Charles Gentil: Uma verdade inconveniente

Foto: divulgação

O ato Fora Bolsonaro de 19 de Junho foi de uma magnitude ainda maior que o ato anterior(de 29 de Maio), que por sua vez, foi mais potente que o 1o de Maio na Sé e este mais poderoso, que o ato de 31 de Março contra a ditadura militar, que na ocasião, aliás, Bolsonaro, em atitude indigna quis comemorar, em homenagem às torturas e execuções sumarias patrocinadas pelo terrorismo de Estado instituído com o golpe militar, de 1964.

De 31 de Março de 2021 a 19 de Junho, portanto, em pouco mais de 2 meses, a participação nas ruas tem aumentado em uma ascensão, até aqui, respeitável. Neste sentido, é importante dizer que, por um lado, o triunfo sobre o dogma do FIQUE EM CASA e, por outro lado, a adoção dos protocolos de segurança sanitária como: uso de máscaras e álcool gel, constituem-se em fatores que impulsionam novas adesões aos atos, bem como desautorizam qualquer tentativa de que os manifestantes sejam confundidos com os negacionistas da ciência, que pura e simplesmente se põe em risco, bem como atentam contra a segurança alheia, ao rejeitarem as recomendações dos referidos protocolos.

Daí porque, as manifestações Fora Bolsonaro tendem a crescer a partir de três eixos:

  1. Demolição permanente do dogma isolacionista do FIQUE EM CASA
  2. Realização de atos políticos de rua de grande porte com adoção dos protocolos de segurança sanitária
  3. Inclusive e sobretudo, também em função da desagregação econômica; este desarranjo fundamental manifesto pelo desemprego colossal, pela gigantesca miséria, pela ampla precarização do trabalho e alta dos preços a nível alarmantes produzindo fome e desespero crescente.

O terceiro eixo, que é a variante econômica impulsiona o segundo eixo, que é a expressão e tensão política daí advinda, que por sua vez, dá impulso ao primeiro eixo, que é a mudança de hábito requisitada, àqueles que mais resistentes, ainda se mantém isolados e distantes das ruas. Assim, como se observa, os eixos se interpenetram e se estruturam enquanto um ciclo de mútua dependência, em que um evento se liga ao outro, produzindo, no conjunto, uma mudança que, aos poucos, promove, no Brasil, a ruptura com a imobilidade que, no geral, predominava desde o início da pandemia.

Por isso, hoje, é possível perceber com clareza, que o ato de 19 de Junho, foi um ato maior do que, todos os que o precederam. E que, a cada ato feito, este é sempre maior do que o imediatamente anterior.

No entanto, faço uma pergunta inconveniente: por quanto tempo as manifestações poderão manter este ritmo de crescimento?

A resposta a uma pergunta inconveniente é sempre uma verdade inconveniente. E não será verdade que o Fora Bolsonaro por si só, não poderá sustentar o permanente crescimento das manifestações?

Mas, se é assim, então, o problema de fundo não é apenas a saída de Bolsonaro? Exato. E, aqui, é preciso derrubar este mito. O mito de que a derrubada de Bolsonaro é um valor absoluto.

Portanto, o permanente fluxo ou refluxo das manifestações irá depender de uma verdade inconveniente: Quem deve suceder o genocida?

E a esta pergunta inconveniente uma verdade inconveniente como resposta: Lula. E é preciso dizer e deixar claro que: é esta a resposta das ruas; é este o desejo popular; é esta a expectativa, a esperança, o sonho mais autêntico de um povo cansado de ser maltratado e exterminado, sob o governo detestável de Bolsonaro.

Com isso, não é suficiente mais arvorar sozinho o Fora Bolsonaro. A esta palavra de ordem é preciso ligar uma outra palavra de ordem para assegurar o crescimento permanente das manifestações, vinculando a presença nas ruas com o desejo incontido, e que já começa a eclodir espontaneamente, nas ruas.

Ao Fora Bolsonaro deve-se adicionar o Entra Lula. E não apenas para estar em sintonia com o que a população já começa espontaneamente a expressar ou responde, nas ruas, por estímulo do militante. Mas, também para já iniciar o trabalho de convencimento e, portanto, conquista de mentes e corações daqueles que, ainda admitem apenas a primeira palavra de ordem Fora Bolsonaro e não compreendem, não admitem ou estão indiferentes a segunda palavra de ordem Entra Lula.

Não adotar esta verdade inconveniente Entra Lula consiste em abrir a perspectiva para que, no vácuo político que se forma – com a adoção isolada desta palavra de ordem Fora Bolsonaro – , não só incida destaque imerecido a pretendentes afoitos a substituir Lula, mas também não se blinda suficientemente Lula, de uma eventual tentativa de sequestrar-lhe, de novo, seus direitos políticos.

Não adotar o necessário complemento a Fora Bolsonaro, equivale a converter esta palavra de ordem em dogma, ou seja, convertê-la em FORA BOLSONARO. E, com isso, equivale ao dogma do FIQUE EM CASA , daí porque também precisa ser demolido este mito.

Aquela ideia fixa. Aquela fé abrasadora em retirar Bolsonaro cai no vazio, torna-se uma palavra de ordem infértil ou cínica, se não estiver, necessariamente, vinculada a sua solução política.

Daí porque, o FORA BOLSONARO, hoje, serve de tábua da salvação que vai de ex-bolsonaristas fanáticos a apoiadores cínicos à lá Dória ou oportunistas pretensamente corajosos.

Por isso, a palavra de ordem a ser atualizada:

Fora Bolsonaro
Entra Lula

Não irá permitir só trabalhar o convencimento completo do público e o aumento da adesão popular às manifestações de rua, mas também engajar – e em tempo hábil – cada um e cada uma – , para a defesa da solução política do problema representado por Bolsonaro enquanto ele estiver dentro e depois que estiver Fora do governo.

Sendo assim, uma verdade inconveniente.

Lula.

Sim. E é disto que se trata: defesa de uma solução política explícita contra Bolsonaro, convencimento de mentes e corações e novas adesões permanentes às manifestações de rua.

E, por isso, faço uma pergunta inconveniente: para isto não se deve defender uma verdade inconveniente?

E havendo, como de fato há, uma verdade inconveniente não é necessário também saber: a quem, ela não convêm?

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro. Integrante do Grupo Democracia e Luta. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre.

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