Juliana Cardoso: As margaridas não se curvam; juntas, marcham de novo por justiça e igualdade

Arte: Contag

2022 foi a derradeira página do desastre do governo do inelegível. E essa página carrega uma trágica herança, expressa em números cruéis e assustadores.

Dados extraídos da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelam que os feminicídios cresceram 6% no ano passado. Foram 1.437 mulheres mortas simplesmente por serem mulheres.

Ainda em 2022, 245.713 mulheres registraram Boletins de Ocorrência (BO) por agressões sofridas no ambiente doméstico ou dele decorrente.

Em outras palavras, diariamente, 673 mulheres acionaram uma delegacia de polícia para denunciar um episódio de violência doméstica. O crescimento foi de 2,9% em relação ao ano anterior.

É nesse contexto de recrudescimento dos números de agressões contra as mulheres que se situa também a violência política de gênero.

Violência política de gênero é assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar uma parlamentar com discriminação devido a sua condição feminina. Em casos extremos, chega à execução, como aconteceu com Marielle Franco.

Violência política de gênero não é novidade no Brasil.

Existe desde a primeira mulher eleita, mas ela se acentuou nesse último período, sob governo Bolsonaro, sobretudo contra mulheres que são assumidamente feministas e de esquerda.

São mulheres que se posicionam contra o pensamento conservador e arcaico.

E a violência acontece até em ambientes inesperados, em espaços institucionais onde deveria prevalecer o diálogo, a tolerância e respeito.

Segundo levantamento de 2021 do jornal O Globo, oito em cada dez deputadas e senadoras já foram vítimas desses ataques no Congresso Nacional.

A violência adquire formas como assédio moral e sexual, interrupção frequentes das falas, cerceamento das atividades parlamentares e racismo.

Nas redes sociais os ataques se amplificam com ameaças de estrupo e até de morte. Na enquete do jornal O Globo, um terço das parlamentares ouvidas relataram que foram chamadas de loucas.


É também nesse contexto que acontece todo ano um evento bastante simbólico, da maior magnitude e merecedor de admiração.

FLORES NÃO SE CURVAM 

São as mulheres originárias de vários pontos do Brasil que se mobilizam para a Marcha das Margaridas.

Nesta 7ª edição, que acontecerá em Brasília entre 15 e 16 de agosto, a pauta central é: “Margaridas em Marcha pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”.

Coordenada pela Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), a Marcha das Margaridas é protagonizada por mulheres trabalhadoras do campo, das florestas e das águas para construir visibilidade pública e conquistar reconhecimento social e político.

O nome é inspirado na vida e luta de Margarida Maria Alves, sindicalista paraibana da cidade de Alagoa Grande, assassinada em 1983 por um matador de aluguel a mando de fazendeiros. Ela foi a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade nos anos 1970.

Como parte do esforço de mobilização são realizadas reuniões, encontros de formação, lançamentos e ações de arrecadação de recursos pelo País e que servem de preparativos para o evento de Brasília.

O governo federal já recebeu as pautas de reivindicações.

No documento são citados os retrocessos dos últimos quatro anos e os caminhos para a reconstrução do Brasil na perspectiva feminista de construção da igualdade.

E isso incomoda as forças reacionárias que desferem ataques para criminalizar as lutas populares.

Mas, toda essa escalada da violência acontece com o propósito da mulher desistir da política, para que deixe de defender as suas convicções e crenças.

Essa é a reação patriarcal diante da presença cada vez mais qualificada e independente da mulher nesses espaços.

Por isso, mais do que nunca reafirmamos: nossas flores não se curvam diante da violência política de gênero. Juntas, novamente as margaridas marcham por justiça e igualdade.

*Juliana Cardoso é deputada federal eleita para o mandato 2023/2026. Faz parte da Comissão de Saúde e da Comissão de Mulheres, além de suplente na Comissão dos Povos Originários e Amazônia.

 

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