Diante do quadro de absoluta destruição do Estado brasileiro, a saída para o país voltar a ter uma economia dinâmica – e corrigir distorções que geram o desemprego – passa por um projeto de reconstrução nacional, a partir do envolvimento direto de todos os setores da sociedade civil. A avaliação foi feita presidente Lula, em entrevista à Rádio RNE, da Espanha, nesta quinta-feira (16). “É preciso praticamente reconstruir o país. E para isso precisamos conversar muito, temos que convencer os trabalhadores, empresários, pequenos e grandes produtores rurais, de que juntos podemos construir um Brasil melhor”, declarou Lula, na entrevista.
“O povo voltou a um passado sombrio que havíamos superado”, argumentou o ex-presidente. “Precisamos reconquistar o direito do povo ao emprego, alimentação, educação e felicidade. E, para isso, é preciso provocar a autoestima do nosso povo. Dê esperança ao povo, faça-o acreditar, que vamos superar os problemas”.
Para o ex-presidente, é preciso atrair investimentos, que serão fundamentais para alavancar a economia. Mas, para isso, o país precisa inspirar confiança. “Temos um problema muito sério porque o Brasil tinha um peso industrial de 30% do PIB, agora é de apenas 11%”a, adverte o líder petista.
“Então, precisamos começar a recuperar a capacidade de investimento público, a investir em infraestrutura, a convencer o setor privado empresarial a investir, a conquistar a credibilidade que nos permite reter investimentos diretos do exterior”, analisa.
Para Lula, uma combinação de políticas de fomento e estímulo econômico, coordenadas pelo Estado brasileiro, poderá atacar o principal legado do neoliberalismo destrutivo de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes: a miséria. “Temos milhões de brasileiros passando fome, quando nós tínhamos acabado com a fome no Brasil. A ONU reconheceu que saímos do Mapa da Fome. E agora voltou. Existem muitas pessoas famintas, desempregadas, na economia informal”, apontou Lula.
Combate à fome deve ser prioridade
De acordo com Lula, a fome é uma chaga inaceitável, não apenas no Brasil, mas no mundo. “Estive com o Papa Francisco no ano passado para convencê-lo da necessidade de realizar uma campanha contra as desigualdades sociais no mundo. Não é possível que o mundo seja capaz de produzir mais alimentos do que a humanidade necessita e, ao mesmo tempo, ter quase 900 milhões de pessoas que vão dormir todas as noites sem ter com o que se alimentar”, ponderou.
“Daí a minha vontade de viajar por todo o Brasil, de falar com o povo, de falar com os governantes de toda a Europa, de falar com os chineses, com os americanos, para que saibam que o Brasil mais uma vez terá um sério governo, que o Brasil voltará a um governo civilizado que ama a democracia, que pratica a democracia, que é a melhor forma de recuperar a cidadania dos trabalhadores do nosso país”, declarou.
Legados do PT
Lula está convencido de que, apesar de ser uma missão difícil, é possível resgatar o país da atual condição de pária mundial, condenado por Bolsonaro, e alçá-lo novamente a um papel de protagonista regional e internacional. “Quando eu era presidente, o Brasil viveu o melhor período de inclusão social de sua história, o melhor momento de crescimento para os mais pobres”, lembrou o petista.
“Enquanto os Estados Unidos e a Europa, após a crise do Lehman Brothers, desempregaram milhões, nós criamos empregos, milhões de empregos formais. Portanto, durante a crise do Lehman Brothers, os mais pobres fizeram mais progresso aqui do que os ricos”.
Os legados dos governos do PT são, para o ex-presidente, suficientes para demonstrar que partido sabe governar. Ele lembrou, inclusive, que quando era presidente, o país ocupava a sexta economia do mundo. Hoje é a 12ª.
“Essa boa experiência dos governos do PT precisa voltar, governar o Brasil para que de uma vez por todas ele possa se recuperar e ficar ao lado dos países mais avançados do mundo, porque o Brasil tem muito potencial industrial, científico e tecnológico. Também possui uma natureza exuberante”, aposta Lula.
Eleições 2022
Sobre as eleições de 2022, Lula garantiu que, quando chegar o momento, o PT vai apresentar sua candidatura ao pleito presidencial. “Eu ainda não decidi. Quando fevereiro chegar, decidirei se devo ou não ser candidato. E, se o povo brasileiro concordar, estou disposto a ser candidato e vencer as eleições”.
Respondendo a uma pergunta do apresentador Íñigo Alfonso sobre se nutria algum sentimento de vingança por sua prisão injusta e se, por isso, seria candidato para se vingar, Lula foi taxativo. “Acredito que ser presidente de uma República do tamanho do Brasil, com a população que o Brasil tem e com o potencial de desenvolvimento e crescimento que o Brasil tem, não pode ser uma decisão pessoal”, disse Lula.
“Minha ‘vingança’ será provar que o povo brasileiro pode viver muito melhor, que pode trabalhar e que seus direitos fundamentais podem ser respeitados. Essa é minha vingança. O Brasil não nasceu para ser pequeno. É um território enorme, tem incríveis fronteiras terrestres e marítimas, de mais de 8 mil quilômetros. O Brasil possui muitas riquezas minerais. Tem florestas, selvas e temos que resgatar tudo isso que a natureza nos deu”, concluiu o Lula.
Da Redação da Agência PT