Pelo menos 225 mil mortes por Covid-19 poderiam ter sido evitadas no Brasil não fosse a negligência do governo Bolsonaro na condução da maior crise sanitária da história. A afirmação categórica é do epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas Pedro Hallal. Em reunião do Conselho Nacional de Saúde (CNS), o profissional, que é coordenador da pesquisa Epicovid, também alertou que o Brasil representa uma ameaça mundial à saúde pública.
“Não existe argumento científico que justifique esses números como aleatórios”, apontou o epidemiologista, na reunião por videoconferência, ocorrida na quinta-feira (25). “A estrutura do SUS nos daria possibilidade de sermos referência mundial no enfrentamento à Covid. 225 mil dos 300 mil óbitos poderiam ter sido evitados. Já são mais de 12 meses de negacionismo”, condenou Hallal.
Ele observou que o país responde por 10,8% das mortes mundiais nas últimas duas semanas. Desde o início do surto, já são 25% as mortes no planeta.
O pesquisador enumerou os graves erros do governo que resultaram na catástrofe brasileira, como a falta de priorização em testagens e rastreamento de casos suspeitos, a campanha de desinformação adotada por Bolsonaro e a recomendação de medicamentos sem eficácia comprovada e potencialmente mortais, como a cloroquina.
Para Hallal, é preciso acelerar a vacinação a um ritmo de pelo menos 1,5 milhão de doses aplicadas por dia. “Precisamos de uma aliança nacional e internacional pela disponibilização de doses da vacina. O Brasil é uma ameaça à saúde pública mundial, somos uma fábrica de variantes”, ressaltou.
Nesta segunda-feira (29), o cientista publicou um artigo na Folha de S. Paulo no qual alerta o novo ministro da Saúde Marcelo Queiroga sobre a importância de reaproximar a ciência da pasta.
“Valorize o contraditório e crie um Comitê Científico Nacional para o enfrentamento do coronavírus, composto por profissionais de saúde e pesquisadores de diversas áreas”, aconselhou. “O senhor pode ajudar a “furar bolhas”, juntando profissionais com diferentes posições científicas, trabalhando juntos, a serviço da vida’.
Ampliação de leitos
No artigo, Hallal também advertiu o ministro sobre a ineficácia de se apostar apenas na ampliação de leitos como solução isolada para crise. “O funcionamento de um leito depende de profissionais, e esses são finitos”, lembrou o epidemiologista. “Não se vence uma pandemia criando leitos, mas, sim, restringindo a circulação do vírus e vacinando a população”.
Da Redação da Agência PT com informações de CNS e Folha