Crise hídrica em SP vai afetar 0,8% do PIB brasileiro em 2015

A crise hídrica em São Paulo não está só criando os transtornos domésticos do dia a dia. Economicamente, São Paulo também deve ter prejuízos mesmo que a situação do abastecimento não se agrave. “Dada a representatividade de São Paulo na composição do PIB nacional, já é possível estimar uma queda na ordem de 0,8% na economia”, prevê o professor de Economia do Insper, Otto Nogami. “Se o governo não começar a agir agora, podemos esperar que o crescimento encolha ainda mais”, completa.

Para se ter uma ideia, a seca que atingiu os Estados Unidos no verão de 2012 – a mais severa e mais longa dos últimos 25 anos – causou uma recessão de 0,2 ponto do crescimento da economia americana no segundo trimestre daquele ano.

Segundo Nogami, com a queda do PIB há um impacto direto na taxa de juros, impedindo que os preços caiam e dando início, assim, a uma reação em cadeia, que atinge desde o empresariado até o consumidor final.

“Preços altos alimentam a inflação, que pode chegar a ultrapassar os atuais 6,5%. A inflação alta desemboca na taxa de câmbio afetando a produção e, consequentemente, afetando a oferta no mercado interno. E importar produtos para abastecer o país com uma alta taxa de câmbio, inevitavelmente, vai impactar no poder de compra do consumidor”, complementa.

Segundo a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o setor já está demitindo por conta do problema. A situação só não é pior porque a indústria não está trabalhando com capacidade plena, o que reduz o impacto da escassez de água na produção. “Se a indústria estivesse trabalhando em plena capacidade, teríamos problemas muito maiores”, afirma Nelson Pereira dos Reis, diretor titular do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp

As safras agrícolas também já apresentam resultados alarmantes. Uma reportagem do Wall Street Journal relata que as colheitas de café e cana de açúcar podem ser drasticamente afetadas, fazendo com que a estiagem tenha outro impacto negativo – o na balança comercial (relação entre importação e exportação de bens e serviços entre países).

“A medida que o preço de exportação estiver mais atrativo que o do mercado doméstico, a tendência é que os produtores direcionem ainda mais sua produção para o mercado externo, refletindo em aumentos de preços no mercado interno”, observa Nogami.

“Metaforicamente, a situação da economia do país, atualmente, é a seguinte: estávamos em uma estrada andando de carro, o pneu furou. A parada – a recessão técnica – já era inevitável, pois alguns parâmetros macroeconômicos têm de ser revistos. Esta seca que assola o país é como se caísse uma tempestade na hora em que tivemos que parar para trocar o pneu”, explica o professor.

Se a seca persistir, Nogami alerta, ainda, que os estados podem ter de recorrer ao racionamento de energia, uma vez que não haverá água suficiente para alimentar as usinas hidrelétricas que fornecem a maior parte da eletricidade do país.

“O potencial de produção das termelétricas – setor que teve grande investimento no Governo Dilma – também está chegando no seu limite, o que, em um cenário extremo de falta de água, torna o racionamento inevitável”, acrescenta o professor de economia.

A crise traz à tona um problema estrutural: nenhuma cidade brasileira está pronta para lidar com a escassez de água. “As políticas em matéria de gestão dos recursos hídricos no Brasil são insustentáveis”, afirmou Marcos Heil Costa, cientista climático da Universidade Federal de Viçosa, à NASA. “É uma combinação de falta de preparação para os baixos níveis de chuva e a falta de educação ambiental da população. A maioria das pessoas continuam a usar a água como se estivéssemos em um ano normal”, finalizou.

Fonte: Yahoo Notícias

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