O “apagão” da água
por Carlos Neder*
Por mais que o governador Alckmin tente esconder, a situação real é que estamos muito próximos de um verdadeiro apagão da água no Estado de São Paulo. E o quadro só vai piorar durante a Copa do Mundo, quando inevitavelmente haverá aumento do consumo. Isso significa que, se nenhuma medida for adotada, não teremos água nas torneiras de nossas casas.
Há 10 anos o governo do PSDB, que está há cerca de 20 anos à frente da administração estadual, deveria ter construído uma nova rede de abastecimento. Ao renovar a concessão do Sistema Cantareira, em 2004, a Agência Nacional das Águas determinou que a Sabesp reduzisse essa dependência e aumentasse a oferta de água para abastecimento em volume equivalente à vazão atual.
Mas seguindo o cada vez mais questionável bom modelo de gestão tucana, que se esparrama também nos problemas nos trens e no metrô, nada foi feito. Com isso, as quase 9 milhões de pessoas que dependem da Cantareira se veem reféns do descaso do governo do PSDB e da falta de planejamento da Sabesp.
O fato de somente agora Alckmin começar, ainda de maneira tímida, a assumir a possibilidade de racionamento, com a súbita troca de comando da Secretaria de Recursos Hídricos, dá uma dimensão da gravidade da situação.
A realidade é que no Estado mais rico do país a população já convive com um rodízio forçado de água, inclusive em vários bairros da capital. A desculpa do órgão, que é ligado à administração estadual, é que se trata de interrupção momentânea no fornecimento por motivos técnicos. Uma grande mentira quando se sabe que o Sistema Cantareira já chegou a 12% de sua capacidade, a pior marca nos últimos 84 anos.
Especialistas dizem que se nada for feito com urgência a água certamente vai acabar em outubro. A situação é lamentável e muito revoltante, diante do alto lucro gerado pela Sabesp, com o pagamento de dividendos aos acionistas, enquanto faltam investimentos da empresa estadual para evitar crises como a que estamos vivendo.
O governo do PSDB é quem mais sai lucrando nessa história por ser o maior acionista da Sabesp. Para se ter ideia, entre 2011 e 2013, a gestão Alckmin recebeu R$ 725 milhões de dividendos. Enquanto isso, cidades como Guarulhos, com mais de 1,3 milhão de habitantes, enfrentam um duro racionamento desde o começo do ano.
A população de São Paulo precisa ter bem claro que a culpa da desastrosa falta de água é toda do governo estadual e da Sabesp. E do jeito que a coisa anda, não demora muito para que a população paulista tenha de incluir um novo componente em seu kit de higiene pessoal: caneca para tomar banho. Será essa a tão propalada gestão tucana de qualidade?
(*) Carlos Neder é médico e deputado estadual pelo PT-SP.