Desamparada sanitária e economicamente pelo desgoverno Bolsonaro, a população brasileira agoniza entre a doença e a fome. Para a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, esse problema tem que ser resolvido já. “A prioridade do PT hoje é a mesma da maioria do povo brasileiro: vacina, auxílio emergencial, emprego, fim da carestia e do governo Bolsonaro. Essas demandas antecedem qualquer conversa sobre 2022”, declarou ao jornal ‘Valor Econômico’.
A deputada federal pelo Paraná vocalizou a conclusão de cada vez mais pessoas no país. Ao se tornar exemplo global do que não fazer, boicotando o uso de máscara, as medidas de isolamento social e a compra de vacinas contra a Covid-19, além de chantagear o Congresso para aumentar o arrocho fiscal em troca de um auxílio emergencial irrisório, Bolsonaro é hoje o principal empecilho para o Brasil superar a crise do coronavírus.
Dados levantados em fevereiro pelo Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e a Central Única das Favelas (Cufa), mostram que 68% das pessoas que moram em favelas não tiveram dinheiro para comprar comida em ao menos um dia num período de duas semanas. A pesquisa revela que 71% das famílias estão sobrevivendo com menos da metade da renda que obtinham antes da pandemia.
A prioridade do PT hoje é a mesma da maioria do povo brasileiro: vacina, auxílio emergencial, emprego, fim da carestia e do governo Bolsonaro – Gleisi Hoffmann
“O principal impacto é na geração de renda. Como tem um grupo grande de trabalhadores informais, e você teve uma dificuldade no período inicial de chegar o auxílio emergencial lá dentro, o impacto na renda foi gigantesco, e isso trouxe a fome. Mas a fome é consequência da ausência de renda”, ressaltou o presidente do Instituto Locomotiva e Fundador do Data Favela, Renato Meirelles.
As pessoas das comunidades enfrentam ainda um risco sanitário maior por ter que se expor ao vírus para conseguir sustento: 32% estão procurando seguir as medidas de prevenção contra a covid-19; 33% estão procurando seguir, mas nem sempre conseguem; 30% não conseguem seguir; 5% não estão tentando seguir. Por isso, são maioria nas trágicas estatísticas do número de mortos pela doença.
“Com o agravamento da crise sanitária e com os recordes de contaminação, nunca foi tão importante o reestabelecimento imediato do auxílio emergencial. São brasileiros que foram obrigados, desde o início da pandemia, a ter que escolher entre o prato de comida ou a proteção da saúde da sua família”, afirmou Meirelles.
Rapidez e eficiência
“Todo mundo está lidando com o mesmo vírus, então por que os países estão respondendo de maneira diferente?”, questiona à ‘ BBC’ Elizabeth King, professora de saúde global da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. King é coeditora de um livro que compara as respostas nacionais à primeira onda de coronavírus, em 2020.
A conclusão dos 60 acadêmicos de 30 países da Ásia, Europa, África e Américas é que as medidas tomadas pelos governos — e principalmente, a rapidez com que agiram — tiveram efeitos profundos nos resultados nacionais na primeira onda da pandemia.
“Agir tarde e de maneira indiferente, excessivamente complexa e inconsistente, é uma receita para mais mortes, mais doenças, custos mais altos e maiores danos econômicos”, diz Ian J. Bateman, professor de Economia Ambiental da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e autor de um dos estudos.
A professora King diz que alguns países com infraestrutura de saúde mais fraca foram capazes de lidar com a covid-19 empregando uma reação bastante rápida à epidemia. “Eles implementaram intervenções não farmacêuticas baseadas em evidências, como uso de máscaras, distanciamento social, junto com um sistema robusto para rastrear casos e fornecer suporte”, enumera.
Entre os países mais pobres, o Vietnã é o exemplo mais citado. Sua capacidade de rastrear e isolar casos da doença é frequentemente contrastada com a abordagem bem-sucedida, mas cara, de testagem em massa e rastreamento de casos da Coreia do Sul.
A Coreia do Sul passou de segundo maior epicentro da pandemia, no começo de 2020, para um dos maiores casos de sucesso na contenção do vírus. Até fevereiro de 2021, o país registrou apenas 1.538 óbitos. A resposta relativamente rápida e as políticas públicas orquestradas pouparam não apenas as vidas, mas também a economia do país.
Ainda segundo King, nenhuma estratégia seria completamente bem-sucedida sem um forte conjunto de políticas sociais destinadas a garantir que os indivíduos e as pequenas empresas pudessem cumprir as regras de restrição.
Exemplos mundiais
“A China fez o suficiente para garantir que não houvesse fome em massa ao implementar políticas sociais fortes. As medidas de países como Nova Zelândia e Alemanha também foram exitosas”, compara a pesquisadora. Epicentro da pandemia, a China foi o primeiro país a recuperar sua economia, além de abastecer o mundo com vacinas e insumos.
Na Europa, além de medidas de isolamento, houve aumento de gastos para combater a crise econômica. Na Alemanha e na França, os governos assumiram o pagamento de parte da folha salarial de empresas para evitar demissões. Houve também programas de crédito público em diversos países para apoiar empresas em maior dificuldade.
Os Estados Unidos, que até o fim de maio poderão ter vacinado todos os adultos, preparam um estímulo econômico de US$ 1,9 trilhão. Em janeiro, o presidente Joe Biden assinou duas ordens aumentando os benefícios pagos nos programas de vale-alimentação e do auxílio de merenda escolar, instituído após as escolas fecharem.
O governo também vai permitir que trabalhadores recusem empregos que os coloquem em risco durante a pandemia e, mesmo assim, se qualifiquem para o seguro- desemprego. Biden propôs ainda o aumento do salário mínimo dos servidores federais para o equivalente a R$ 82 por hora, mais que o dobro do valor pago atualmente.
O oposto do “desprezo pela ciência” demonstrado por Bolsonaro. “O Brasil estava muito bem posicionado para lidar com a pandemia de maneira eficaz, mas infelizmente não o fez”, assinalou Elize Massard da Fonseca, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), em entrevista à agência de notícias FAPESP da USP.
Da Redação da Agência PT