Agora é São Paulo

O Brasil demorou muito tempo para acreditar que o PT poderia fazer um
bom governo para o país. Entre a primeira candidatura à Presidência da
República e a tão esperada vitória, com Lula, passaram-se 13 anos.
Hoje, o mundo vê a transformação do Brasil. Superamos a mera
estabilidade monetária e instituímos verdadeira solidez
macroeconômica. Os níveis de credibilidade, de crédito e de
investimentos são inéditos. A indústria e o comércio crescem de forma
progressiva. Geramos 12 milhões de empregos formais, estruturamos uma
agenda ambiental sustentável. Construímos 13 novas universidades
federais e 214 escolas técnicas. Retiramos cerca de 21 milhões de
pessoas da pobreza e reduzimos consideravelmente a desigualdade
social. Somos uma potência em ascensão, com liderança política na
América Latina e no mundo. E Lula tem avaliação recorde de
popularidade, com 76% de ótimo e bom.
Agora chegou a vez de São Paulo. Já são 27 anos de governos conduzidos
praticamente pelo mesmo grupo político, pelos mesmos quadros. E pela
mesma mentalidade. Isso gerou fadiga e acomodação, que se refletem na
deterioração de muitos setores no estado, como os da segurança,
educação, saúde, transporte público e habitação. Ao contrário do país,
que enfrentou a pior crise econômica mundial desde 1929 com
crescimento econômico, São Paulo, nosso estado mais rico, definha
inexplicavelmente. Segundo o IBGE, em 1995, São Paulo contribuía com
37,3% de toda a economia brasileira. Doze anos depois, esse índice já
havia caído para 33,9%. São Paulo precisa recuperar seu papel de
carro-chefe na economia nacional e estimular a competitividade porque
o estado está com déficit no comércio exterior de 8 bilhões de dólares
em 2009.

O governo paulista não fez as parcerias que poderia ter feito com o
governo Lula. Recusou-se a entrar com sua contrapartida em programas
como o Samu, de ambulâncias, e das UPAs (Unidades de Pronto
Atendimento), no atendimento de urgência e emergência. Também
desprezou os projetos estruturantes, e a maior prova foram as
enchentes do início deste ano, provocadas pelas fortes chuvas em um
contexto de exposição da população em área de risco e pela falta de
limpeza na calha dos rios e da melhor gestão dos reservatórios. Na
área dos transportes, o alto custo dos pedágios nas rodovias prejudica
a população e a economia. Pouco foi feito para evitar o
congestionamento nas regiões metropolitanas. Falta transporte público
de qualidade. Na capital, as pessoas estão perdendo, em média, 2 horas
e 43 minutos por dia nos congestionamentos, que se agravam
dramaticamente. Algumas linhas do metrô e da CPTM estão próximas do
colapso. É uma energia perdida, que não produz, não gera renda e nem
desenvolvimento.

Outro problema grave do estado é a segurança pública, em que quase
todos os indicadores – sequestros, homicídios, assaltos, roubo de
carga, roubo de carro – cresceram de forma preocupante em 2009. O
problema da segurança pública se interiorizou, deixando de ser uma
preocupação da Capital, para tornar-se um desafio mais abrangente.
Precisamos de mais recursos, profissionais bem preparados e uma nova
política de segurança e para o sistema prisional. Os policiais
precisam ser valorizados, da mesma forma que o governo Lula valorizou
a Polícia Federal. Em São Paulo, as deficiências na política de
segurança acabam comprometendo recursos que poderiam ser melhor
utilizados. A falta de segurança prejudica também a atração de
investimentos, o que piora a economia estadual.

Neste setor, o governo paulista também tomou decisões equivocadas
durante a crise econômica, aumentando a carga tributária e vendendo a
Nossa Caixa – na direção oposta do que fizemos no governo federal. Mas
o que mais preocupa em São Paulo é a qualidade do ensino. Sem
educação, teremos muita dificuldade no futuro, quando viveremos a
sociedade do conhecimento e da informação. No último Pisa, exame
internacional de avaliação do ensino, São Paulo ficou abaixo da média
nacional e de estados muito mais pobres. Consequência da forma como o
governo vem tratando os professores, sem a valorização dos salários, e
de sua política educacional equivocada, com medidas como a aprovação
automática, que retirou toda autoridade dos professores em sala de
aula.

São Paulo precisa de alternativas, de um governo mais criativo e
ousado. O Brasil demorou muito tempo pra mudar e nosso estado já
esperou quase três décadas por resultados. É por isso que confio na
mudança. O povo de São Paulo vai acreditar que é possível mudar, para
fazer em São Paulo o que Lula fez pelo Brasil.

Aloizio Mercadante, 55, economista e professor licenciado, é senador
da República (PT/SP) e líder do PT no Senado.

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