A democracia, a memória e a cultura brasileira saíram vencedoras na cerimônia do Oscar, na noite deste domingo (2). O longa Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, garantiu ao país a estatueta de Melhor Filme Internacional, enchendo os brasileiros de orgulho em plena noite de carnaval. Em diversas cidades, a festa foi interrompida para que os foliões pudessem acompanhar o anúncio da vitória brasileira.
O filme concorreu ainda em mais duas categorias, Melhor Filme e Melhor Atriz, com Fernanda Torres interpretando o papel de Eunice Paiva, esposa do deputado Rubens Paiva, que foi brutalmente assassinado pela ditadura militar em janeiro de 1971. A premiação, inédita para o país, foi celebrada pelo presidente Lula nas redes sociais.
“Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro”, afirmou Lula. “Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia. Eu e Janja estamos muito felizes assistindo tudo ao vivo”, relatou o presidente.
Ainda segundo Lula, “o Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui é o reconhecimento do trabalho de Walter Salles e toda equipe, de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, Selton Mello, do Marcelo Rubens Paiva e família e todos os envolvidos nessa extraordinária obra que mostrou ao Brasil e ao mundo a importância da luta contra o autoritarismo”.
Lula também expressou gratidão a Fernanda Torres, reforçando que ela “honrou o Brasil com sua brilhante atuação em Ainda Estou Aqui e encantou o mundo todo vivendo a grande Eunice Paiva”.
A presidenta Nacional do PT e futura ministra da Secretaria de Relações Internacionais da Presidência, Gleisi Hoffmann, também comemorou a histórica premiação. “Ganhamos! Brasil tem o Oscar! Estamos aqui! Vitória da democracia!!! Maior orgulho! Viva Walter Sales! Viva Fernanda Torres! Entre nós Eunice Paiva e Rubens Paiva!”, festejou a petista.
O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE) observou que o resultado não é apenas o prêmio, mas “a prova de que o Brasil tem talento, sensibilidade e potência para emocionar o planeta”. Segundo Carvalho, “o cinema é resistência, identidade e transformação. E quando uma obra nacional vence, vencemos todos nós!”.
O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias, (RJ), festejou o “momento histórico” em um vídeo ao lado de Gleisi. “Sem anistia”, enfatizou o parlamentar.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), destacou que o Oscar representa uma celebração da luta democrática em um momento em que o fascismo voltou a rondar o país. “Ao trazer os crimes da ditadura à memória de todos nós, o filme desperta nossas forças para garantirmos nossa democracia”.
https://twitter.com/guimaraes13PT/status/1896485529916424618
“Se existe um melhor momento para celebrar essa a conquista histórica do cinema brasileiro, eu desconheço!”, exclamou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). “Sou um democrata obsessivo e apaixonado pela nossa cultura. Ver a história de Eunice e Rubens Paiva emocionar o mundo e nos reconectar ao cinema nacional mostra o quão é importante lembrar do que não pode ser esquecido”, afirmou o senador.
https://twitter.com/jaqueswagner/status/1896396516224389221
Reconhecimento a Dilma pela Comissão da Verdade
Quando o filme começou a fazer muito sucesso no país e em cinemas mundos afora, o escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro homônimo que deu origem ao filme, fez um reconhecimento público ao trabalho da ex-presidenta Dilma Rousseff com a criação da Comissão da Verdade, em 2011.
“Tenha dito! Por conta da Comissão da Verdade, tive elementos para escrever o livro Ainda Estou Aqui, e agora temos esse filme deslumbrante”, reconheceu Paiva, em janeiro. “E Dilma pagou um preço alto pelo necessário resgate da memória”, lamentou.
A Comissão da Verdade revelou incontáveis crimes e violações de direitos humanos cometidos pela ditadura militar entre 1964 e 1985, por meio de documentos, depoimentos e artefatos que ajudaram a elucidar e reconstruir episódios de tortura, desaparecimento e morte durante o sombrio período da história brasileira. Caso de Rubens Paiva, pai de Marcelo.
Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, no sábado (1º), Marcelo voltou a mencionar a Comissão da Verdade ao relembrar fatos históricos recentes, inclusive o perigoso retorno do fascismo no país. “Ela viu, mas não registrou, ou talvez tenha feito, os resultados da Comissão Nacional da Verdade, a condenação em 2014 pela Justiça do Rio de Janeiro dos torturadores de seu marido, a ascensão da extrema direita, a repercussão do livro Ainda Estou Aqui, a histeria e polarização das eleições de 2018”, relatou Marcelo, em referência à doença de sua mãe, Eunice Paiva, que sofria de Alzheimer.
“Não viu cartazes pedindo o AI-5, ou pior, “Ustra vive””, escreveu. Eunice Paiva morreu em dezembro de 2018, logo após a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018. Como se sabe, Bolsonaro, o mesmo que defende anistia para os criminosos do 8 de janeiro, é um notório defensor do torturador e criminoso Brilhante Ustra.
Sem a Comissão da Verdade, corajosamente levada a cabo por Dilma, não haveria o livro e o filme Ainda Estou Aqui. E uma parte crucial da memória nacional permaneceria desaparecida, assim como Rubens Paiva. Graças aos esforços de Dilma, a memória da democracia ainda está aqui. Ditadura, nunca mais.
Da Redação da Agência