Em 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) elevou sua média diária de declarações falsas ou distorcidas checadas por Aos Fatos: foram 6,9 falas enganosas por dia. A frequência supera o acumulado de inverdades ditas diariamente por ele desde a posse (4,3).
O volume de desinformação verificado no discurso do presidente avançou mais em 2021 em relação aos anos anteriores. Em 2019, 606 declarações foram classificadas como falsas ou distorcidas (média de 1,6 por dia). Já em 2020, foram 1.592 alegações enganosas (4,36). No ano passado, 2.516 falas continham informações improcedentes (6,9 por dia).
O agravamento da pandemia em 2021 ajuda a explicar por que a retórica desinformativa de Bolsonaro atingiu um novo patamar. Somente sobre Covid-19, o presidente deu 1.278 declarações enganosas no ano passado, o que representa mais da metade (58,5%) de todas as alegações falsas e distorcidas ditas por ele desde que a doença surgiu (2.183).
Assim como em 2020, o argumento falacioso sobre a pandemia mais repetido por Bolsonaro (46 vezes) no ano passado foi o de que o STF (Supremo Tribunal Federal) o impediu de agir para conter a Covid-19 e delegou essa atribuição aos gestores locais. A corte decidiu, na realidade, que prefeitos e governadores têm legitimidade para tomar medidas locais de restrição e isolamento, mas não eximiu o presidente de agir no que caberia ao governo federal.
Com o avanço da vacinação, alegações desinformativas sobre os imunizantes também ganharam mais espaço na retórica de Bolsonaro: foram 357 afirmações falsas e distorcidas. A campeã em repetições (52 vezes) foi a declaração de que o Brasil é o que mais vacina no mundo. Embora esteja hoje bem posicionado no ranking que considera o número absoluto de vacinas aplicadas, o país está atualmente em 37º em dados proporcionais à população.
Por outro lado, alegações enganosas em defesa de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 apareceram um pouco menos em 2021. No ano passado, foram 190 afirmações a favor do uso de cloroquina e outras drogas ante 215 ditas em 2020. A mais repetida no ano passado por Bolsonaro (73) foi a de que a hidroxicloroquina o curou da doença.
Economia
Em um contexto de inflação, desemprego e desvalorização do real, o presidente quintuplicou em 2021 o número de declarações enganosas sobre temas econômicos: foram 396 no ano passado ante 75 em 2020.
A declaração mais repetida (58 vezes) foi a de que o país criou mais empregos formais em 2020 que em 2019, mesmo com a pandemia. Uma revisão nos números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) feita em novembro aponta, na realidade, para o fechamento de 191.500 vagas de emprego em 2020. Antes mesmo da revisão, já se sabia que a comparação com o ano anterior era indevida, pois foram feitas mudanças na metodologia da base de dados.
Em 24 ocasiões, Bolsonaro também afirmou que o Brasil teria sido o menos impactado por problemas econômicos decorrentes da pandemia em 2020, o que é falso. No segundo trimestre de 2021, o país estava em 38º lugar entre as 48 maiores economias do mundo em termos de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), segundo a consultoria Austin Rating.
Urnas
Entre os temas das declarações checadas do presidente em 2021 destacam-se ainda eleições (145 declarações), corrupção (118) e meio ambiente (105).
A declaração mais repetida (27 ocasiões) entre as denúncias infundadas e ataques feitos ao sistema eleitoral brasileiro é a de que as urnas eletrônicas atuais não permitem a auditagem dos votos. A Justiça Eleitoral dispõe de diversos mecanismos e procedimentos que possibilitam a revisão dos resultados, como o registro digital do voto, o log da urna eletrônica e verificações prévias e posteriores dos equipamentos.
O presidente disse em 112 ocasiões no ano passado que não havia denúncias ou suspeitas de corrupção relativas ao seu governo. Além de o relatório da CPI da Covid-19 ter pedido o indiciamento dele e de integrantes do governo por prevaricação, emprego irregular de verbas públicas e falsificação de documento particular, atuais e antigos auxiliares são investigados por suspeitas de corrupção. A frequência de repetições torna essa a alegação enganosa mais repetida por Bolsonaro em 2021.
Já no que diz respeito ao meio ambiente, Bolsonaro disse 20 vezes no ano passado que, por ser úmida, a floresta amazônica não pegaria fogo, o que não é verdade. Ainda que seja, de fato, ultraúmida, a mata pode entrar em combustão por meio da ação humana, e quanto mais desmatada a área, mais propensa ela é para incêndios.
Ao ampliar contato com emissoras de rádio simpáticas ao governo, Bolsonaro transformou as entrevistas em seu principal meio difusor de desinformação. Em 2021, o presidente deu 704 alegações enganosas durante conversas com a imprensa, o que corresponde a 28% do total de informações improcedentes checadas durante o ano. Desde a posse, foram disseminadas 1.339 desinformações por esse meio.
Antes responsáveis pelo maior volume de declarações desinformativas, as transmissões ao vivo em redes sociais passaram à segunda colocação em 2021. Nas lives, onde o presidente fala de improviso e age em tom mais descontraído, surgiram 676 falsidades, 26,8% do total de desinformação do ano passado. Desde janeiro de 2019, foram 1.353.
Na sequência, vêm os encontros com apoiadores, com 527 alegações (21% do total de 2021) e os discursos, com 482 (19,1%). Considerando os três anos de mandato, foram disseminadas, respectivamente, 735 e 902 declarações improcedentes por esses meios.
Referências:
1. Aos Fatos (Fontes 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13)
2. Folha de S.Paulo
3. Our World in Data
4. Deutsche Welle
5. G1 (Fontes 1, 2, 3, 4)
6. UOL
7. O Globo (Fontes 1 e 2)
Do site Aos Fatos