O teatro das aparências: Bolsonaro e seu 7 de Setembro

Site do PT Nacional

De Daniel Silveira, Deputado Federal, a Roberto Jefferson, Presidente do PTB. De Sérgio Reis, cantor, a Batoré, ex-comediante da Praça é Nossa. De Aleksander Lacerda, ex-chefe de Batalhões da Polícia Militar Paulista, a Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, Coronel da Reserva da PM e diretor-presidente da Ceagesp. De Romeu Zema, Governador de Minas Gerais, a Jair Messias Bolsonaro, Presidente do Brasil. Cada um a seu modo – e da pequenez de suas existências – expressam o mesmo sentimento que os une: a aversão pela democracia e a inclinação irreversível ao autoritarismo como prática política.

Retórica explosiva num, discurso de ódio mafioso noutro. Melodia de viola totalitária, deste. Comédia sem graça, antidemocrática e trágica, daquele. Indisciplina terrorista de quartel, aqui. Promotor da desordem, ali. Este, incitador do caos porvir. Aquele, Genocida que trabalha para a ditadura vir.

Como já ficou claro: o mal não só se transfigurou. Ele também se multiplica e se aprofunda (para tornar a queda apoteótica). Antes da mutação, porém, julgavam tratar-se apenas de um Presidente tosco, sem modos, dado a falar o que desse nas ventas; um Presidente, tão somente – diziam – de pá virada, amargo talvez, deseducado é certo, mas propenso a falar umas verdades e meia (ainda que preconceituosas; e este – e por isso protesto – sempre foi o x da questão.); mas, estas verdades e meia, tidas como inofensivas, embora – diziam, é verdade –  desconcertantes, nunca implicariam em perigo (quanto capricho retórico para passar panos quentes, por Deus!).

Alguns diziam tratar-se só de oratória ingênua (supunham ingenuamente?), de qualquer forma, apresentavam Bolsonaro como alguém  insuspeito, acima do bem e do mal (mas, eu afirmo – abaixo da régua de todos os valores do humanismo), estando, porém, – alegavam -, muito bem cotado Bolsonaro entre aqueles – desgraçadamente a maioria! – que cogitavam ser necessário ter coragem ( ou – pergunto – vícios em tão alma desumana?) para ser politicamente incorreto (mas exato, preciso, no que ele planejava) e, portanto, falar o que, no fundo em tese, todos supostamente queriam dizer e não diziam (e dizem aí residir, o que é virtuoso neste mito fabricado).

Pois bem, isto, ou seja, toda esta farsa fez parte da estratégia de marketing político, deste político hipócrita, que dizia não ser político; ele, Bolsonaro – o medalhista de ouro em promover óbitos por Covid-19 –  que não só, não teme as leis e nem os direitos humanos (o que não o imuniza das consequências legais de seus atos inconsequentes e negacionistas); então, entendem, com isso, afinal, o que é a chegada da barbárie terraplanista? O vale tudo como norma e como lei sacramentada. O caos bolsonarista como sedução no invólucro da ordem. Isto exprime o abismo de desesperança e a ruína ética como meta, como construção deliberada de um projeto de governo de morte: inverteu-se o humanismo para colocar-se em pé, a barbárie).

E não é isto que Bolsonaro faz, afinal? Esta inversão perversa: cultuar a morte e negar mais que a ciência, ele nega a própria vida!.

E para ser eficiente neste projeto de extermínio, ele apenas manipulou o preconceito que brota espontaneamente (a ciência que liberta vem sempre depois, porque primeiro desponta a ignorância e as práticas autoritárias cotidianas, idolatradas aliás, pelo tal mito). Ele se vale desta precedência genealógica e impulsiona este perverso mal gosto pelo exercício de poder sobre o outro. Satisfez a realização do gozo festivo do dominador, ao estimular que ideassem também praticar sua opressão verbal explícita e ateou fogo no imaginário destruidor destas bestas feras sedentas, ao prometer que, um dia, sua ira de superiores, mais uma vez, iria se desafogar na submissão e interferência brutal a ser consumada nos corpos dos inferiores torturados até o último suspiro para satisfazer-lhes o apetite covarde, destes que detém o comando e se refestelam com a desigualdade social.

Isto expõe um problema que dá o que pensar.Nossa democracia, a democracia experimentada não foi profunda, não deitou raízes no conjunto da sociedade, por isso, a democracia que vivenciou-se, no Brasil, além de incompleta foi superficial.E digo mais: superficial em termos de adesões duradouras.

Tudo ia bem, é verdade, mas no subsolo, nas profundezas, nas entranhas, o aspecto do passado histórico autoritário – parte daquele DNA originado desde a invasão portuguesa até o sufocamento de insurgências do Império à República – todo este pretérito dominador, enfim, se inquieta e primeiro espreita, depois se organiza e, aos poucos, em silêncio, se mobiliza contra a maré democrática, para se rebelar contra a ralé, que aprendeu a ter voz e vez.

( Enquanto isso…)

Quem foi beneficiado pela democracia não só progrediu materialmente, mas logrou também aquisições profissionais e inquestionáveis competências intelectuais no campo do saber e, no entanto, em geral, vigorou uma incapacidade de compreender o conteúdo de classe dessas realizações. Acreditou-se que toda esta evolução pessoal era apenas mérito próprio, meritocracia mesmo, não interpretaram esta melhora, quer seja de status econômico, quer seja de repertório intelectual, como uma feliz cooperação do empenho do indivíduo com as oportunidades proporcionadas pelo governo de cunho popular.

No entanto, a verdade era bem outra: as conquistas materiais, intelectuais, profissionais e de cidadania estavam pautadas no necessário alargamento do conceito de democracia, que, então, se realizava e que isto era o que, justamente, permitiria o continuísmo destas conquistas ad infinitum, em um exercício permanente de aprimoramento da democracia (houveram, porém, os que apenas intuíram isto; outros até compreenderam, mas no processo esqueceram o componente político e focaram no acesso estrito às oportunidades do mercado de trabalho; houveram ainda aqueles que entenderam – de forma precipitada – que a democracia já estava consumada e que não havia mais riscos à ordem democrática burguesa; nenhuma involução possível no horizonte próximo). 

E assim, enquanto a democracia inexoravelmente se ampliava, as condições de sua retração, simultaneamente, estavam postas e – em sentido contrário – operavam pari passu, àquele desenvolvimento promissor.O bolsonarismo, – que fique claro – não surgiu por geração espontânea. Ao contrário, ele foi semeado, adubado e brotou(no ventre de nossa história mais recente, sem dúvida,mas vinculado – e com certeza – a todo o passado autoritário de tradicional orgulho das classes dominantes brasileiras), e brotou, aliás, no mesmo terreno, em que a vegetação democrática prosperava e quando o solo propiciou a esta erva daninha crescer,ao mesmo tempo, impossibilitou a continuidade vibrante daquela expansão de democracia (ainda que burguesa); então, o corpo político começou a adoecer, porque neste corpo um tumor autoritário ganhava dia a dia terreno e à semelhança da erva daninha: pôde tornar infértil e estagnar, a cultura democrática que tão zelosamente havia sido cultivada.

Hoje, as vozes que querem tumultuar a República, se elevam como ecos do uivo assassino, de 1964. Estas vozes repetem aquelas segundas intenções de Bolsonaro, a de pleitear fechar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal visando, a delirante permanência no poder.

Agora, não é mais a voz solitária de Bolsonaro, que se rebela contra a democracia e que na esteira deste protesto reinvidica o direito de torturar e matar. Esta intenção criminosa – um devaneio desmedido – se multiplica.Aos poucos, outras vozes se levantam e entoam o chamado ao levante autoritário.Pessoas conhecidas, outrora admiradas até, inclusive, amigos, familiares de cidadãos comuns, de gente simples, muitos já cooptados, outros ainda em disputa, para se converterem ao mal.No corpo político, este tumor autoritário, evolui gradativamente, e não é de hoje; mas, se ramifica, se espalha,cresce no exato momento, em que – e este é o paradoxo – entra já em declínio irreversível.

Tudo indica ser o bolsonarismo um tumor benigno, algo curável,portanto.Mas, a habilidade em mostrar mais força do que possui causa a estranha sensação de que, os autoritários, mais cedo ou mais tarde, irão vencer.

Não se deve subestimar o adversário, assim como também não se deve sobrevalorizá-lo.Bolsonaro e suas hordas estão – e isto é fato – em desespero pelo crescimento volumoso e consistente, da preferência à Lula e ao PT.

Sendo assim, o bolsonarismo busca criar uma realidade paralela com performances teatrais inusitadas, objetivando transmitir a sensação, de que Bolsonaro é mais forte do que parece – quando na verdade, ele quer parecer mais forte do que é – , a qualquer momento(uivam os bolsonaristas),  o mito irá se impor à revelia das instituições e neste canto da sereia caem, inclusive, setores  bem intencionados da esquerda: o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes, Ministro do STF; a presença de tanques de guerra, carros blindados e porta mísseis, durante votação para validar ou não, o voto impresso; as declarações de figuras públicas contra o ordem institucional dada,tudo isto e muito mais ainda virá,pois, pretende-se transmitir o clima de que o bolsonarismo está em ascensão quando,hoje,se dá exatamente, o contrário: Bolsonaro e o bolsonarismo estão em queda livre ou com a gravata da lei da gravidade no pescoço.

O fato de buscar tumultuar, impor força ou sugerir o emprego dela, mostrar-se disposto a fazer acontecer, tem,claro, por Bolsonaro, a motivação de querer mudar a situação, que lhe é desfavorável.

E isto é sempre possível (política não é ciência exata, por isso, prudência é sempre recomendável) mas é mais provável que o lento e prolongado agonizar deste tumor autoritário, já é uma marcha sem volta. Os dias e as noites de Bolsonaro e suas hordas, neste momento, dá claros indícios, que estão chegando ao fim e os mesmos métodos empregados: promessas de balbúrdia, provocações gratuitas e até ameaças de violência, que antes exprimiam o ascenso do pensamento conservador hoje desnudam seu eclipse inevitável em acessos de desespero e espasmos furiosos.

Nós, que visualizamos para além do que se encena, para além do teatro das aparências, deste teatro político em franca decadência, sabemos muito bem que Bolsonaro, quer a todo custo, criar um fato, um fato político, que o ajude a reverter a irreversível derrota anunciada.

Talvez, em 7 de Setembro até ecloda mesmo algum distúrbio previsto no script da peça. Algo de impacto oco, para impressionar no baixar das cortinas. Não negligencio o adversário e entendo que: disto ele é capaz, para se rebaixar a parecer superior, mas francamente, em uma análise cortante e fria assento que seria um erro imperdoável atribuir a Bolsonaro mais força do que ele tem ou venha a reunir (não nos sujeitemos a participar, ainda que involuntariamente, de seu teatro, sua farsa elaborada numa última tentativa desesperada de manter o gado unido e mugindo); isto é imperdoável, porque significaria trabalhar para o inimigo na construção da imagem de força e vitalidade que ele não tendo, quer no entanto, transmitir à sociedade que tem.

De qualquer modo, firmo aqui,que minha convicção não resplandece as luzes do otimismo que sempre ofuscam a razão;também não me permito, por asseio e dignidade, trajar as cores sujas e sombrias do pessimismo. Reivindico meu direito soberano a tratar dos fatos pelo crivo objetivo da ciência. Porém, isto não quer dizer que, não se deva fazer oposição nas ruas. Com inimigos como Bolsonaro, outrora forte hoje moribundo, a tática deve ser a luta encarniçada, sem tréguas, até o golpe de misericórdia e que permita enterrar de vez este tumor, este governo detestável, libertando assim, o Brasil destes inimigos da classe trabalhadora.

FORA BOLSONARO !!! ENTRA LULA !!!

Charles Gentil 
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro 

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