Alckmin usará volume morto do Alto Tietê

Dois meses após iniciar o bombeamento das águas do volume morto do Cantareira, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) anunciou que pretende fazer o mesmo com o Sistema Alto Tiete. Segundo maior reservatório do estado tem sido superexplorado desde dezembro para compensar a falta de água no Cantareira. Na quinta-feira (28), o volume armazenado do Alto Tiete ficou abaixo dos 22% de sua capacidade total – bem abaixo dos 62,7% registrados há exatamente um ano.

De maio para cá, o Alto Tietê perde por mês 5% de sua capacidade total, de 520 bilhões de litros. Das cinco represas que abastecem o sistema – Ponte Nova, Jundiaí, Taiaçupeba, Biritiba, e Paraitinga – duas forneceram reserva técnica e ambas já recuaram bastante. Caso a obra seja realizada, 25 bilhões de litros de água do volume morto deverão ser bombeados.

Para o prefeito de Embu e presidente do Comitê da Bacia hidrográfica do Alto Tietê, Chico Brito, a situação é mais grave do que se pensava. Usando a queda do Cantareira como parâmetro, as estimativas do comitê é que o volume morto do Alto Tietê não dure sequer 45 dias. “Nossa avaliação leva em consideração que a capacidade hídrica de Biritiba e do Jundiaí é bem menor do que a do Cantareira e ainda nem estamos no auge da estiagem, que ocorre no final de agosto”, analisou.

Por conta do anúncio da Sabesp, Brito convocou uma reunião de urgência para a próxima semana, exigindo a presença da companhia. Ele exigirá saber o que tem sido feito, visto que o plano de contingência para a gestão da crise hídrica até o momento não foi apresentado.

“Queremos sair dessa reunião com um posicionamento definido sobre o que vai acontecer com o reservatório. A irresponsabilidade que tomou o Cantareira está chegando ao Alto Tietê. Por uma questão de votos, o (governador Geraldo) Alckmin (PSDB) vai secar todos os reservatórios até passar o período eleitoral”, concluiu o presidente do comitê.

A menos de três meses de tentar a reeleição nas urnas, Alckmin não oficializou o racionamento, apesar das inúmeras denúncias de falta de água na região metropolitana de São Paulo. “Não há mais o que fazer. O volume morto do Cantareira já está sendo utilizado, agora eles querem usar o volume morto do Alto Tiete”, diz Roberta Baptista Rodrigues, doutora em recursos hídricos da Universidade de São Paulo.

Para ela, o racionamento deveria ter iniciado no segundo semestre do 2013, quando o Cantareira ainda contava com 50% do seu volume útil. “É possível fazer a captação de água do Paraíba do Sul, mas as obras demorariam pelo menos dois anos para ficarem prontas”, explicou. “De imediato, a solução é o racionamento”, concluiu a especialista.

Ela explica que a utilização do volume morto tardia a recuperação dos reservatórios, pois quanto mais se retira de água, mais rachaduras o solo começa a apresentar. “As rachaduras aumentam o contato com a atmosfera, de tal forma que tudo que chover vai acabar evaporando. Esse processo atrasa o reabastecimento. Em 2015, teremos grandes problemas para conseguirmos manter o volume útil desses sistemas em pelo menos em 50%”, alertou.

Promotoria – O Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), do Ministério Público, instaurou inquérito para verificar a regularidade na gestão do Sistema Alto Tietê. Para o promotor Ricardo Manuel Castro, há indícios de que faltam planos de contingência para o enfrentamento de crises de abastecimento de água e também de que há ingerência não técnica nas tomadas de decisões.

“Queremos verificar se a crise hídrica de São Paulo é uma questão ocasional por causa da falta de chuvas ou omissão na gestão do Sistema Alto Tiete”, explicou Castro. O promotor esclareceu ainda que não há informação oficial de que o pedido da Sabesp de usar o volume morto tenha sido acatado.

A Sabesp, o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) e a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) têm até a primeira semana de agosto para enviar todas as informações requeridas pelo promotor.

Fazer chover – O governo paulista gasta R$ 3,68 milhões para tentar fazer chover por meio da técnica de “bombardeio” de nuvens, que não é reconhecida por especialistas, nas represas do Alto Tietê. Mesmo processo é utilizado no Sistema Cantareira pelo governo tucano. A técnica consiste em bombardear, com um avião, gotículas de água potável em nuvens. Apesar dos gastos acima de R$ 4 milhões, a água do reservatório esgotou e agora e depende da retirada do volume morto para abastecer a região.

Por Camila Denes, da Agência de Notícias do PT

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