Entre as causas de afastamento por problema de saúde na rede pública, um dos principais é o estresse gerado pelas condições de trabalho
Por Imprensa Alesp
Quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Pesquisa realizada pela Apeoesp – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo – identifica que, dentre os problemas de saúde apresentados pelos professores, impera o estresse, causado principalmente pela precariedade das condições de trabalho a que estão submetidos os profissionais na rede pública estadual. Entre os motivos para o estresse estão o alto número de alunos por sala, a jornada estafante, o bullying contra o professor, a insegurança no emprego devido à alta rotatividade – professores em caráter temporário sofrem muito com isso, e existe também a violência e a falta de apoio dos superiores ao professor.
A presidenta da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, questiona o governo estadual sobre as ações que ele desenvolve para solucionar o problema do estresse sofrido pelos professores da rede estadual. “O governo diz que está implantando um programa de saúde para os professores. Não sei que programa é este, não conheço suas diretrizes e o sindicato não foi consultado. O governo deveria atacar estruturalmente o problema. Diminuir o número de alunos por sala, valorizar o professor para ele não ter de recorrer à outra rede de ensino para se manter e acabar com a precariedade na contratação”, sustenta. “Professor temporário é para cobrir licença, e não para ser utilizado como permanente. A saída para este quadro é atacar estruturalmente o problema, e o governo também tem que dar apoio aos professores adoecidos e melhorar o atendimento no Ianspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual)”, alerta.
O levantamento recente divulgado pela Apeoesp aponta que 17% dos professores da rede estadual não estão exercendo suas atividades por afastamento motivado por problemas de saúde, sendo a principal causa o estresse. Na pesquisa Saúde dos Professores e Qualidade do Ensino, publicada no final de 2011 pela Apeoesp, 48,5% dos professores entrevistados disseram já ter sido diagnosticados com estresse, e 26,6%, com depressão. Dentre o total de entrevistados, 81,6% das pessoas se queixaram de cansaço; 67,8%, de nervosismo; 62,2%, de ansiedade, e metade declarou sofrer permanentemente de angústia.
Professores denunciam
Este é o caso do professor de Educação Artística Rodnei A.B, que lecionou durante mais de vinte anos – os últimos cinco na rede estadual de São Paulo – e teve que se afastar devido ao estresse da rotina na sala de aula, a falta de disciplina dos alunos e a violência. “Você muitas vezes passa mais tempo da aula tentando controlar a sua turma do que dando sua aula propriamente dita”, diz o professor.
Rodnei afirmou que quase chegou a agredir um estudante por conta do estresse. “O que aconteceu foi que minha auto estima caiu demais, fiquei depressivo, comecei a achar que não servia para nada. Chega uma hora que você começa a chorar, fica agressivo e perde a vontade de dar aulas. Depois, comecei a revidar com palavras fortes até o momento em que quase cheguei à agressão. Ali, saí de licença e fui procurar um profissional que constatou um grau de estresse muito alto. Eu já estava depressivo”, conta.
Para o professor, questões estruturais da rede estadual de ensino colaboraram para o seu afastamento. “Você tem que lidar com muitos alunos em sala de aula, são quase 50, além de um volume de trabalho muito grande. Não é só o que se faz na sala, tem que preparar a aula, corrigir trabalhos, provas… Na verdade, o que acontece é que você acaba tendo um volume de trabalho muito grande, tem de lidar com muitos alunos, e não tem respaldo, as escolas não têm estrutura, não se pode dar uma aula mais dinâmica, mais moderna, mais sedutora. Então, a responsabilidade é jogada para cima do professor” , aponta.
Rodnei hoje está de volta à rede estadual de ensino na condição de professor readaptado, uma categoria profissional dentro da rede pública na qual o professor que não pode mais dar aulas por questão de saúde é realocado em funções administrativas. Ele se diz se sentir melhor nessa condição, mas não esconde a tristeza em não poder mais exercer a profissão que escolheu. “Hoje me sinto mais confortável porque não tenho contato direto com o aluno. Mas feliz a gente nunca fica. Afinal, me preparei para lecionar e escolhi ser um professor”.
*com informações do site Spressosp.com.br