Charles Gentil: O fim do Evangelho do FIQUE EM CASA – para um debate mais que útil, necessário

Amanda Perobelli

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Com este escrito vermelho, este espectro rubro de indignação integral, permito-me combater o sagrado Evangelho do FIQUE EM CASA; demolir crenças e verdades pré-estabelecidas é o ofício que exerço nos porões de uma sociedade que expurgou e ultrajou a verdade científica.

Contra este pensamento único que pretende ser a verdade e a palavra final do que deve ser feito, me insurjo; e se me rebelo contra esta fé, contra esta crença é porque o dogma autoritário do FIQUE EM CASA, é no fundo, a ideia cumplice e, portanto, a outra face, a outra versão, do extermínio premeditado e desta declaração de guerra contra a sociedade civil, e que se traduz nesta noção irresponsável dos negacionistas, que é o seu jeito peculiar de também rejeitar a ciência.

Portanto, o Evangelho do FIQUE EM CASA, é no íntimo a mesma ideia de negação da ciência; ambas cooperam, cada uma a seu modo, para aumentar as estatísticas de óbitos pela Covid-19, porque no ponto de interseção entre elas, o conceito que opera é a mesma noção anticientífica de: imutabilidade, ou seja, de que não é possível uma mudança no estado de coisas.

Enquanto, por um lado, os negacionista negam a ciência e promovem aglomerações sem os devidos protocolos de segurança sanitária ( por exemplo, distanciamento social, uso de máscaras, luvas e álcool gel) porque não crêem na ciência e, portanto, não se preservam, pois, entendem que tais zelos não alteram os desígnios imutáveis que Deus traçou para cada um.

Por outro lado, os isolacionistas do FIQUE EM CASA, evitam o contato social porque também e à sua maneira, não crêem na ciência e, por isso, entendem que ainda que haja a adoção dos protocolos de segurança sanitária, tais medidas não alteram o risco real ou potencial da contaminação pelo novo coronavírus ou de uma de suas novas cepas, de modo que, a ideia fixa da contaminação é uma fé ardente, uma ideia imutável e que não pode ser alterada pelo simples fato, de se dispor de itens de segurança.

Ambos também são radicais: os negacionistas porque interagem em plena multidão sem o uso de máscaras, por exemplo. Os isolacionistas porque se abstém de aglomerações e os mais xiitas de qualquer contato público, mesmo se pudessem dispor de máscaras.

Enquanto o Evangelho dos negacionistas proclama o convívio na multidão, o Evangelho anticientífico dos isolacionistas proclama a retirada da sociedade, em distintos graus.

E aqui faço uma denúncia: por um lado, o Evangelho dos negacionistas aumentam os óbitos pela Covid-19, porque cada fiel torna-se vetor de difusão do vírus, não porque necessariamente esteja em multidão, mas porque esteja em aglomerações ou não, também busca se engajar – até com certo excesso – em atos públicos e se abstém de usar, entre outros apetrechos de segurança, as máscaras.

O Evangelho dos isolacionistas, por outro lado, não pecam pelo excesso, mas pela ausência dele.E esta ausência em atos públicos, que é a apatia da participação, o desengajamento visceral do qual estão contaminados, o ensimesmamento na vida privada, este retiro deliberado e radical da vida pública também tem sua cota de participação no aumento da estatística dos óbitos pela Covid-19, porque o distanciamento social tal como praticam é cúmplice e co-responsável pela ausência de pressão social real capaz de impulsionar a mudança da ordem das coisas.

No entanto, diante do cenário que está colocado em que somos governados por dirigentes descomprometidos com os anseios populares, que governam de costas para o povo, distantes das angústias e necessidades que atormentam a população.

E mais: mais de 14 milhões de desempregados.Os preços dos alimentos em curva ascendente impondo severas restrições alimentares aos mais carentes. Mais de 350 milhões de vidas consumidas pela Covid-19.

Sem vacina.Sem emprego. Sem renda.Sem teto.Sem perspectiva e sem governo, o Brasil se converte, de novo, em um país com alto índice de desigualdade social, ao mesmo tempo em que, no Brasil e no mundo, os multimilionários aumentam sua fortuna, na exata medida em que as sociedades, no conjunto, empobrecem em ritmo acelerado.

E esta contradição é a contradição de base, de fundo do sistema capitalista, já demonstrada cientificamente nos clássicos do marxismo; ou seja, o capitalismo, cada vez mais, amplia a miséria na base social proletarizando e, portanto, empobrecendo diversas camadas da sociedade, enquanto um núcleo cada vez menor de endinheirados, se constitui no Grupo de privilegiados e detentores do poder. Em síntese: a polarização entre o capital e o trabalho se desenvolve, no bojo das contradições e crises que o capitalismo encerra.

Neste contexto, é preciso ficar claro que: para a classe trabalhadora, não há outra alternativa que não seja a efetiva construção da unidade política para que, no caso específico do Brasil, seja possível superar este governo de recorte neoliberal-fascista a fim de que nosso país tenha a esperança resgatada.

Neste momento, a celebração do 1o de Maio apesar das limitações impostas pela pandemia que assola o mundo e na qual, o Brasil tornou-se o epicentro da crise tem a possibilidade concreta de comprovar que a fé e a febre do dogma do FIQUE EM CASA deve ser superada; devemos, no entanto, permanecer vigilantes para não acender-se polêmicas infrutíferas ou que, ainda que, involuntariamente, possa comprometer o caminho de sedimentar-se nas ruas, a unidade da luta para o real enfrentamento contra as forças conservadoras.

Ao mesmo tempo em que, já se começa a sentir a urgência de uma manifestação em massa nas ruas, uma vez que, as condições objetivas estão amadurecendo para favorecer esta possibilidade; é necessário, porém, observar a disposição interna, a vontade, ou seja, o elemento subjetivo, que ainda, de certa forma, não acompanha as condições materiais já bastante precarizadas, mas ainda insuficientes para impulsionar amplas adesões da população para atos contra o governo tirânico de Bolsonaro. A causa: o temor, uma espécie de fetiche, o pensamento mágico extremista, de que a contaminação pela Covid-19, se dará a todo custo, ainda que se faça o correto uso dos protocolos científicos de segurança sanitária. Como se observa “um filho teu não foge” ao fanatismo enrustido.

De qualquer forma, não só o dogma do FIQUE EM CASA; mas, as outras entidades que compõe a Trindade do neoliberalismo: A NEGAÇÃO DA CIÊNCIA, O ÓDIO AOS ADVERSÁRIOS E O FIQUE EM CASA esta palavra de ordem, que se tornou célebre, uma verdade inquestionável, um pensamento único e sem fundamento, já começa – como todo ídolo com pés de barro – , a ruir diante da realidade.

Já começa a se estabelecer uma leitura da vida mais compatível com sua preservação. Já começa, aliás, a surgir um novo consenso: de que é necessário realizar ações de rua, ainda que em pequenos grupos, para fortalecer a luta contra o governo genocida de Bolsonaro, que insiste em nos exterminar por meio da “guerra biológica”, que declarou contra o povo brasileiro.

Neste sentido, o 1o de Maio é, sem dúvida, uma experiência muito singular, pois, propiciará um novo impulso, para agitar os ânimos e contribuir para que uma ampla vontade de mudança, se constitua em sintonia com a ampla precarização das condições materiais e, com isso, se converta em pólo transformador; daquela mudança inevitável para a reconstrução e transformação de que um outro Brasil, de fato, é necessário.

O ato do 1o de Maio será não só a expressão de que para defender a vida já não é mais possível ficar em casa, mas também será a expressão de que a unidade da esquerda se faz necessária para erguer o povo à luta. Uma vez que, este Projeto de Brasil de Bolsonaro precisa chegar ao fim. É necessário dar um ponto final a este Brasil de Bolsonaro.

Desta forma, a ideia intransigente da NEGAÇÃO DA CIÊNCIA, quanto do ÓDIO AOS ADVERSÁRIOS e o FIQUE EM CASA serão superadas pela necessidade de que surja uma alternativa que privilegie a vida e assegure o bem-estar da população.

Neste sentido, com ações regionais nos territórios, o 1o de Maio, no conjunto, também contará com ação mais abrangente na Av. Paulista, e, com isso, não só marcará o fim das verdades inquestionáveis, mas também lançará a semente da esperança com a mensagem revolucionária, de que um outro Brasil necessário renascerá das cinzas deixadas por este governo genocida.

Abraço fraterno

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro. Integrante do Democracia e Luta Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre.

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