O presidente Jair Bolsonaro está promovendo pânico e confundindo a opinião pública, enquanto dispara sinais contraditórios sobre a campanha de vacinação do Covid-19. Depois de conduzir de maneira desastrosa uma campanha para imunizar a população contra o novo coronavírus, fazendo corpo mole e fugindo de sua responsabilidade, Bolsonaro continua a negar-se a definir o rumo de uma política de saúde pública segura. Enquanto isso, pipocam nas redes sociais uma onda de boatos e mentiras duvidando da eficácia do tratamento imunológico da doença, colocando o país numa encruzilhada difícil para o enfrentamento da pandemia.
Nesta segunda-feira, 14, Bolsonaro voltou a se comportar como um líder negacionista, transferindo a responsabilidade da vacinação para a população. Em Brasília, ele disse a apoiadores que ninguém é obrigado a tomar o medicamento. “Não é obrigatória”, declarou, em frente ao Palácio da Alvorada. “Vocês vão ter que assinar o termo de responsabilidade, se quiserem tomar. Tem gente que quer tomar, então toma. A responsabilidade é sua. Para quem está bem fisicamente, não tem que ter muita preocupação. A preocupação é o idoso, quem tem doença”.
Médicos sanitaristas e especialistas condenaram o comportamento de Bolsonaro, classificando como desastrosa a maneira como ele conduz a crise sanitária. “É extremamente infeliz e irresponsável essa fala do presidente quanto a exigir de indivíduos que tenham interesse em se vacinar contra a Covid assinatura de um termo de responsabilidade”, criticou Paulo Almeida, advogado e diretor-executivo do Instituto Questão de Ciência (IQC). “Isso vai diminuir a cobertura vacinal”, advertiu.
A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o programa nacional de imunizações do Ministério da Saúde, disse que Bolsonaro erra ao condicionar a vacina a um termo de responsabilidade. “Estamos falando de uma vacina que já vai ter registro da Anvisa”, declarou. “Qual é o objetivo de fazer um termo desse? Isso vai inviabilizar qualquer campanha de vacinação”.
O comportamento anti-científico de Bolsonaro, sua condução desastrada do enfrentamento da pandemia e sua falta de discernimento se tornaram um problema grave para o país. E a boataria se dissemina como uma praga, com mentiras sendo replicadas de maneira criminosa, espalhando o pânico efeitos colaterais inexistentes.
Fake news disseminadas são um perigo
Agências de checagem se esmeram para desmentir que a Anvisa tenha flagrado vacinação ilegal da CoronaVac em jogadores do São Paulo, que a inglesa a receber vacina da Pfizer tenha sido medicada com a dose em outubro, ou que as vacinas contra a Covid-19 não são capazes de alterar o DNA. Tais notícias são mentirosas, mas estão se disseminando de maneira assustadora nas redes sociais, num ambiente tóxico como o das eleições de 2018, quando a máquina de mentiras do bolsonarismo atuou sem freios e de maneira incontida.
Outros boatos pipocaram sem nenhum tipo de controle na última semana. A agência Aos Fatos desmentiu, por exemplo, que Trump tenha aprovado projeto de lei que obriga a implantação de chips nas pessoas. Também informa que não é verdade que a vacina cura Covid em três horas. Outra mentira é que o governo de Israel recomenda gargarejo com limão e bicarbonato para prevenir Covid-19.
As mentiras são replicadas de maneira tão incessante que já se tornaram elas próprias um problema a mais de saúde pública. Em meio às notícias falsas e boatos, espalham-se medo e desorientação. É falso, por exemplo, que a vacina do Covid-19 cause infertilidade em mulheres. Também é mentira que tomar água de 15 em 15 minutos ajude a prevenir Covid-19. Outra mentira é que o governo da Austrália tenha recomendado o uso de ivermectina para pacientes doentes por causa do novo coronavírus. Isso não é verdade, assim como é falso que o Instituto Virológico de Wuhan e a Pfizer sejam de propriedade da GlaxoSmithKline.