A mobilização da sociedade obrigou o governo a recuar em sua tentativa de abrir as portas para privatizar a saúde pública do país. Oriundo do Ministério da Economia, o decreto traz as impressões digitais de Paulo Guedes, um dos mentores da desastrosa privatização do setor no Chile. No último domingo, a sociedade chilena foi às urnas para enterrar a Constituição da ditadura de Pinochet e, junto com ela, a privatização da saúde.
A derrota do governo foi grande, obrigando a dar uma vexatória marcha à ré em menos de 24 horas, mas não o suficiente para desistir de privatizar a saúde dos brasileiros. Ontem, ao anunciar a retirada do decreto, Bolsonaro disse que “em havendo entendimento futuro dos benefícios propostos pelo decreto, o mesmo (decreto) poderá ser reeditado”. Não é de graça que o atual governo reduz o orçamento do SUS, não assume compromisso com a vacinação contra a Covid-19 e expulsou os médicos cubanos do país.
Para a presidenta do PT, deputada federal (PR), Gleisi Hoffman, “Bolsonaro só recuou da tentativa de privatizar o SUS por causa da repercussão negativa e do desgaste político”. Gleisi também alerta que o governo vai contra-atacar quando poeira baixar, como tem feito com os Correios, a CEF e a Casa da Moeda. “O sobrenome desse governo é privatização. Bolsonaro e Guedes são a destruição do Estado”, deixa claro Gleisi.
Sociedade reagiu com energia
Tão logo a informação veio à público na terça-feira à noite, as redes sociais foram inundadas com protestos vindos de todos os setores da sociedade brasileira. O ataque ao SUS chegou ao topo do Twitter como um dos assuntos mais comentados. A maioria esmagadora das postagem criticaram duramente a proposta. Em muitos casos, acusando o governo de “genocida” por tomar a iniciativa em plena pandemia.
O decreto também ganhou as campanhas eleitorais da oposição, que condenaram a proposta do governo Bolsonaro. “Não nos enganemos com esse tipo de recuo forçado”, afirmou Marília Arraes, candidata do PT à prefeitura de Recife, por exemplo. “Vamos continuar combatendo essa agenda antipovo de Bolsonaro”, reagiu a candidata petista. No Congresso Nacional, as bancadas de deputados e senadores do PT apresentaram projetos para derrubar o decreto.
O sucesso do SUS no combate à pandemia atiçou o perfil mercantilista e predatório do atual governo alinhado aos interesses privados. Atualmente, o país possui mais de 40 mil unidades básicas de saúde e 168 unidades de pronto-atendimento (UPA), portas de entrada de um mercado cobiçado pelos empresários do setor. Nos Estados Unidos, exemplo de país para Bolsonaro, sem praticamente sem sistema de saúde pública, a sociedade é refém dos planos de saúde.
A iniciativa ainda evidenciou o espírito autoritário e arrogante do atual governo, em particular do ministro Paulo Guedes. A publicação do decreto reafirmou a inexistência e a inoperância do Ministério da Saúde, sob comando do general Pazuello, que até dias atrás “não conhecia o SUS”. Além disso, ignorou o Conselho Nacional de Saúde (CNS), os governadores, prefeitos e os secretários de Saúde. Para o CNS, a decisão foi arbitrária, com o único objetivo de privatizar as unidades básicas de saúde.
Da Redação da Agência PT