O PAIS DA DESINFORMAÇÃO

E a estratégia das fake news

Por: Simão Zygband*

As redes sociais, que de alguma forma democratizaram a comunicação e ampliaram o exercício da liberdade de expressão, também são responsáveis pela proliferação de notícias nem sempre tão benéficas para o conjunto do povo brasileiro.

Não que as mídias tradicionais já não operassem com o chamado fake news ou com informações manipuladas para atender os seus interesses corporativos e políticos. Mas a facilidade de ter um computador às mãos para obtenção de informações, muitas vezes de origem duvidosa, tem trazido grandes prejuízos para o país.

Não bastasse a eleição fraudulenta do atual supremo mandatário – alçado ao posto mais importante do Brasil com a ajuda de disparos de fake news contra seus adversários, adquiridos por empresários seus aliados com recursos não contabilizados em campanha, o que se seguiu a isso foi uma completa desinformação, não apenas ocasionado pelo próprio presidente, mas também através desta comunidade que opera diariamente com notícias falsas.

Há quem diga que em Brasília foi constituído o que se costumou chamar de “gabinete do ódio”, um quartel general instalado dentro do próprio Palácio do Planalto, pago com dinheiro do contribuinte, para disseminar notícias que somente constroem a discórdia e a cizânia, com o objetivo de desestabilizar todos aqueles que ousem desafiar o status quo da quartelada miliciana que se instalou no poder central.

Como explicar, por exemplo, a rebeldia de parte dos brasileiros contra a vacina do Covid-19, que voltou a ceifar mais de mil cidadãos diariamente em nosso país, que se recusam a se proteger para evitar o contágio inclusive entre seus familiares? Nada pode ser mais primitivo do que a recusa na vacinação, fato só ocorrido no começo do século passado, quando o médico sanitarista Osvaldo Cruz, convenceu o governo brasileiro de que era necessário obrigar a população a se vacinar contra a varíola.

Assim, entre os dias 10 e 18 de novembro de 1904, a cidade do Rio de Janeiro foi palco de uma revolta popular contra a obrigatoriedade da vacina de varíola. Bondes foram tombados, trilhos arrancados, calçamentos destruídos ocasionado por uma massa der cerca de três mil revoltosos. Por trás do caos instalado conspirava a oposição política que utilizou a vacinação como álibi para tentar derrubar o presidente da República, Rodrigues Alves. A rebelião foi sufocada, mas deixou um saldo de 30 mortos, 945 prisões, 461 deportados e 110 feridos.

O governo revogou a obrigatoriedade da vacina (que causou a revolta), mas exigiu comprovante de vacinação para o trabalho, viagem, casamento, alistamento militar, matrícula em escolas públicas, hospedagem em hotéis etc. Praticamente assim obrigou a maioria dos moradores a se vacinar. Finalmente, em 1910, foi totalmente erradicada a varíola na cidade do Rio de Janeiro, após um forte surto da doença que dizimou mais de 6.500 pessoas em 1908.

O atual mandatário, que demonstra total incapacidade para gerir os destinos do país, também trabalha contra a vacinação de seu povo, sabe-se lá por quais motivos não confessos. É notório o seu despreparo (e desinteresse) em organizar uma vacinação em massa em nível nacional, sobretudo por ter colocado como ministro da Saúde um general que não possui nenhum conhecimento sobre o que, supostamente, está ministrando.

O general ministro disse que o governo do qual ele é o principal representante na área da Saúde se compromete a vacinar a população de todos os estados “no dia D e na hora H”. Sem comentários.

O Brasil não está desta vez necessitando de uma revolta contra a vacina, mas sim contra um (des)governo que desdenha e ironiza uma pandemia que já dizimou mais de 200 mil brasileiros, que mata mais de mil pessoas por dia e que já atingiu a marca de 8 milhões de infectados.

Mas, o pior mesmo é assistir, diante de tanta mortandade, pessoas que se recusam a tomar a vacina, mesmo sabendo que ela será a salvação de si mesmo e de sua família.

*Simão Zygband é jornalista e escritor. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em 2020, lançou o livro “Queimadas da Amazônia – uma aventura na selva” pela editora Studioma e disponível na Amazon.

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