Metroviários acusam privatização por acidente que abriu cratera

Eduardo Knapp/Folhapress

Por Camila Lisboa

Fomos no local do acidente da obra da Linha 6 laranja, para ver como está a situação. Fomos até o limite aonde era possível olhar. Tem muitos caminhões pelo entorno, transportando pedras e materiais pra cobrir a Marginal e tentar retomá-la pra fluir o trânsito.

Fomos também pra tentar falar com a imprensa que acompanha a situação no local. Conseguimos dar algumas declarações e passar a mensagem que temos passado há muitos anos sobre os problemas desta concessão, e também para dizer que a empresa Acciona precisa ser cobrada.

Por enquanto, só vemos declarações do poder público, falando em nome da Acciona. É verdade que o poder público tem que dar explicações: afinal, colocou r$15 bilhões de dinheiro público na obra que, quando concluída, com o serviço disposto à população, vai gerar lucros apenas para a empresa Acciona.

Mas, a preservação da empresa privada nos discursos, declarações e mesmo da cobertura da imprensa é para que essa tragédia não repercuta no debate público sobre as privatizações.

E isso precisa acontecer. Sob pena de vermos mais e/ou piores tragédias.

Tragédia anunciada

Hoje (terça-feira) aconteceu uma tragédia em São Paulo. Por enquanto, a informação sobre situação dos trabalhadores segue a mesma de mais cedo: 2 foram hospitalizados por terem tido contato com a água. E há uma forte preocupação dos moradores do entorno do acidente, se a via da Marginal Tietê vai ceder mais ou não.

Alertamos, porém, para o fato de que essa era uma tragédia anunciada. Esta obra é totalmente privada. Sob a lógica privada, prevalece a ideia de redução de custos, seja no material e equipamentos, seja nos contratos de trabalho, seja nas condições de saúde e segurança dos trabalhadores. Com essa lógica, o risco de grandes acidentes aumentam.

Não são acasos que a tragédia da linha 4 em 2007 e a tragédia de hoje na linha 6 tenham ocorrido em obras privadas. Também não são acasos que os desastres como Brumadinho e Mariana tenham ocorrido com a Vale privada e nada parecido tenha ocorrido na época em que era empresa pública.

Há alguns anos, fazemos parte do Movimento Metrô Brasilândia Já, como tá na camiseta do meu camarada Takahashi. Esta luta surgiu pq a demanda por mais metrô na periferia é enorme. E a obra da estação Brasilândia ficou parada por 4 anos. Em meio a isso, denúncias de corrupção e de superfaturamento nas obras.

Nessa luta, os moradores de Brasilândia que constroem esse movimento estavam convictos de que mais metrô com privatização também não serve. A tragédia de hoje vai atrasar mais ainda as obras da linha 6 e mais ainda que o

metrô chegue na Brasilândia.

Exigir mais provas para afirmar que a privatização é a grande culpada por todas essas tragédias citadas é cobrar por mais tragédias como a de hoje.

Camila Lisboa é diretora do Sindicato dos Metroviários de São Paulo

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