Das 530 mil crianças brasileiras entre 7 e 14 anos que estão fora da escola, 330 mil são negras. Esse dado, recolhido no site do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mostra como a exclusão caminha ao lado do preconceito racial, atingindo exatamente a camada da população que vai ser o futuro do país, no qual, espera-se, a discriminação esteja ausente.
Para contribuir com a transformação dessa realidade é que o deputado Donisete Braga (PT), em parceria com o Unicef, lançou nesta quinta-feira, 16/6, na Assembleia Legislativa, a cartilha Por uma Infância sem Racismo. O documento, apresenta dez propostas em prol do combate ao racismo na infância.
“O governo brasileiro tem promovido muitas ações em prol das crianças e dos adolescentes. Mas ainda há um longo caminho a percorrer para que todos sejam livres e iguais em dignidade e direitos”, afirmou Donisete Braga, ao convocar a sociedade ao engajamento na campanha de combate ao racismo na infância.
O evento contou com a participação de representantes do Unicef. Sílvio Kaloustian, coordenador de programas do escritório da entidade para São Paulo, Minas Gerais e o Sul do Brasil, que destacou que a luta contra a discriminação racial é hoje uma área prioritária do Unicef.
“Indicadores de mortalidade infantil e inclusão escolar mostram que o Brasil avançou. Mas continua acontecendo, e não podemos aceitar que milhares de jovens negros e indígenas tenham dificuldade de acesso aos seus direitos. O Unicef espera que o Brasil inteiro vista a camisa contra o racismo”, completou Adriana Alvarenga, especialista em educação do Unicef.
O coordenador de políticas para a população negra e indígena da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania, Antonio Carlos Arruda da Silva, comprometeu-se a difundir a campanha nas instalações da secretaria e nas unidades do Centro Integral de Cidadania (CIC).
“Essa cartilha é fundamental para mostrar aos adultos como evitar que as futuras gerações tenham preconceito, como se a humanidade não bastasse para igualar todos nós”, disse.
A atuação da Secretaria de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi apresentada pela titular do organismo, Rosana Aparecida da Silva, que falou sobre as dificuldades do trabalhador negro de ascender no emprego e as desigualdades salarias que punem, na parte mais baixa da pirâmide salarial, as mulheres negras, que muitas vezes são chefes de família.
Rosana também lamentou que não tenha sido implementada a Lei federal 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, nas escolas públicas e particulares.
A mesma crítica foi ratificada por Francelino Neto, coordenador do SOS Racismo da Assembleia Legislativa. Ele também cobrou o apoio ao sistema de cotas para a educação, fundamental para uma sociedade mais igualitária. “Se somos 51% da população brasileira, por que não somos 51% dos empresários do Brasil”, questionou.
Ele também abordou a questão do bullying, que tem sido discutida com frequência. “Nós, negros, já sofremos isso há muito tempo. Mas não se chamava bullying, era racismo”, observou.
Para Tatiana Belons Vieira, coordenadora auxiliar do Núcleo de Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, o mito da democracia racial no Brasil é mais um elemento do plano ideológico do que uma realidade. Discutir a própria história ” um dos objetivos da Lei 10.639 ” e lutar pela inclusão ” uma das metas do sistema de cotas ” é fundamental para que a sociedade encare o combate ao racismo como uma necessidade.
“E a escola, que deve ser o lugar onde aprendemos a viver em uma sociedade multicultural, também não está isenta da discriminação, que acontece tanto entre alunos como entre professores”, ela observou.
Dez maneiras de contribuir para uma infância sem racismo:
1.
Eduque as crianças para o respeito à diferença. Ela está nos tipos de brinquedos, nas línguas faladas, nos vários costumes entre os amigos e pessoas de diferentes culturas, raças e etnias. As diferenças enriquecem nosso conhecimento.
2.
Textos, histórias, olhares, piadas e expressões podem ser estigmatizantes com outras crianças, culturas e tradições. Indigne-se e esteja alerta se isso acontecer ” contextualize e sensibilize!
3.
Não classifique o outro pela cor da pele; o essencial você ainda não viu. Lembre-se: racismo é crime.
4.
Se seu filho ou filha foi discriminado, abrace-o, apoie-o. Mostre-lhe que a diferença entre as pessoas é legal e que cada um pode usufruir de seus direitos igualmente. Toda criança tem o direito de crescer sem ser discriminada.
5.
Não deixe de denunciar. Em todos os casos de discriminação, você deve buscar defesa no conselho tutelar, nas ouvidorias dos serviços públicos, na OAB e nas delegacias de proteção à infância e adolescência. A discriminação é uma violação de direitos.
6.
Proporcione e estimule a convivência de crianças de diferentes raças e etnias nas brincadeiras, nas salas de aula, em casa ou em qualquer outro lugar.
7.
Valorize e incentive o comportamento respeitoso e sem preconceito em relação à diversidade étnico-racial.
8.
Muitas empresas estão revendo sua política de seleção e de pessoal com base na multiculturalidade e na igualdade racial. Procure saber se o local onde você trabalha participa também dessa agenda. Se não, fale disso com seus colegas e supervisores.
9.
Órgãos públicos de saúde e de assistência social estão trabalhando com rotinas de atendimento sem discriminação para famílias indígenas e negras. Você pode cobrar essa postura dos serviços de saúde e sociais da sua cidade. Valorize as iniciativas nesse sentido.
10.
As escolas são grandes espaços de aprendizagem. Em muitas, as crianças e os adolescentes estão aprendendo sobre a história e a cultura dos povos indígenas e da população negra; e como enfrentar o racismo. Ajude a escola de seus filhos a também adotar essa postura.
por: Assembléia Permanente