CRIME RACIAL: Pichação em Emei pode ser reação a projeto pedagógico

Para a diretora do colégio, a ação ocorrida na madrugada de domingo é uma `reação` a projeto de igualdade desenvolvido pela escola no bairro do Limão. Ações integradas com pais e alunos estão sendo planejadas pela unidade escolar.

Por Redação LD (CF)

Na madrugada do sábado para o domingo (16) passado, o muro da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Guia Lopes, no bairro do Limão, zona norte de São Paulo, apareceu pichado com a frase “vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas”. A suástica nazista substitui as aspas e não deixa dúvidas sobre o caráter da inscrição feita nas cores vermelho e preto, como a bandeira nazista.

A diretora da Emei, Cibele Racy, disse que a pichação seria uma reação às ações afirmativas pela igualdade racial desenvolvidas desde o início do ano entre os alunos.

A escola infantil tem 430 alunos, com faixa etária entre 4 e 6 anos, divididos em classes da educação infantil 1 e 2 (pré-escola). Durante este ano, as questões raciais têm sido discutidas com as crianças, como parte do projeto pedagógico. A festa junina, por exemplo, teve motivos afro-brasileiros.

“Foi um sucesso total. Trouxemos comidas e aspectos culturais da África. Tenho vários depoimentos de pais mostrando toda a aceitação”, diz Cibele.

Segundo a diretora, apesar de bem recebido, o projeto pode ter despertado reações negativas. “Essa pichação teve um endereço certo. Não foi algo aleatório. Mexemos em uma ferida muito profunda e eu estava até preparada para alguma reação, mas não dessa maneira.”

A diretora da Emei afirma que, em sete anos na unidade, nunca havia visto uma pichação nos muros da escola. Na terça-feira (18), Cibele registrou um boletim de ocorrência na delegacia policial e programa outras atividades.

A exemplo de anos anteriores, a Emei realiza uma passeata em via pública em novembro, mês da Consciência Negra. Este ano, o tema da igualdade racial ganha ênfase na manifestação. Os pais de alunos serão convidados para um bate-papo, no dia 10 de novembro, com integrantes de movimentos pela diversidade racial.

A escola também convidará os alunos para remover do muro a frase e o símbolo de intolerância, numa atividade lúdica.

“Vamos dizer que sujaram a escola e que precisamos dar um jeito naquilo. As crianças estarão livres para pintar o que desejarem. É uma forma de eliminar completamente essa marca lamentável. O que merece publicidade é o que tem sido feito de positivo aqui na escola.”

Uma das professoras da Emei, Ana Carolina Bonjardim Filizzola, comentou alguns dos projetos que a escola vem desenvolvendo para implementar as diretrizes curriculares nacionais à educação das relações étnico-raciais. “Na semana passada as crianças puderam vivenciar uma oficina de tambor e música com um grupo de reggae rasta”, cita a educadora, que vem trabalhando há pelo menos cinco anos estudos sobre a África nas aulas do ensino infantil e também para os adultos, no curso de pedagogia que ministrou até o ano passado na UMC (Universidade Mogi das Cruzes).

Estudiosa da cultura africana e participante do grupo feminino de dança e percussão Ilu Obá De Min, Ana disse ainda que a ideia de oferecer desde cedo atividades coletivas com música, fotografia, corpo e arte é proporcionar uma formação que “descarte o preconceito e fomente relações de solidariedade, respeito e amizade”.

Um inquérito deve ser instaurado pela Polícia Civil para investigar o caso. Em São Paulo, manifestações racistas são apuradas pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

 

 

 

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