“Lula além da esperança é a justiça”, destaca o ver. Manoel Del Rio que assumirá em 2023

Foto do ver. Manoel Del Rio tirada em frente ao painel de imagens dos moradores da Ocupação da FLM na av. São João, centro de São Paulo - Crédito: Elineudo Meira

Governo Lula

Só o Lula para ganhar essa eleição mesmo, claro todo mundo trabalhou bastante e tal, mas o Lula foi extraordinário nesta eleição. Eu falo lá para o nosso pessoal, o Lula é a justiça. Porque eu falo que o Lula é a justiça, o pessoal pode pensar que é exagero. Um homem que fala que a pessoa tem que tomar café da manhã, almoçar e jantar. Isso é a justiça, que as pessoas têm que ter a dignidade humana, têm que ter moradia, isso é a justiça. Então, eu estou muito esperançoso, é claro que terão muitas dificuldades, pegou um governo quebrado, pegou os cofres limpos, mas o Lula vai consegui fazer muita coisa boa: melhorar o poder de compra do salário, vai investir mais na saúde, na educação, trabalhar o combate à fome. Lula vai fazer muita coisa boa. Eu tenho esperança e o que eu puder ajudar, vou trabalhar para que isso se concretize, o Lula além da esperança é a justiça.

 

Manifestações antidemocráticas

Estão tentando dar o golpe, criar um ambiente para dar um golpe, mas agora os espaços estão reduzidos, não tem adesão da mídia, de parte do próprio empresariado. Então, tem um grupo de empresários que está financiando.

Apresentação

Sou Manoel Del Rio, tenho 75 anos de idade, sou advogado, mas estudei letras também na USP. Eu nasci na roça, sou filho de pais lavradores, analfabetos, vim pra São Paulo com 15 anos de idade, fui trabalhar em fábrica de operário, fiquei muito tempo trabalhando nas fábricas, é como eu ingressei no movimento.

Eu trabalhava em um bairro operário, mas logo que eu cheguei em São Paulo houve o golpe militar e o golpe arrasou tudo, fechou os sindicatos, o movimento popular não existia, não tinha nenhum canal de comunicação. Então, no bairro tinha time de futebol e eu era do time de futebol da igreja, e sempre eu tive uma inquietação, que veio do meu pai, imigrante espanhol, analfabeto, tratou dez filhos no cabo da enxada, mas meu Pai tinha uma frase que ele falava assim: (às vezes o preço do café caia) quando a gente colhia não tinha valor, mas quando você tinha que comprar tinha, brasileiro trabalha e americano leva tudo. Então, isso ficou na minha cabeça, e aqui em São Paulo, quando trabalhei nas fábricas fui percebendo isso.

Então, no bairro que eu morava, eu jogava futebol no grupo da igreja católica. Naquele período aconteci o Concílio do Vaticano II, Conferência de Medellín, e nós tínhamos contato com o pessoal da Teoria da Libertação. Então, nós enquanto jovens, se envolvemos neste movimento da igreja católica.

Em 1968 houve o Ato Institucional número 5 e o nosso grupo resolveu fazer um ato contra o AI-5, então nós fizemos este ato. Eu lembro que o Ato Institucional foi no dia 13, era uma sexta-feira, no sábado, nós preparamos e no domingo fizemos os protestos contra, na missa. Eu considero o início da minha participação (nos movimentos sociais e populares) neste evento, já são mais de 50 anos, depois eu fui evoluindo, ajudei a igreja a organizar cursos profissionais, depois eu conheci um professor de alfabetização, nós dialogamos e aí resolvemos abrir um curso de Madureza na igreja para os trabalhadores. Curso de Madureza é o mesmo que EJA hoje (Alfabetização de Jovens e Adultos), que se chamava Madureza na época, a pessoa estudava e prestava exame (para mudar de grau escolar), na época que o governo promovia o exame de vez em quando. Naquele período eu estudava na USP, estudava Letras, e então a gente conversou e eu já tinha organizado curso profissional, vamos montar um curso pra operários. As pessoas precisavam do Madureza, porque concluíam o ginásio e as vezes concluía o colégio, mas inicialmente concluía o ginásio, e os trabalhadores precisavam do ginásio para, por exemplo, fazer o curso profissional. Então, nós montamos este curso.

Eu vejo que hoje têm os cursinhos da USP, eu digo que o nosso foi um dos primeiros, eu arregimentei os professores da USP, conheci um professor de história, depois de geografia e formamos um grupo de professores que criaram o curso na região leste: Vila Prudente, Parque São Lucas. Depois vinculamos isso à Pastoral Operária da igreja Católica, que abrangia São Mateus, Santa Madalena, na zona leste.

Quando vim do interior, já vim para zona leste, e construíamos casa aos fins de semana. Naquela época, os operários compravam um terreninho, se juntavam e faziam a casa, havia terreno para isso.

Sobre o movimento operário, eu trabalhei na Antarctica como ajudante de caminhão, motorista, trabalhei na Ford em São Bernardo, na SWIFT, trabalhava em fábricas. Eu levantava 5 horas da manhã, ia para a fábrica, depois ia para USP e dava aula no curso aos sábados à tarde na igreja católica. Nós vinculamos esses cursos (de jovens e adultos) na Pastoral Operária, quando começou a surgir as greves em 77, a luta pela reposição dos salários, a luta contra a carestia, eu já estava ali no meio, participava do grupo dos metalúrgicos de São Paulo.

Ditadura militar

Como foi iniciar sua militância em um momento de repressão com o AI5?

Era muito difícil, eu estava na USP e como éramos ligados a igreja, lembro que a repressão era muito seletiva, buscava o pessoal de organizações políticas, PCzão, MR8, VAR, AP. Na  USP, a gente sempre percebia uma pessoa estranha na sala, lembro que um deles veio falar comigo no ônibus, só perguntando. Mas depois viram que eu não tinha vinculo com organizações políticas, era mais ligado as pastorais da igreja católica, deixaram-me em paz.

Início no PT

As lutas operárias, eu me liguei ao grupo de metalúrgicos quando surgiram as greves em 78, 79, a gente acompanhava esses grupos metalúrgicos. A greve de 80 do ABC, que o Lula foi preso, nós organizamos vários comitês em São Paulo de apoio a greve do ABC. Tanto que depois eu vim conhecer o Lula, acho que em 82, 83, e fui trabalhar com ele no Anampos (Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais), o Lula coordenava com o Jacor Bitar, o Novaes. Então, tinha essa articulação, cheguei a trabalhar com ele e tinha a restruturação da CUT nacional. No meu bairro tinha núcleos do PT, na época não fui ativo no PT, eu tinha muito trabalho social, acompanhava a categoria dos metalúrgicos e achava que tinha que continuar na atividade social. Tanto que lá no meu bairro, na Vila Alpina, em 82, lançou-se candidato a vereador, o “Capeta”, um dos primeiros vereadores eleitos pelo PT. Queriam que eu fosse candidato, mas no início não era tanto ativo no partido, estava mais envolvido com os operários, os grêmios de fábrica e o movimento dos trabalhadores.

História no movimento – FLM

Eu participei do primeiro Congresso da Oposição Metalúrgica em São Paulo, foi realizado em 78, em 79, não me lembro. No Congresso tiramos que montaríamos associações de trabalhadores. A associação era para reuni trabalhadores, porque os sindicatos eram dirigidos por policiais na época da ditadura, então você tinha policial no têxtil, na metalúrgica. Os sindicatos eram controlados por policiais, então os trabalhadores não conseguiam se reunir em sindicatos. Então aqui em São Paulo, iniciou-se essa experiência de reuni os trabalhadores, ajudar a organizar essas associações. Nós organizamos cinco associações, associação dos trabalhadores da Mooca, do Tatuapé, da Lapa, da Sul e do Ipiranga e essas associações começaram a reuni operários. A gente dava curso de formação, fazia Cine Clube para reuni os operários e na Mooca eu era fixado na Associação dos Trabalhadores da Mooca.

Associação dos Trabalhadores da Mooca era característica porque tinha muita fábrica na região: a Villares, Fundição Brasil, Lorenzetti, Açúcar União, Antarctica. A nossa estatística dava quase 100 mil operários e metalúrgicos, sendo mais de 50 mil nesta região, então nós fundamos associação para aglutinar os trabalhadores. Fora isso, a Mooca também tinha muito Cortiço. Porque os trabalhadores preferiam morar em um Cortiço, a morar na periferia, na época em 79, o padre da igreja São Rafael contratou assistência social para fazer uma pesquisa nos cortiços e essa assistente social participava com a gente no movimento operário. Ela fez a pesquisa no Cortiço e aglutinou um grupo de mulheres na associação, essa pesquisa resultou que as mulheres queriam creche, então fizeram a luta por creche, conquistaram creche. Depois fizeram luta para baixar o custo da energia, baixaram o custo da energia, ali pelos anos 81 bateu a questão de moradia.

Eu continuava no trabalho operário e essa companheira com o pessoal da moradia, ela participava com a gente também e eu participava com eles, então a partir de 81 surgiu a necessidade de moradia e surgiu o grupo de luta por moradia na Mooca, que chamava movimento de luta por moradia nos quintais. A gente não falava Cortiço porque era pejorativo, então fizeram grupo de moradia, que foi excelente. Fizeram ocupação em 84 em um órgão da prefeitura, que tinha na Mooca. Essa época era gestão o Mário Covas e a Marta Godinho Soares, que era (ligada ao) Dom Paulo Evaristo, era secretária da Assistência Social e negociou a ocupação para ocupar três terrenos: Vila Industrial, Guaianases na Chabilândia e outro na Santa Etelvina, então o movimento de moradia cresceu.

Aí se criou a UFLC – União dos Moradores de Cortiços, ali se desenvolveu essa luta, que depois eu trouxe para o centro, luta por moradia no centro, porque se conquistaram esses terrenos na periferia. Em 88 se construiu nestes terrenos, o pessoal que morava nos cortiços da Mooca foi morar nestes terrenos de periferia. Só que eles não queriam, queriam morar na Mooca, perto do trabalho. Aí nos desenvolvemos a bandeira do morar perto do trabalho, ou morar no centro. Então, nós começarmos a pleitear moradia no entorno do metrô.

Tinha muita gente aqui (do movimento de moradia) que era do PT, fazia parte do PT, mas não é algo do PT, é luta social. Depois fiquei muito tempo, comecei a participar da moradia e as ocupações eram na periferia, na Juta. Tem um grupo imenso da Mooca na Juta, Rodolfo Pirani, Colorado, tudo foi indo pra leste. Aí eu peguei essa luta de moradia no centro. O que aconteceu, a Erundina ganhou, o PT ganhou a eleição, houve uma explosão do movimento de moradia em toda São Paulo, o nosso movimento cresceu muito.

Na época da Erundina, a secretária de habitação era Ermínia Maricato, explodiu a questão da moradia. Na Mooca, nós tínhamos um grupo que se reunia de quarta-feira. No final do mandato da Erundina eu tinha a visão de que a gente não podia perder a eleição. O PT não podia perder a eleição, na época não tinha reeleição, mas o PT não poderia perder, o nome na época era o Suplicy. Eu via que às vezes, o movimento fica pensando só nele e não vê a política, eu sentia que tínhamos que envolver o movimento na política, que não podíamos perder, que ia ser um retrocesso, aí resolvi sai candidato a vereador em 92.

Eu não fui eleito, mas foi importante, porque também eu formulei um rumo que adoto até hoje. A gente fundou também a “Apoio”, a entidade que eu sou fundador 96 a 92, a Associação de Auxílio Múltiplo. Em 92 nós entramos na campanha de combate à fome. Começou a ter muito desemprego com o governo Collor, e a Mooca ficava varada de desempregados nas filas. Então, eu fui fazer o Comitê de Desempregados, o pessoal fala Betinho, mas a campanha foi do Lula.  O Lula que levou uma proposta de segurança alimentar para o governo Itamar, aí saiu essa proposta da campanha contra à fome e nós começamos a campanha para coletar alimentos para o pessoal que estava desempregado, aí a gente fundou a Apoio.

Expectativa e desafios

A gente acha que vai poder ampliar a luta da Frente de Luta por Moradia, poder ampliar o trabalho social, a frente é por moradia, mas nós temos também outras ideias. Eu falo que o maior problema de São Paulo é a desigualdade social. Você tem em São Paulo 2 milhões de pessoas passando fome, quase 1 milhão de desempregados, você tem 10% da população como favelados, quase 1 milhão e 500 mil morando em favelas, você tem 40 mil pessoas morando na rua. O grande problema é a desigualdade social. Então, pela minha história vou trabalhar moradia. O que eu puder fazer por projetos habitacionais para apoiar a população de luta por moradia, eu vou fazer, e eu me lembro que pode.

Eu fiquei quase um mês em 2018 (como vereador na Câmara de Vereadores), e eu falei com (o prefeito da época) Bruno Covas (PSDB). A ideia era discutir projetos, a gente estava na oposição e ele topou, porque não tinha esse negócio de moradia, só que um mês depois eu sai.

Eu quero apresentar uma lista de imóveis, apresentar projeto e propostas e falar com os movimentos. Sei que não é isso que vai resolver, vai resolver se tiver pressão popular né. Então, vou trabalhar moradia, eu quero trabalhar o combate à fome, é uma coisa que eu sempre trabalhei. Nós temos um livro também, chama: “Fome em São Paulo”, que a gente fez por conta da campanha de combate à fome, que a gente tinha. O pessoal falava que não tinha fome em São Paulo. O livro foi feito só de fotos, juntamos vários fotógrafos para fotografar a fome. Então, tinha um cara comendo no lixo, eu ia fotografar, revelar a fome através do aspecto da pessoa.

Eu quero pegar esse eixo contra a fome, eu sempre apoiei a ideia do Suplicy da Renda Básica. Eu vou tentar trabalhar a questão do Bom Prato, que é uma proposta nossa da Apoio, quando nós fizemos a campanha contra a fome,  chamava de restaurantes populares, que era uma experiência do Peru. O Peru na época dos governos populares, tinha os Comedores Populares. A gente pegou essa ideia e formulamos o Restaurante Popular, depois o Mário Covas (PSDB) que deu essa configuração do Bom Prato. Nós conhecemos essa experiência, é um bom instrumental de combate à fome. Quero trabalhar também com a Juventude, eu comecei a militância na juventude, a juventude pobre, filha do trabalhador, não é toda juventude.

Eu fiquei um mês em 2018, eu era suplente, o (vereador) Donato se afastou para campanha e eu fiquei um mês lá (como vereador) no lugar dele, e apresentei 8 projetos, eu prôpus o Bom Prato Municipal. Eu vejo que agora com o governo Lula, o Lula vai focar nesse negócio da fome. Eu vejo que juntando governo federal, estadual e municipal poderia ampliar a rede Bom Prato, que realmente resolve. A entidade Apoio tem dois “Bom Prato”. Faz-se pesquisa, idosos, o pessoal que vai comer no Bom Prato, ele realmente sai da fome. Então, eu vou propor isso e o Primeiro Emprego pra Jovem, mas na verdade é uma Bolsa de Estudo em parceria com as comunidades, porque exemplo, comunidade x tem 50 vagas de bolsa para jovens estudar, mas que ele tenha que participar na comunidade, que é para fortalecer a organização popular. Como nós estamos na assistência social, vou trabalhar essa questão da assistência social. Muitos projetos nós temos em um livro, a proposta do Hospital do Craque, que agora eles fizeram um arremedo do que a gente propõe, lá em Perdizes, os Centros Integrados de Atendimento à População em situação de rua, vou trabalhar isso.

O mandato tem muitas surpresas, parece que você está indo pra um lado e te puxa para outro, tem que ficar atento a tudo, mas eu vou me fixar a trabalhar com a população pobre, ao pessoal que precisa de política pública. Claro, saúde, a gente tinha uma proposta de Casa de Maria, a gente acompanha o drama das mulheres, de jovens com gravidez prematura, a gente acompanha esses dramas todos e a Casa de Maria seria um equipamento específico para trabalhar com as mulheres, já teve algumas experiências, mas eles acabaram fechando por aí. A metodologia que eu falo, nós vamos trabalhar o processo legislativo lá, que não é fácil quando você é oposição, se o governo quer que o projeto vai, ele vai, se não, o projeto para  nas comissões. Mas nós vamos colocar para população: Você quer um Bom Prato, vamos colocar um Bom Prato aqui. Junta as associações, faz um abaixo assinado, junta a população, vamos lá para o governo e vamos pedir um Bom Prato aqui, por exemplo.

Bate bola

Lula – Justiça

Bolsonaro – destruição total

São Paulo – maravilhoso

Ricardo Nunes – prefeito medíocre

Lutas – única saída para os trabalhadores

Mídias sociais – deve ser utilizada por nossos agrupamentos para expor a nossa narrativa.

 

Diane Costa – Redação do PT São Paulo

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