Em encontro com estudantes da PUC-SP, Haddad ressalta a importância do diálogo e da mediação

Na noite desta quinta-feira, o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad, participou de debate no teatro TUCArena, na PUC-SP. Organizado pelo coletivo O Pulo, o ato contou com a participação de professores e alunos da instituição e visou refletir sobre o direito à cidade, tendo como base o plano diretor do município.

Após ouvir a explanação e os questionamentos dos professores Reginaldo Mattar Nasser, do Departamento de Relações Internacionais, e Matilde Maria Almeida Melo, do Departamento de Sociologia, e da estudante Elizabeth de Carvalho, aluna do terceiro ano do curso de Ciências Sociais e integrante do coletivo Prouni-se, Haddad respondeu os questionamentos – um a um – e falou sobre o andamento de projetos da sua administração.

Sem se furtar ao debate, o prefeito buscou dar respostas detalhadas, principalmente, aos projetos que tem mobilizado a opinião pública, como Parque Augusta, programa Braços Abertos e Favela do Moinho. Haddad começou sua fala ressaltando a importância do diálogo e refletindo sobre a onda conservadora em voga. Segundo ele, São Paulo não é uma cidade conservadora. “Aqui é uma cidade onde atuam forças conservadoras que atrapalham avanços importantes”, disse.

“Se pegar uma retrospectiva, desde a redemocratização, vocês vão ver que em qualquer tentativa de avançar no direito à cidade, as forças conservadoras se aliam rapidamente para impedir”, lembrou.

Ele também comentou os 10 anos de PROUNI, destacando a revolução que o programa fez ao ampliar o acesso ao ensino superior de forma gratuita. “Aquilo que parecia uma coisa absurda, se mostrou correta”, frisou.

O prefeito também comentou sobre os avanços obtidos com a aprovação do plano diretor. Ele ressaltou que o processo de construção do plano foi democrático e possibilitou que a população apresentasse suas reivindicações. “Eu não falo de partido, falo disso como política de Estado”, disse. A ampliação do acesso a moradia popular e a contrapartida que grandes empreendimentos terão de pagar à administração foram pontuadas. De acordo com ele, em 2 anos a prefeitura comprou terrenos que viabilizam a construção de 55 mil moradias. “O Habitat, da ONU, entendeu o plano diretor como um dos mais avançados do mundo”, lembrou.

Quando começou a falar sobre o Programa “De Braços Abertos”, Haddad falou que sua administração não tolera práticas de higienização”. “Higienização é tirar do local. Nós mantivemos lá. Oferecemos alojamento melhor, talvez não tão bom, mas melhor do que a situação na rua, alimentação e chance de trabalhar”, garantiu. De acordo com ele, 500 pessoas aderiram ao programa e o fluxo de dependentes na região reduziu de 1.500 para cerca de 300 por dia. Haddad defendeu que é parte da obrigação do poder público manter o tráfico fora da Luz. “Eu não posso deixar o trafico se instalar com barracas no espaço público. Quando isso corre passa a ter oferta de grandes quantidades, vem gente até do interior buscar (…) Estamos dispostos a pagar o pato da incompreensão à deixar as pessoas sem oportunidade”, frisou.

Em sua explanação, o prefeito ainda comemorou que pela primeira vez na história de São Paulo, hoje, ônibus anda mais rápido que carro e anunciou o início das obras do Hospital da Brasilândia. Segundo ele, a previsão de entrega é de 18 meses.

AO falar de temas que tem mobilizado a opinião pública, o prefeito ressaltou que é impossível resolver os problemas de São Paulo a partir de uma visão ideológica. “Muitos conflitos devem ser resolvidos por mediação. Quem achar que todos os problemas da cidade vão ser resolvidos a partir de uma lógica binária está enganado”, disse. Assim, o prefeito falou sobre o Parque Augusta, Favela do Moinho, Parque dos Búfalos, demarcação de terras indígenas e bailes funk.

Em relação ao Parque Augusta, Haddad se prontificou a receber para dialogar um grupo de jovens que diz ter um projeto que garanta o funcionamento do parque sem prejuízo aos cofres públicos. Sobre a Favela do Moinho, ele explicou: “O moinho é um `imbróglio` jurídico. Aquela área foi a leilão porque era da antiga rede ferroviária da União. O dono não pagou e devolveu. Enquanto ela era privada os moradores pediram usucapião. E isso se arrasta até hoje”. De acordo com ele, uma parte das pessoas aceita a oferta habitacional da prefeitura. Outros querem esperar a decisão sobre o usucapião. E há ainda uma parcela que não quer interação com poder público. Isso complica a situação das concessionárias em levar os serviços, por que seriam necessárias intervenções e remoções na comunidade. “Tem muita desconfiança e eu não tiro a razão da comunidade, pelo histórico de conflito e problemas que eles enfrentaram”, disse, garantindo que não faltou diálogo por parte da prefeitura. “Nós colocamos os servidores que estão dispostos a melhorar a vida da população”, garantiu.

A importância da mediação foi usada para explicar a situação do Parque dos Búfalos, na zona Sul. Haddad defendeu o diálogo como caminho para a solução. De acordo com ele, lá tem um projeto aprovado na Cetesb que garante um terço da área para moradia e dois terços para o parque. “É um conflito de pretensões legítimas. Quem saiu da área de risco quer morar. E quem quer o parque, quer 100% verde. Tem problemas técnicos, que são técnicos mesmo e não políticos”, ponderou.

Haddad ressaltou que vê a luta pela demarcação de Terras Indígenas no Jaraguá como uma luta digna e que, se houve êxito, será um feito histórico.

O prefeito usou os bailes funks para falar sobre como a administração municipal tem se empenhado em buscar soluções, usando o diálogo. Segundo o prefeito, depois que os organizadores de bailes funk conversaram com a Prefeitura e aceitaram realizar os eventos em espaços públicos ou com revezamento de ruas, o número de reclamações caiu 70%. “Aprovaram uma lei na Câmara que proibia os bailes funk. Eu vetei. Chamamos os organizadores de baile funk e dissemos `olha, nós vetamos a lei que criminaliza o funk, mas vamos conversar, vamos levar os pancadões para locais que não perturbem a população”, contou. Hoje são 22 grandes bailes na cidade por final de semana, com cerca de 8 mil pessoas em média, organizados em Centros Desportivos Municipais, campos de futebol e outros locais.

“A mesma situação vale para levar ônibus para zonas de preservação, construir moradias próximo à represa. Tem quem quer uma coisa e quem defende outra. Mas a solução disso não pode ser binária”, reafirmou, defendendo a mediação e o diálogo.

Fonte: Cláudio Motta Jr | Linha Direta

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