A audiência de hoje é a primeira de uma série que a Comissão Estadual deve realizar no mês.
Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, presidida pelo deputado do PT Adriano Diogo, realizou nesta segunda-feira (18/2) audiência pública com a finalidade de investigar as possíveis relações entre os serviços de repressão e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) no período da ditadura militar.
Os dados revelados foram obtidos a partir de uma série de seis livros com o registro de pessoas que entravam e saíam da ala de delegados e diretores do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) entre março de 1971 e janeiro de 1979. Esse registro tem muitas lacunas, não inclui presos, mas revela dados importantes.
De acordo com o coordenador da assessoria da Comissão da Verdade, Ivan Seixas, os documentos mostram que um dos visitantes mais assíduos era Geraldo Resende de Mattos, identificado pelos funcionários que faziam as anotações nos chamados livros de portaria como representante da Fiesp.
Mattos realizava visitas praticamente semanais ao Dops. Seixas afirma que durante o período apurado foram mais de 300 registros. Seu nome aparece em todos os seis livros disponibilizados pelo Arquivo Público.
Em muitas ocasiões há o registro da entrada de Mattos, mas não a sua saída, o que comprova que teria saído depois das 22h, quando o funcionário responsável por fazer os registros á havia ido embora.
A Comissão procurou a Fiesp para entender a ligação da entidade com a ditadura militar, mas a Fiesp se limitou a informar que Mattos nunca fez parte de seu quadro de funcionários. “A sociedade tem o direito de ter essa informação”, afirmou Seixas, que duvida que, em plena ditadura, alguém mentisse sobre seu cargo, já que os registros nesses livros são fies, de acordo com a apuração.
Consulado Americano
A Comissão Estadual, segundo seu presidente, Adriano Diogo, também vai investigar as relações entre o Consulado dos EUA em São Paulo e o Dops. “Queremos saber por qual razão o senhor Claris Halliwell, que aparece identificado nos livros como cônsul americano, ia tanto ao Dops”, diz o deputado.
Pelo levantamento divulgado pelo Estado, Halliwell frequentou o Dops durante mais de três anos. Em 1971, a média de suas visitas chegou a duas por mês – o que era incomum para representantes diplomáticos. O presidente da comissão, que pediu a ajuda de um colaborador nos Estados Unidos para investigar o passado de Halliwell, não descarta a hipótese de que ele tenha assessorado os serviços de repressão.
“Queremos esclarecer os fatos, tendo em vista que a CIA, o serviço secreto americano, assessorou regimes autoritários na América Latina”, diz ele.
A audiência de hoje é a primeira de uma série que a Comissão Estadual deve realizar no mês.