Francisco Chagas: O sucesso do BRICs e a ameaça da OTAN

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O fato mais relevante da geopolítica mundial desde a dissolução da URSS em 1991 foi a realização da 15ª cúpula do BRICS em Joanesburgo (África do Sul) em 24 de Agosto de 2023 que consignou a ampliação para BRICS 11 com a entrada da Argentina, Arabia Saudita, Emirados Árabes, Egito e Etiópia.

A expansão ocorreu com a concordância dos 5 países que compunham o bloco e com comprometimento de todos para reformar o sistema de governança global, em especial a ampliação do conselho de Segurança da ONU o qual o Brasil almeja ser membro permanente.

Uma das medidas é a criação de mecanismos para promover comercio entre os seus membros e outras nações por meio de moedas locais, instrumento essencial para livrar as nações em desenvolvimento da dependência do dólar que hoje é um instrumento limitador para o desenvolvimento pleno das nações do chamado “Sul Global”. Utilizado inclusive como arma de guerra para causar danos arrasadores às nações que se contrapõem aos interesses do império norte americano, provocando grandes prejuízos aos povos emergentes.

A expansão também teve como premissa o equilíbrio geográfico – uma das razões da entrada da Argentina, mesmo sabendo das dificuldades pelas quais passa o nosso país vizinho e irmão que enfrenta graves problemas econômicos e sociais e uma crise política importante com a ascensão da extrema direita neofacista ancorada na figura de Javier Milei.

A expansão do grupo, agora BRICS 11, passa a representar 46% da população do planeta e um PIB de 36,6% em poder de compras. Segundo o Lula, o BRICS 11 ultrapassou o G7 no PIB mundial e é força motriz do Sul Global. “Si vis pacem, para bellum”

A expressão que vem do latim, e usada em vários lugares e ramos de atividades, quer dizer: Se quer paz, prepare-se para guerra. Nós estamos num claro processo de reordenamento da geopolítica mundial com a ascensão de um processo poli cêntrico com clara reviravolta e contestação da
unipolaridade do império norte americano com o apoio do ocidente europeu que surgiu após o fim da URSS. Nesse período, e para fazer valer seus interesses, os EUA por meio de “a ordem baseada em regra”, rasgou a legislação internacional e atropelou as regras da ONU e de seu conselho de segurança quando invadiu o Iraque, o Afeganistão, chafurdou na Síria, destruiu a Libia, fomentou incentivos para guerras e conflitos regionais na África e Oriente Médio, interviu nos Bálcãs, e hoje coordena e financia a guerra na Ucrania contra a Rússia com a participação da OTAN provendo
treinamento, armas, equipamentos, assessoria militar, recursos financeiros e propaganda em grande escala. A OTAN é um instrumento político militar das potencias imperialistas ocidentais com hegemonia anglo saxônica, e é usada para impor sua dominação sobre os povos e nações não aderentes, utilizando-se do recurso de força militar e de poderosos meios de comunicação e propaganda, estimulando cisões étnicas, religiosas, culturais, territoriais, para impor fraturas e destruição. Segundo analistas militares, entre eles o General português Agostinho Costa, essa guerra não tem saída no campo militar, mesmo assim abre-se uma corrida armamentista na Europa que hoje está entrando numa recessão e segue uma política de vassalagem em prejuízo de seu próprio povo.

Acredito que a perda de relevância relativa dos EUA, e seus vassalos do Norte Global, açodará sua histórica conduta de rapinagem na direção do nosso continente. Portanto não podemos ver como piada as declarações de Gunther Felinger, economista austríaco e presidente do “Comitê Europeu para a expansão da OTAN”, com ataques ao nosso presidente Lula pelos avanços do BRICS 11 e sua agressiva proposta de desmembrar o Brasil:

“Após essa cúpula do BRICS eu começo à me perguntar se o Socialista Corrupto Lula não é a esperança do ‘Mundo Livre’ mas que irá liderar o Brasil à mesma direção da Russia, China e Irã. Deixo bem claro que se Lula juntar-se ao Eixo Genocida eu vou pedir para a desmantelação do Brasil”;  E logo depois diz: “Eu chamo para o povo livre do Brasil para se desmantelar […] em 5 novos e melhores Estados livres que podem ser integrados na OTAN” no twitter.

Pode ser que essa pessoa não represente a OTAN, mas certamente representa o pensamento das principais lideranças que a compõem. Essa intromissão estrangeira deve ser vista como uma agressão e ameaça à nossa soberania e integridade territorial. Temos que ficar alerta, porque talvez tenhamos o reinício de uma guerra híbrida que teve como expressão os eventos de 2013, o golpe contra Dilma em 2016, a prisão de Lula em 2018, e os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 e que ainda podem escalar.

Precisamos ter clareza que não fazemos parte desta aliança atlantica, até porque muitas pessoas, mídias corporativas, políticos, militares e empresários, todos com suas mentes colonizadas, acreditam que a OTAN é um tipo de “Anjo Vingador” à espera de uma legião de Nefilins trajando camisetas vermelhas com estrelas e portando foices e martelos.

Não podemos aceitar que enquanto as potências imperiais e suas grandes corporações e ONGs flanem no nosso território, em especial a nossa Amazônia, cobiçem as nossas riquezas, e que as Forças Armadas ocupem seu precioso tempo discutindo urnas eletrônicas e blindagem de seus membros envolvidos em ilicitudes, conspirem para concorrer com o poder civil definido na nossa Constituição e esqueçam as suas atribuições mais importantes que são a defesa do nosso território, das nossas fronteiras e da nossa soberania.

Está na hora dos nossos militares abandonarem essa doutrina do inimigo interno, assumir as responsabilidades pelos erros cometidos por membros da instituição ao se envolverem com o bolsonarismo golpista que ameaçou a paz, a nossa democracia e a soberania, e perceber que o inimigo está lá fora nos observando com ódio e cobiça.

Francisco Chagas – Vice Presidente do PT Municipal, Ex Vereador (SP) e Ex Deputado Federal

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