Gleisi alerta contra manipulação política e religiosa do fascismo

Reprodução - ICL

Em entrevista ao ICL Notícias, a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), alertou, nesta segunda-feira (22), para os riscos à democracia trazidos pelo discurso manipulador da extrema-direita, que tenta livrar Jair Bolsonaro e outros golpistas da cadeia e firmar a mentira de que eles são perseguidos por uma ditadura instalada no Brasil.

“É um perigo isso, porque nós estamos lidando com a extrema direita, com o fascismo, e a gente não pode brincar com isso, porque se eles escalam e se eles vencem uma parada política, aí nós vamos ver o que é ditadura, aí nós vamos ver o que é censura”, afirmou Gleisi.

“Até porque, pelo que eles fazem, pelo discurso que eles têm, a forma como eles reagem, a gente já vê logo que eles não têm diversidade e nem apostam na democracia. Ali, sempre o que comanda o processo é o homem, que tem que ter muita testosterona. Para as mulheres tem pouco espaço”, acrescentou.

Segundo Gleisi, é como se não existisse a diversidade feminina, como se as mulheres não fossem importantes para o processo, assim como os negros, os indígenas, os LGBTs e os jovens.

“Ou seja, o discurso é de uma mão só, com uma visão só, sem apostar na diversidade do Brasil. Então, ali está exatamente o ninho do autoritarismo, da censura, e que nós precisamos combater”, enfatizou.

Perigosa adesão da mídia

Durante a entrevista, a presidenta do PT também condenou a atuação da mídia corporativa, que tem aderido ao discurso fascista com editoriais e matérias questionando a atuação do ministro Alexandre de Moraes, responsável pelas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado e outros crimes no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Eu acho que o trabalho que está sendo feito pelo STF, também pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e, principalmente, pelo ministro Alexandre de Moraes é fundamental para a democracia. Por isso me preocupa muito posições como da Folha de São Paulo ou até de gente que fala dizendo que o Alexandre está se excedendo, que isso ataca a democracia”, disse Gleisi.

Segundo a deputada, “essa postura muito problemática que alguns meios de comunicação estão tendo, de se fazer um discurso fácil de democracia, contra censura, na realidade estão dando corda para a extrema-direita e para o fascismo”.

”Bolsonaro é ladrão”

Gleisi também foi questionada sobre os ataques feitos por Bolsonaro contra o presidente Lula e o governo durante a manifestação fascista de domingo (21), em Copacabana, no Rio de Janeiro.

“Primeiro, o Bolsonaro não pode dizer que ele não pode ser chamado de ladrão, porque ele é ladrão. Tem um inquérito, inclusive, com provas incontestes, do roubo das joias que eles fizeram, a tentativa de vender essas joias, joias do Estado brasileiro, que não foram vendidas porque teve o inquérito, a Receita Federal descobriu e teve o inquérito”, pontuou a presidenta do PT.

“E também o processo todo, o inquérito sobre a tentativa de golpe, de roubar as eleições”, acrescentou a deputada, citando ainda outras suspeitas que pairam sobre o ex-presidente e sua família “recheada de problemas”.

“São as rachadinhas, desvios de dinheiro, compras de casa, recursos que não são explicados. Todos eles ali são da política, são deputados ou senadores, a gente sabe qual é o salário que ganha cada deputado, cada senador, não dá para enriquecer e ter tudo o que eles têm”, questionou.

Segundo Gleisi, Bolsonaro “vai ter que confrontar isso em todos os momentos, é uma retórica que ele tenta colocar e escalar para cima do presidente Lula, que foi inocentado de todas as acusações que foram feitas, foram vários processos e todos foram arquivados, isso é bem importante deixar claro, e a gente sempre falar para a população”.

Ataques à soberania do Brasil

Gleisi também alertou para os riscos trazidos à democracia e à soberania do país pela aliança entre a extrema-direita e o bilionário sul-africano Elon Musk, dono da plataforma X. Durante o ato fascista em Copacabana, o empresário foi efusivamente elogiado por Bolsonaro e aliados por espalhar a fake news de que há uma onda de censura no Brasil.

“Bom, se nós não tivéssemos liberdade no Brasil, ele [Bolsonaro] não estaria em cima de um caminhão de som, falando todas as barbaridades que ele falou; nem ele, nem [Silas] Malafaia, muito menos andando pelo Brasil, como ele disse que está andando”, afirmou a deputada.

“Então, nós temos liberdade de expressão, nós temos liberdade de manifestação. As pessoas vão para a rua, usam redes sociais, o que nós não podemos ter é crime, fake news, contar mentira, utilizar isso para atacar as pessoas. Isso tem que ser responsabilizado, isso tem que ser na rede social, ou em TV, ou em rádio, ou em qualquer outro meio de comunicação”, afirmou a parlamentar, frisando que, no Brasil, as TVs e as rádios, ao contrário das redes sociais, são reguladas.

Gleisi reforçou que as forças democráticas devem se unir para fazer uma disputa contra o “discurso perigoso” do fascismo “para não deixar pessoas que não sejam dessa bolha dele se envolver com esse discurso e achar que o Elon Musk é realmente um democrata por ter a plataforma X e por colocar lá todas as besteiras e absurdos que eles falam”.

Manipulação da fé

Outro assunto tratado na entrevista foi a estratégia fascista de explorar a fé das pessoas para estimular o ódio e favorecer interesses políticos, como voltou a ocorrer no ato em Copacabana.

“Não podemos deixar a fé ser instrumentalizada”, disse Gleisi, condenando os discursos que colocam “Deus a serviço de um projeto político como se fosse cabo eleitoral”. A parlamentar alertou para o fanatismo e a violência que essa perigosa mistura pode gerar no país.

“Isso é muito complicado, porque isso gera intolerância, isso gera ódio, e isso gera, principalmente, uma descaracterização da fé”, alertou a presidenta do PT. “Eu acho que cada vez mais nós temos também que esclarecer a população, porque Deus não pode ser instrumentalizado, a fé não pode ser instrumentalizada”, enfatizou.

A deputada destacou que esse foi um dos temas discutidos durante a 1ª Romaria dos(das) Parlamentares, realizada no fim de semana pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Santuário de Nossa Senhora Aparecida (SP), sob o tema “Fraternidade, Amizade Social e Política”.

Gleisi, que participou do evento junto com parlamentares do PT e de outros partidos, defendeu, na entrevista, que os riscos representados pela instrumentalização da fé devem ser tema de discussões com todas as religiões do país.

“Eu acho que essa conversa nós temos que ter com os católicos, nós temos que ter com os evangélicos, nós temos que começar a alertar para isso, não ter medo de falar sobre isso. Todo mundo tem fé, a gente tem que falar da nossa fé, da nossa crença, e alertar para os riscos de a gente ter um confronto religioso no país, que é um absurdo”, disse a deputada.

Ela alertou: “A humanidade já assistiu a isso, nós sabemos aonde dá, e não contribui em nada, inclusive para os ensinamentos de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, isso é uma coisa Importante”.

Gleisi também foi perguntada sobre o que o PT e o governo Lula podem fazer para estreitar o diálogo com os evangélicos. Segundo a deputada, o importante é passar para esse público que as políticas federais em andamento, principalmente as voltadas à melhoria das condições de vida da população, não fazem qualquer distinção entre religiões e são para todos os brasileiros.

“Eu acho que a gente tem que ter uma conversa sobre o que o governo está fazendo para o povo. O povo evangélico é um povo que trabalha, que luta, um povo trabalhador. Grande parte ganha pouco, ganha baixo, tem problemas, e o governo tem feito projetos importantes para isso”, disse a parlamentar.

Ela citou como exemplos políticas como o Bolsa Família, “que beneficia majoritariamente mulheres”; o Farmácia Popular, o Minha Casa, Minha Vida; e o Pé-de-Meia, que garante uma poupança de até R$ 9 mil para estudantes do ensino médio da rede pública para reduzir a evasão escolar.

“O que nós temos é que mostrar o que esse governo está fazendo pela maioria das pessoas. E dizer que isso não era feito em outro governo, que não tinha essa preocupação. Eu acho que é essa ofensiva que a gente tem que fazer com o público evangélico e com qualquer outro público para qual nós governamos”, afirmou a presidenta do PT.

Da Redação da Agência PT 

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