Por Simão Zygband: Jornalismo militante de direita e suas múltiplas faces

“O que mais me entristece e envergonha neste momento não é a postura dos donos do poder econômico, já esperada, nem a de uma classe média frustrada e enraivecida, nem mesmo a do povo pobre, açulado pelo discurso fácil do linchamento. O que me acabrunha é a postura dos que deviam saber melhor, entre os quais, obviamente, nós, os jornalistas”.

Este é um dos trechos do discurso do jornalista, escritor e professor Bernardo Kucinski ao receber o prêmio Prêmio Especial Vladimir Herzog em 2018 durante a cerimônia do 40º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Ele foi assessor da Presidência da República entre 2003 e 2005.

Utilizo parte do discurso do Kucinski, autor do livro “Jornalistas e revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa” de 2003 para servir como introdução a um tema muito caro para a categoria dos jornalistas: a militância do jornalismo de direita.

Claro que ele sempre existiu, mas de forma envergonhada, já que era asqueroso assumir posturas de direita em uma categoria que, majoritariamente, lutou contra o fascismo da ditadura militar. Foram proeminentes neste período, defendendo o governo dos generais,  personagens como Amaral Neto, Alexandre Garcia, Boris Casoy, enfim, alguns célebres que sutilmente realizaram o serviço de adesismo ao regime, mas que não foram tão efetivos como o “jornalista” Claudio Marques, que entrou para a história pela porta dos fundos por ser o delator do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nos porões do Doi-Codi pelos fascistas então no poder. Fez tabelinha com outro jornalista conservador, Leonildo Tabosa, que escrevia no Jornal da Tarde (JT).

Hoje, o jornalismo de direita perdeu a vergonha. Muitos jornalistas aderiram ao golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, mesmo conscientes de que estavam prestando um desserviço à democracia e ao país. São considerados também jornalistas de direita, apesar de não aceitarem esta pecha. Estão na grande mídia realizando o papel de feitor dos empresários de Comunicação, sendo porta-voz dos patrões, apesar de serem empregados. Mas nunca se sentiram assim.

Eles ajudaram também nas acusações sem provas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fizeram o trabalho sujo contra o PT e o governo popular, mas se consideram democratas. O pior é que agora, com Lula liderando todas as pesquisas de intenção de votos para as eleições de outubro deste ano, querem fazer de conta que não ajudaram na eleição do excrementíssimo presidente da República, Jair Bolsonaro e se fingem de mortos, como se nunca tivessem ajudado a eleger o genocida. E, muitos deles, ganharam como prêmio pelo apoio à famigerada operação Lava Jato e incondicional ao golpe contra Dilma, os coices e os impropérios do psicopata no poder.

Por fim, há, sem dúvida, uma nova safra de jornalistas de extrema direita, que mesmo com a liderança do Lula, continuam destilando o ódio contra o ex-presidente, com posturas bem menos fisiológicas que os jornalistas considerados de centro, que pretendem mudar de lado conforme a música. Muitos deles já fizeram a mea culpa, mas ninguém esquecerá o que fizeram contra a democracia. Está sendo uma tarefa árdua tentar retificar o que o equívoco deles pariu.

Um dos exemplos de extremista de direita é o jornalista que se considera cristão, José Carlos Bernardi, que participa do Congresso da Direita em Portugal. Ele, que sugeriu que se matasse os judeus como uma forma de reerguer a economia brasileira, recentemente postou em suas redes algumas pérolas do que pensam os direitistas que participam daquele encontro:

“A esquerda não luta pelo viciado, ela luta pela liberação das drogas;

Ela não luta pela criança, ela luta pelo pedófilo;

Ela não luta pela propriedade, ela luta pelo invasor;

Ela não luta contra bandidos, ela luta pelo fim da polícia;

Ela não luta pelo trabalhador, ela luta pelos sindicatos;

Ela não luta pela Educação, ela luta pela doutrinação”.

São estultices como estas que passarão a fazer parte do rosário de argumentos da direita, com o intuito de atingir Lula.

Não passarão!

Simão Zygband

Simão Zygband é jornalista com passagem pelas TVs, jornais, rádios e assessorias de imprensa parlamentar e de administrações públicas. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em fevereiro de 2020, lançou o livro “Queimadas da Amazônia – uma aventura na selva”. É conselheiro titular do Plano Municipal do Livro, Literatura, Leitura e Bibliotecas de São Paulo (PMLLLB)

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