O assassinato bárbaro do jovem congolês, Moïse Kabamgabe, será denunciado pela Coalizão Negra por Direitos ao Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira, dia 2.
Douglas Belchior, um dos coordenadores da coalizão, defende a repercussão mundial contra a xenofobia, o racismo e a desumanização. A articulação reúne mais de 200 entidades, coletivos e organizações do movimento negro.
A intenção da denúncia é pressionar as autoridades por respostas e a punição dos responsáveis pelo crime brutal contra o jovem, que chegou ao Brasil com a mãe e irmãos, em 2014. Na semana passada, ele foi espancado até a morte na Barra da Tijuca (RJ) após cobrar o pagamento do serviço realizado em um quiosque.
“Ou a ONU se posiciona, ou será conivente e cúmplice. O mundo precisa saber que o Brasil é um país racista onde, em pleno 2022, é possível que se amarre pelas mãos e pés uma pessoa negra, espanque e mate a pauladas”, disse Belchior à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.
Indícios de milícia
Em entrevista ao Jornal da Rádio PT, Belchior ressalta que há indícios de que milicianos tenham envolvimento com o assassinato do jovem congolês.
“É a mesma milícia, no contexto amplo e geral, que assassinou Marielle Franco, e que hoje ocupa o poder do Planalto Central, é gestor da política e sobretudo impulsionador de uma lógica violenta e da própria tortura e práticas violentas por parte do Estado”, ressalta.
Ele destaca ainda que o Brasil tem “um presidente com explícitas relações com a milícia, que tem como base fundamental as Forças Armadas como segurança oficial do Estado e que seu elemento de discurso principal de mobilização da sua base é a violência a partir do uso de armas. Não é possível ignorar esse entrelaçamento”.
“O Estado brasileiro é o maior violador de direitos humanos do Brasil. É o primeiro violador e o mais importante violador. Ele emana uma mensagem de dinâmica possível para a sociedade, de autorização para determinados posicionamentos e dinâmica social”, explica.
Ouça a entrevista de Belchior à Rádio PT, na íntegra, abaixo:
Requintes de crueldade
Em um governo que dissemina o ódio por meio de Bolsonaro, Belchior lamenta que a prática de requintes de crueldade representa o Brasil. O assassinato de Möise foi, para ele, um crime que ultrapassa o desrespeito, que alimenta a dinâmica análoga à escravidão, a usurpação e a super exploração do trabalho, além de ter “elemento xenofóbico, racista e absolutamente determinante com desumanização total, absoluta e a crueldade”.
A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal também foi acionada pela bancada do Partido dos Trabalhadores (PT), que pediu investigação rigorosa sobre a barbaridade cometida contra o congolês.
Manifestações neste sábado
O movimento negro promoverá protestos antirracista e antixenofobia no Rio de Janeiro e em São Paulo neste sábado, 5.
No Rio de Janeiro, a manifestação ocorrerá a partir das 10h, em frente ao quiosque onde aconteceu o assassinato, no posto 8 da praia da Barra da Tijuca.
Em São Paulo, o ato acontecerá também no mesmo horário, às 10h, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista.
Da Redação, com informações da Folha de S. Paulo