Por Simão Zygband: Como assim, Bernardi, matar os judeus?

Foto: Reprodução

Se há uma excrescência humana, ela se manifesta através do racismo. É inconcebível a estúpida fala do jornalista José Carlos Bernardi, da Jovem Pan, que tive o desprazer de conhecer quando trabalhei na Assembleia Legislativa de São Paulo e ele era um dos chefes da TV Alesp. É também funcionário comissionado no gabinete do deputado estadual Campos Machado. Ele afirmou hoje que o Brasil ficaria rico como a Alemanha “se a gente matar um monte de judeus”.

Infelizmente, cheguei inclusive a lhe apertar as mãos. Os colegas me diziam que ele era um tipo estranho, cristão carismático, messiânico, e isso nunca diminuiu o respeito que eu tinha por ele. Só sabia que politicamente estávamos em lados opostos. Que ele era um cara de direita. Nada incomum numa democracia.

Mas por trás de sua aparência límpida, de bom moço, de gestos educados, não sabia que se escondia um nazista. Senti asco, como filho de um sobrevivente do Holocausto que sou, de suas  palavras tão traiçoeiras. Inadmissível. Causou-me ânsia de vômito.

Como assim, Bernardi, matar os judeus? Ficou louco? O que você bebeu antes de entrar no ar? Não adianta se desculpar agora. Você acha que se vai aceitar pedido de desculpas por uma fala tão grave?

Bernardi, que é admirador e defensor de Bolsonaro, se espelha em seu “ídolo” para atacar os diferentes. Deveria sair algemado dos estúdios da Jovem Pan, onde proferiu tamanho absurdo. Racismo é crime inafiançável, segundo o Código Penal.

O mesmo deveria ter sido realizado contra o ídolo de Bernardi, Jair Bolsonaro, quando elogiou o torturador Brilhante Ustra, por ocasião da deposição da ex-presidenta Dilma Rousseff. Foi apartir dali que se destampou o bueiro da intolerância e o Brasil perdeu o rumo e se afundou no pântano que estamos vivendo.

Saiba o que aconteceu

Comentarista da Jovem Pan News, José Carlos Bernardi sugeriu que a morte de judeus poderia fomentar a retomada econômica do Brasil. Nesta terça-feira (16), o jornalista manifestou o discurso antissemita ao vivo durante o Jornal da Manhã.

“É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha pós-guerra”, opinou Bernardi.

O posicionamento viralizou nas redes sociais e foi criticado por toda comunidade judaica. Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ e diretor do Instituto Brasil-Israel, repudiou a fala de Bernardi.

“Essa fala do ‘comentarista cristão’ José Carlos Bernardi resume muito o negacionismo histórico que tomou esse pais de assalto em 2018. Além da ignorância completa dos processos do pós-guerra, típica de um analfabeto em História, o sujeito incorpora referencias do antissemitismo”, afirmou o pesquisador em seu Twitter.

Conib e Fisesp repudiam 

A CONIB (Confederação Israelita do Brasil) e a FISESP (Federação Israelita do Estado de São Paulo), que representam a comunidade judaica brasileira e paulista e atuam com base em princípios como paz, democracia, justiça social, diálogo inter-religioso e combate a intolerância, discurso de ódio e terrorismo, manifestam seu repúdio em relação ao mencionado por V.Sa. em debate realizado recentemente na JP NEWS, quando afirmou que a pujança econômica atual da Alemanha teria como uma de suas causas a morte de judeus no Holocausto e o confisco de seus bens pelo regime nazista.

A forma como essa narrativa foi colocada à imensa audiência da JP gerou justificada consternação e revolta na comunidade judaica.

O Holocausto foi um ato sem paralelo na história humana e representa o capítulo mais trágico da história do nosso povo, que culminou no extermínio cruel de 6 milhões de judeus indefesos, dentre os quais 1.5 milhões de crianças judias. A preservação dessa memória é fundamental para que horrores como aqueles não se repitam e é uma das prioridades das comunidades judaicas em todo o mundo.

Simão Zygband

Simão Zygband é jornalista com passagem pelas TVs, jornais, rádios e assessorias de imprensa parlamentar e de administrações públicas. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em fevereiro de 2020, lançou o livro “Queimadas da Amazônia – uma aventura na selva”. É conselheiro eleito do Plano Municipal do Livro, Literatura, Leitura e Bibliotecas de São Paulo (PMLLLB)

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