Charles Gentil: Carta Aberta Aos Povos Nativos

Foto: Victor Moriyama/ISA

Aos nativos de Pindora (hoje, Brasil) peço perdão pelos maus tratos, de ontem e de hoje.

Ontem, o colonizador português invadiu suas terras.

             Perdão

Por terem descoberto do branco europeu, tanta selvageria católica e, com isso, desnudado daqueles estrangeiros capitalistas, a farsa prepotente: de que eram civilizados.

Os designaram – os brancos fiéis – , por índios e por meio do escambo trocaram bugigangas por madeira, no uso lucrativo do trabalho dos nativos.

 Perdão.Pela exploração.

             Perdão

Os deuses – dito pagãos – de vocês, povos originários de Pindora, foram crucificados.

E o que chamavam de catecismo, na verdade, era a suave promoção do extermínio cultural, dos povos originários desta terra.

             Perdão

Pelo uso da espada, que ontem dizimou os nativos, cortando-lhes o vínculo sagrado com sua terra e o fio de ouro de sua vida guerreira.Perdão.Por este outro método de extermínio: a forma explícita, célere, implacável.

            Perdão

Pelas doenças que o dominador português infestou e vitimou parte dos povos originários.

             Perdão.

Pela guerra santa.Pelas mortes.Pelos estrupos.Pela vil violência.Pelo sangue vertido de cada nativo e nativa.Pelo vinho tinto da embriaguez dominadora.

              Perdão. 

Pelo uso imoderado da fé.Deste excesso transbordante de crença desenfreada e feroz. Em suma: perdão pelo fanatismo mercantil e cristão.

               Perdão

E hoje?.Perdão.Perdão pelo governo genocida de Bolsonaro; que tal qual o dominador português, declarou guerra, ao povo de Pindorama.

                  Perdão

Por Bolsonaro repetir como farsa a tragédia da história da colonização.Perdão por sermos governados por alguém incapaz de aprender com os erros do passado.

                   Perdão

Por Bolsonaro defender a tortura.Elogiar o estupro.Por descobrir a vergonha de seus preconceitos.

                   Perdão

Por Bolsonaro se vangloriar – e com humor – de sua lgbtfobia.De sua transfobia.E preferir a estrada cinza do poder tirânico, ao invés, das pontes coloridas da amizade e do amor livre.

                Perdão

Por Bolsonaro permitir-se ser machista – e como se ainda nisto habitasse – alguma áurea de sincera virtude.Ou algum mandamento divino pudesse sustentar esta subversão, ao bom senso mais elementar.

                     Perdão

Por Bolsonaro não compreender – e por má fé – que a mulher não suplica e nem espera, mas que exige: respeito.Que exige ser tratada com dignidade.Que exige seus direitos, porque ousa governar a si mesma.

                     Perdão

Pelo protesto autoritário de Bolsonaro, em querer fazer desexistir o povo preto.O povo pobre. Em querer redestruir Palmares, violando a memória imortal e invencível, daquele reduto de resistência preta.

                      Perdão

Pelo ímpeto ilógico e bárbaro de Bolsonaro, em querer sepultar o que não pode mais morrer: a alma de Zumbi, de Dandara; a alma dos verdadeiros mitos: os heróis da rebelião escrava.

Aos nativos de Pindorama

                  Perdão

Por Bolsonaro ser presidente.Pelas mais de 500.000 vidas que sucumbiram diante da Covid-19 e o fato de Bolsonaro ter convertido sua terra, em um
cemitério a céu aberto.

                    Perdão

Por Bolsonaro ser insensível à questão ambiental e ser inimigo dos povos originários, donos desta terra.

                     Perdão

Pelos acontecimentos recentes.Por policiais terem em Brasília, no dia 22 de Junho, lançado contra os povos de Pindorama: bombas de efeito moral, gás de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo; quando em reivindicação pacífica, os povos originários defendiam a continuidade da demarcação de terras.

                    Perdão

Pela cruzada das mineradoras contra os povos de Pindorama.
Pelo aval dado pelo governo de extrema-direita de Bolsonaro para a violência e assassinato dos povos originários.
Pela guerra novamente declarada.
Pelo extermínio de ontem e hoje. Peço perdão.

Peço perdão em nome do que há de verdadeiramente cristão e decente neste país.

Daqueles que discordam do descaminho deste governo.

Peço perdão em nome dos que se insurgem dia a dia contra todas as formas de extermínio: sejam elas silenciosas e disfarçadas ou eloquentes e explícitas.

Peço perdão e assumo junto com os povos originários de Pindorama, o compromisso de lutar ao lado de vocês, para a chegada de uma nova primavera, pois para saldar a dívida histórica com vocês:

Outro mundo é possível
Outro Brasil é necessário

E, por isso, vamos Reconstruir e Transformar o Brasil, ao libertar Pindorama, de Bolsonaro.

Aos povos originários

Deixo aqui

Um abraço fraterno

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro.Integrante do Democracia e Luta. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre.

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