Consciência negra? Sim, somos todos iguais

Estamos na Semana da Consciência Negra, e a sua criação suscita a pergunta: por que termos o Dia da Consciência Negra? Uma das razões talvez seja o fato de mais de dois séculos após ser decretado o fim da escravidão ainda nos falte o tal atributo que permite à espécie humana os níveis mais altos de integração.

Por Marco Aurélio

Do ponto de vista filosófico, conforme definição do dicionário, consciência é o atributo altamente desenvolvido na espécie humana, pelo qual o homem toma em relação ao mundo aquela distância em que se cria a possibilidade de níveis mais altos de integração. Outra definição para consciência é que é a faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados.

Estamos na Semana da Consciência Negra, e a sua criação suscita a pergunta: por que termos o Dia da Consciência Negra? Uma das razões talvez seja o fato de mais de dois séculos após ser decretado o fim da escravidão ainda nos falte o tal atributo que permite à espécie humana os níveis mais altos de integração.

Na última década, o Brasil avançou e muito na redução das desigualdades sociais. Todavia, a questão étnica está muito mais atrelada a valores morais – e nesse ponto a falta da tal consciência é patente – do que a programas econômicos ou outras medidas governamentais. O preconceito ainda é uma grande barreira a ser transposta.

Apesar de o Brasil ser um país miscigenado, as diferenças entre brancos e não brancos ficam bem acentuadas nas estatísticas. Dados do último Censo do IBGE, divulgados recentemente, apontam que os valores médios recebidos pelos brancos chegam a R$ 1.574, quase o dobro do que ganham os grupos negros (R$ 834) ou indígenas (R$ 735).

O levantamento evidencia outra desigualdade entre as raças no Brasil: a taxa de analfabetismo. Exemplos são os municípios pequenos, com menos de 5 mil habitantes, onde a taxa de analfabetismo entre brancos é de 9,8%, entre os pretos ela alcança 27,1% e entre os pardos, 20%.

Os números traduzem a persistência de uma sociedade calcada em preconceito, com visão estreita e que, mesquinha, ainda adormece sobre os resquícios da escravidão.

Trabalhar pelo fim da exclusão social dos povos afrodescendentes não deve ser apenas a bandeira de um governo ou de alguns setores isolados, mas sim deve ser incorporado como um ideal de justiça para com todos aqueles que foram e são massacrados por um sistema perverso, que distingue homens por sua cor.

É preciso trabalhar para romper em definitivo os paradigmas que afastam negros e afrodescendentes dos principais centros de poder e de decisão. Não se pode falar em sociedade inclusiva e igualitária quando milhares de pessoas vivem à margem dos direitos civis e ainda são oprimidos e amarrados aos grilhões do preconceito.

Para que acabemos com essa tácita escravidão do século XXI devemos criar condições de igualdade, fortalecer o respeito às diferenças e perceber que o valor da pessoa se dá não por sua cor ou classe social, mas por sua dignidade e capacidade de lutar por um mundo melhor. Nesse ideal temos que ser todos iguais.

*Marco Aurélio é deputado estadual pelo ártido dos Trabalhadores em São Paulo

 

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