As imagens da Alesp não deixam dúvidas. Não há dupla interpretação possível; nenhuma ambiguidade na imagem; nenhuma; apenas o fato. A cena que presenciamos trata-se de um crime cometido pelo deputado estadual afastado do Cidadania, Fernando Cury, que assediou Isa Penna, deputada do PSOL, em plena seção da Alesp, e – digamos – nas barbas do presidente Cauê Macris(PSDB) qdo a deputada em questão parlamentava com o presidente supra, em frente à mesa.
O deputado criminoso, Fernando Cury, deve ser: expulso do partido Cidadania, ter o mandato cassado, virar réu e ser preso e tudo, claro, com muita celeridade: simples assim.
As provas são cabais para que o desfecho não seja este.
Se bem que, neste Brasil de Bolsonaro, tudo está invertido, inclusive, a moral, o respeito e os valores; tanto é assim, que criminosos ficam livres e inocentes são presos em função de acusações fundadas apenas na mera convicção dos acusadores e, portanto, sem provas.
Aliás, inocente que foi preso e ficou, injustamente, confinado na Polícia Federal, em Curitiba; e embora, hoje, esteja solto, não está livre, pois, seus direitos políticos foram cassados e ainda sequer se julgou a suspeição do então, Juiz de 1a instância, Sérgio Moro, que regateou a sentença do réu almejando um cargo político( que conseguiu) como trampolim – que quebrou – e, por isso, não obteve a tão desejada vaga no STF.
Se este país tiver cura contra esta virose do bolsonarismo, ainda veremos estes criminosos: Sérgio Moro e Fernando Cury, no xadrez.
O primeiro por ser parte interessada na sentença e valendo-se da toga para desencadear a denominada lawfare contra o réu( que é quando se usa a Justiça para perseguir, politicamente, seu adversário); o segundo por importunação sexual; por assediar uma mulher, deputada em seção da Alesp.
Ou seja, cada um sendo canalha à sua maneira; mas, igualmente, zombando das instituições, das leis e da ética ; patifes, que, certamente, acreditam na impunidade, pois, acham que neste Brasil deprimente de hoje, a Justiça tarda e ainda é falha.
Não à-toa, Fernando Cury, medíocre e deputado abusador com certidão de Cidadania emitida, dá-se ao vão e vil trabalho de exibir sua sofrível performance teatral, quando se justifica:
“Quero dizer, de forma veemente, inclusive para todas as mulheres que estão aqui, eu nunca fiz isso. Mas se a deputada Isa Penna se sentiu ofendida com o abraço que eu lhe dei, eu peço, de início, desculpa por isso. Desculpa se eu a constrangi. Desculpa se eu tentei, como faço com diversas colegas aqui, de abraçar e estar próximo. Se com esse gesto eu a constrangi e ela se sentiu ofendida, peço desculpas”.
A canalhice é tamanha que o criminoso, de forma ardilosa, tenta transferir a responsabilidade do ato para a vítima quando diz “(…) se a deputada Isa Penna se sentiu ofendida com o abraço que eu lhe dei(…).”
O efeito ridículo desta encenação de Cury, se assenta, sobretudo, quando ele confessa o crime sem confessar, pois, o ato do abuso ele nomeia como abraço.
Com isso, visa sutilmente confundir as pessoas, ao buscar relativizar o ato praticado, sugerindo que foi mal interpretado e que sua conduta teria sido, portanto, sem malícia, isto é, ingênua.
No início de seu argumento, e dirigindo-se Cury, às mulheres, ele já havia dito “(…) eu nunca fiz isto(…)”.
Daí porque, à confissão de seu crime precisa, ao mesmo tempo, negá-lo e para buscar o efeito de convencimento desejado introduz o argumento de que não foi compreendido em seu gesto.
O efeito de sua retórica teatral é dupla:
a. quer, sem dúvida, sensibilizar os ouvintes
b. e inverter os papéis: o criminoso quer se converter em vítima, pois, teria agido de boa-fé e quer que a vítima cometa o crime, pois, é tida por injusta, uma vez que, negaria o fato da ingenuidade do ato praticado.
Neste sentido, o ato malicioso que se quer fazer passar por ingênuo precisa estar vestido com o figurino da humildade, isto para:
a. reforçar a injustiça cometida no julgamento do abraço mal interpretado ( e aqui foca-se o argumento na deputada)
b. demonstrar a correção da conduta praticada ( e aqui foca-se o argumento no deputado).
Daí porque, a palavra “desculpa”, se insere no argumento com o propósito de mediar o conflito, mas, que o abusador busca minimizar sugerindo tratar-se, na verdade, apenas de um mal-entendido.
Deste modo, o pedido de “desculpas” tem a função argumentativa de:
a. demonstrar que, embora o deputado discorde da interpretação dada ao ato, abre-se mão de prosseguir o assunto, porque o que importa não é o que ele pensa, mas o que: quem se queixou sente.
b. reitera a humildade do abusador, que se vê como injustiçado e, portanto, aceita ser derrotado na sua convicção de que é ingênuo, a ponto que chega a pedir “desculpa” pelo que não fez.
No entanto, é importante dizer que, o deputado Fernando Cury, com seus argumentos(quando dissecados), apenas revela o contágio destes argumentos pelo machismo que criminosamente pôs em pratica.
Observe que em “a” o deputado atribui a razão ao gênero masculino e a paixão ao gênero feminino.
Como se a mulher não pudesse ser racional e o homem não fosse governado pelas paixões ou buscasse das emoções fazer uso, ainda que retoricamente.
Aliás, o que ocorreu, em termos de arguição, foi, exatamente, isto. Enquanto Isa Penna, ao denunciar na Alesp o crime, evocou muito um conteúdo argumentativo de teor, em grande parte, racional; Fernando Cury, por sua vez, buscou – em seu script mal encenado – ressaltar o tom emotivo para convencer o público.
Neste sentido, o reiterado pedido de “desculpas”, que aparece quatro vezes em seu argumento, tem por finalidade manipular a emoção do ouvinte, uma vez que, trata-se de alguém que assume a responsabilidade de arcar com a derrota de ser mal compreendido; mas, assim, aceita tal fardo porque abre mão da certeza de que não praticou nenhum mal feito, porque o que importa é como quem o acusa vai se sentir( se vai se sentir bem em sua injustiça), então, de bom grato aceita-se ser injustiçado.
E é aqui, que o teatro repulsivo deste abuso indigesto, adquire o horror em sua performance absoluta.
É,justamente, quando o abusador não sugere inocência, nem busca fazê-lo confessando sem confessar seu crime; mas, quando de forma explícita, o deputado criminoso, Fernando Cury, em sua retórica farsesca, usa a linguagem para colocar em xeque a credibilidade da denunciante, e por meio da partícula “se”, introduz em seu argumento de forma veemente, a dúvida sobre se houve constrangimento, se houve ofensa.
Acontece que: assim como deputadas não gostam de ser apalpadas, o deputado Fernando Cury, precisa também entender, que as palavras também não gostam de ser molestadas.
Daí porque, diante de um ator medíocre na Alesp como Fernando Cury e, enquanto deputado abusador, o caminho inexorável e mais imediato, deve ser a célere cassação de seu mandato para que tenha a palavra cassada.
As palavras não se prestam a serem utilizadas para fins ilícitos: como o de se fazer, nelas, manobras de retórica maliciosa para, então, apalpando-as torcer seu compromisso com a verdade e, portanto, causando-lhes constrangimentos e, assim, ofendendo-as.
Saiba o deputado Fernando Cury, que às palavras, assim como as mulheres, exigem: RESPEITO !!!.
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro. Integrante do Democracia e Luta. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre