Mulheres indígenas ocupam Brasília por respeito e pela vida

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na tarde de ontem (25) foi realizada a Plenária das Mulheres Indígenas, que compõe a programação da 19ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que reúne na capital mais de seis mil indígenas de 300 etnias, e tem como tema “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação não há democracia!”. A atividade contou com a participação de mulheres de diversos grupos étnicos que iniciaram os debates preparatórios para a realização da terceira Marcha das Mulheres Indígenas, prevista para ocorrer em setembro, em Brasília.

A secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura, manauara e pertencente ao povo Mura, defende que haja maior participação das indígenas nos espaços de poder. “Celebro a formação da Bancada do Cocar, mas entendo que precisamos ampliar as oportunidades para que outras lideranças indígenas ingressem nas fileiras do Legislativo tanto nas esferas federal quanto municipal”, diz Anne.

Ainda, segundo ela, “de fato, a manutenção dos nossos biomas perpassa pela preservação dos povos originários, e se não ampliarmos os olhares e os saberes, a política vai continuar nas mãos dos mesmos homens brancos. Tenho certeza que a Marcha das Mulheres Indígenas, que vai ocorrer em setembro, será um momento de fortalecimento e organização para possíveis candidaturas de mulheres indígenas para as eleições do ano que vem”.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, abriu a mesa saudando todas as presentes, e destacando o poder de articulação e resistência dessa população frente aos últimos quatro anos. Para ela, essa atuação é resultado da “luta histórica em memória das mulheres que nos antecederam e da luta para fazer a diferença nas vidas das que virão. As mulheres indígenas não vão recuar. Por meio da Bancada do Cocar vamos aldear a política”, assegurou Guajajara. A ministra destacou, ainda, o avanço da presença indígena nos poderes Legislativo e Executivo, ressaltando a necessidade de haver o ingresso de lideranças indígenas, também, no Judiciário.

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, participou do ato. Durante sua fala, ela fez o convite às indígenas para que participem da Marcha contra a Misoginia: “A marcha contra o ódio às mulheres significa que nós não queremos morrer, ser silenciadas. Nenhuma mulher indígena aceita morrer, ser calada. Sempre digo que todos os dias são oito corpos de mulheres mortas. O ódio traz a desigualdade, o ódio foi muito propagado contra os povos indígenas, os negros e as mulheres. É para isso que precisamos estar juntas, em outra marcha, todas as mulheres. Nós queremos viver e queremos respeito”, defendeu Gonçalves.

Ela informou que está sendo desenvolvido um programa, em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas, direcionado à preservação da vida das mulheres indígenas. “Estamos trabalhando nos ministérios da Mulher e dos Povos Indígenas para que possamos ter um programa que, efetivamente, dê conta de combater a violência contra as mulheres indígenas. Elas precisam do atendimento da Lei Maria da Penha”, disse.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, agradeceu ao presidente Lula a escolha de 11 mulheres para compor a Esplanada dos Ministérios e ressaltou a importância dos povo originários na defesa da democracia brasileira, durante o governo passado.

“Se a gente fizer três segundos de silêncio e pensar o que passava na nossa cabeça há um ano, qual era a nossa maior preocupação? Era o receio que aquele que era contra as mulheres e os povos indígenas ganhasse a Presidência. Hoje, nós estamos aqui, dessa vez, com uma outra coisa na nossa cabeça: como nós vamos fazer para que o governo do presidente Lula dê certo, como vamos tirar todos os garimpeiros, fazer com que o Ministério dos Povos Indígenas dê certo e demarque as terras”, afirmou Marina.

“Estamos aqui para dizer que o povo indígena se mobilizou em todas as aldeias e deram uma demonstração de coragem para ajudar a salvar o Brasil do caos que estava para acontecer. Vamos trabalhar para que daqui a quatro anos tenhamos orgulho do que fizemos. Que vocês continuem sendo a raiz desse governo”, encerrou a ministra do Meio Ambiente.

A defesa da biodiversidade passa pela proteção indígena 

No ATL deste ano, há um forte argumento ecológico acerca dos direitos da terra. Em todos os lugares onde os povos indígenas tiveram seus territórios formalmente reconhecidos, a presença da preservação da biodiversidade e as taxas de reflorestamento são mais altas.

Para a socióloga e coordenadora-geral de Prevenção à Violência Contra as Mulheres do Ministério das Mulheres, Pagu Rodrigues, indígena do povo Fulni-ô, de Pernambuco, a importância do tema do ATL de 2023 – “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação não há democracia!” – fala sobre o debate que permeia a necessidade de discutir as crises climáticas e ambientais.

“É fato que as terras indígenas, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, são os grandes bolsões de conservação ambiental que ainda existem no planeta, e onde a gente ancora, na verdade, essa perspectiva de futuro, de um outro modelo produtivo e de um outro modo de vida, e que permanentemente estão sendo atacadas. Então dizer que o futuro indígena é, hoje, dizer para a humanidade de forma geral que sem a existência dos povos indígenas a gente tem pouca perspectiva de continuidade”, informa Pagu Rodrigues.

Por isso, ela continua, que o tema das demarcações se apresenta como “um ponto fundamental na garantia dos direitos indígenas e dessas preservações ambientais e no freio a esse sistema do capital. Como voltamos a viver em um governo democrático, e a gente sabe que a possibilidade de demarcar terras e garantias dos direitos indígenas é muito maior”, defende a coordenadora-geral de Prevenção à Violência Contra as Mulheres do Ministério das Mulheres

Da Redação Elas por Elas, com informações de Ministério das Mulheres, de Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade e  Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.

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