção permanente da via.”